Para a mídia, greve é caso de polícia
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Para a mídia, greve é caso de polícia


Marcello Casal Jr/ABr
Por Altamiro Borges

Após demonstrar total inabilidade, o governo Dilma retomou as negociações com as mais de 30 categorias do setor público federal em greve há mais de dois meses. Na próxima semana, várias assembleias definirão se mantêm ou suspendem as paralisações. Neste esforço de diálogo, próprio da democracia, a mídia patronal não contribui em nada. Pelo contrário. Ela ateia fogo, estimula a radicalização. Na prática, ela trata as greves como caso de polícia, lembrando o bordão do presidente oligarca Washington Luis no início do século passado.

Em seus editoriais, os jornalões apenas destilam veneno contra os servidores públicos. Não falam dos salários reduzidos da maioria dos trabalhadores – destacam apenas os altos rendimentos de uma parcela residual do funcionalismo – e nem das condições precárias de trabalho em vários setores. Também nada falam sobre as dificuldades de negociação no setor, num país que até hoje não ratificou a convenção da Organização Internacional do Trabalho (OIT) que garante o direito à negociação coletiva aos servidores públicos.

Folha apoia lei antigreve de tucano

Basta citar os editoriais dos últimos dias para evidenciar esta postura rancorosa e antidemocrática. Ontem, a Folha voltou a atacar os grevistas. Para o jornal da famiglia Frias, “os servidores públicos gozam de regalias, como estabilidade e rendimentos acima da média. Sobretudo nas carreiras de Estado, como as de diplomatas e juízes (que não estão parados), greves não deveriam ser admitidas”. Neste sentido, a Folha prega a aprovação imediata de uma lei dura que restrinja o direito de greve no funcionalismo.

Sem esconder seu tucanismo – ainda mais num ano de eleição municipal –, o jornal faz propaganda descarada do projeto de lei 710/11, do senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP). “Entre seus méritos evidentes estão a ampliação da lista de serviços essenciais, a fixação de percentuais mínimos de servidores em atividade (de 50% a 80%), a determinação de desconto salarial para grevistas e a prescrição de punições, por improbidade administrativa, a agentes públicos que atuarem em desacordo com a norma”. O tucano só faltou pedir a prisão preventiva dos grevistas!

O Globo joga na cizânia entre Dilma e Lula

Já o jornal O Globo, em editorial publicado na quarta-feira passada (22), também exige uma nova lei antigreve e aconselha a presidenta Dilma a ser ainda mais implacável contra os servidores. Sempre procurando estimular a cizânia, o diário da famiglia Marinho afirma que o governo atual deve romper com o passado. “Oriundo do sindicalismo, o ex-presidente Lula transformou quase em simbiose a relação governo/sindicatos”. O Globo até elogia Dilma. “Diga-se a favor do governo que ele não tem compactuado com a demagogia”.

Por último, o jornal Estadão – que nasceu no período da escravidão e até publicou anúncios da venda de escravos – também esbraveja contra os grevistas. Em seu editorial de sexta-feira (24), ele afirma que a greve dos cerca de 400 mil servidores federais inferniza a vida dos cidadãos. É sempre a velha tática de jogar a sociedade, formada por trabalhadores, contra os próprios trabalhadores. O diário da famiglia Mesquita também aproveita para satanizar a marcha dos camponeses realizada em Brasília. Tudo é bagunça, baderna!

A luta estratégica pela democratização da mídia

“A abusada greve, que já fez a presidente Dilma Rousseff perder a paciência e mandar cumprir a lei, com o desconto em folha dos dias parados”, e agora a manifestação de protesto em Brasília de mais de 7 mil representantes de cerca de 30 entidades ligadas ao campo são uma demonstração de que o Brasil está caindo na real depois de um longo torpor em que parecia mergulhado por obra dos delírios de grandeza de uma liderança populista e demagógica”, afirma o jornal, referindo-se também ao ex-presidente Lula.

Como se observa, a mídia patronal trata os trabalhadores – do setor público, mas também da iniciativa privada – e o sindicalismo como inimigos de classe. Ela não vacila em pedir mais rigor na legislação e maior repressão aos movimentos. Só lamenta não poder exigir a prisão dos grevistas e o enforcamento dos seus líderes – como fez contra os mártires de Chicago, no século XIX. 

Diante deste poderoso adversário, o sindicalismo também deveria tratar a questão da democratização da comunicação como questão estratégica. Do contrário, será difícil avançar nas suas lutas.




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