Para a frente ou para trás - JANIO DE FREITAS
Geral

Para a frente ou para trás - JANIO DE FREITAS


FOLHA DE SP - 30/06

Prejudicar manifestações de interesse público seria manifestar-se também, mas em marcha a ré


Se as arruaças de marginais forem motivo para opor-se à continuação das manifestações pacíficas, como se começa a perceber, estará dada aos governos e suas polícias a solução mais fácil contra os protestos e reivindicações. É só incentivar baderneiros. Ou, ainda mais simples, não os reprimir.

Os ataques a bens públicos e a quebradeira são revoltantes. Mas fazem parte da movimentação de protesto em sociedades com presença grande de marginalidade e delinquência. No Brasil temos vários outros casos de oportunismo arruaceiro na violência de torcidas violentas, em festas de massa como a Virada Cultural paulistana e mais. Nem por isso se acabaram os eventos.

As manifestações provocadas pelas passagens de ônibus já trouxeram resultados muito além de sua motivação. A partir dos R$ 0,20 nas passagens, estamos discutindo questões institucionais complexas. Seja o que for que daí resulte, esses temas não terão recuo, deles só se irá adiante, mais cedo ou mais tarde.

É difícil controlar as arruaças. Mas prejudicar, por isso, manifestações de interesse público seria manifestar-se também, mas em marcha a ré.

A CORRERIA

Uma gloriosa exibição de cinismo coletivo --assim se define a repentina eficiência da Câmara e do Senado, demonstrada até na quantidade de horas de atividade parlamentar, além das aprovações de projetos já amarelados pelo tempo e pela perversão política.

As duas Casas do Congresso cumprem o seu dever de ouvir as ruas, dizem os dirigentes do Senado e da Câmara, com ares de pessoas ocupadas. Nos plenários, amplíssimas maiorias aprovam o que frearam ou recusaram, como no episódio inigualável dos ruralistas dando votos favoráveis ao projeto, que os levava à ira, contra o trabalho análogo à escravidão no campo.

Até quando trabalha, o atual conjunto de congressistas é a negação de um Congresso ao menos minimamente respeitável.

O BOM-SENSO

Quatro helicópteros, inúmeros carros e motos da PM, contingentes de repórteres e fotógrafos, todos acompanhando metro a metro a passeata de moradores da Rocinha à moradia de Sérgio Cabral, na praia do Leblon. Tudo preparado pela certeza de uma baderna daquelas.

A PM não deixou que a passeata se aproximasse do acampamento montado, e permitido, por um grupo da classe média diante do prédio de Cabral. Agora, na certa viria o choque. Outra frustração: a passeata apenas tomou o caminho de volta, sob a mesma vigilância. Se alguma coisa foi quebrada, nos dois percursos, é o pé de quem pisou em um dos buracos da avenida Niemeyer recém-recapeada.

A Rocinha perdeu a viagem, mas quem não estava na passeata perdeu muito mais. A mensagem levada a Cabral era uma demonstração prática, e fundamental, da distância entre as alturas políticas e a realidade social: "Não precisamos de teleférico, use esse dinheiro para o saneamento de que nós precisamos". O planejado pelos governos estadual e federal é assim: no alto o bondinho suspenso, embaixo os valões de esgoto aberto entre as casas.

Não houve a baderna, logo, ninguém se interessou pelo que merecia interesse.




- Pensar é Preciso - Janio De Freitas
FOLHA DE SP - 21/07 Democracia dá trabalho, e um deles é ponderar, em tempo, o sentido social e o limite de cada ação pública A coisa foi menos simples no seu começo e é menos simples, na continuação pelo país afora, do que se tem dito, com...

- Os Bandos Soltos - Janio De Freitas
FOLHA DE SP - 14/07 Eles têm o propósito de valer-se das manifestações para destruir e para lutar com a Polícia Militar Uma atitude conveniente, em muitos sentidos, a todas as secretarias de Segurança nesta fase de violências a meio de manifestações...

- Perigosa Perplexidade - Luiz Garcia
O GLOBO - 25/06 O Brasil vive obviamente uma crise social e política, como não se via há muito tempo ? se me permitem afirmar o óbvio. Seria perigosa ingenuidade limitar as suas origens à questão das passagens de ônibus urbanos. Ela foi o ponto...

- Vozes Contra Vozes - Janio De Freitas
FOLHA DE SP - 25/06 As manifestações começam a criar o risco de reversão, facilitado pela impressão de que sempre geram saques Se os bloqueios de estradas e, em cidades, as paralisações desordenadas mantiverem a intensidade ontem verificada em...

- Outra Mobilização - Janio De Freitas
FOLHA DE SP - 20/06 Ela tem fonte desconhecida e total independência de fins e de ação. Aí está um grande perigo Pareceu um só movimento com muitas causas, arregimentadas pelas passagens de ônibus, e ocasionalmente aproveitado por arruaceiros....



Geral








.