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Pedra sobre pedra - MERVAL PEREIRA
O GLOBO - 27/03
Várias comissões da Câmara e do Senado estão convocando ministros, diretores e ex-diretores da Petrobras para explicar a compra da refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos, a que deu um prejuízo bilionário em dólares à estatal brasileira devido a relatórios "falhos técnica e juridicamente", na definição da presidente Dilma.
A presidente da Petrobras, Graça Forster, promete não deixar "pedra sobre pedra" na investigação, mas admite que os relatórios para o Conselho de Administração continuam sendo feitos da mesma maneira que antes na empresa, pois dependem do que os diretores responsáveis consideram relevante para os conselheiros.
Não se aprendeu nada, pelo visto, com a crise instalada na maior empresa brasileira, que já perdeu metade de seu valor na Bolsa. Esse fato, aliás, que é de fácil entendimento para o cidadão comum, será explorado hoje pelo candidato do PSB à Presidência da República e governador de Pernambuco, Eduardo Campos, no programa de televisão do partido que estrelará ao lado da ex-senadora Marina Silva, sua provável companheira de chapa em outubro.
O candidato do PSDB à Presidência, senador Aécio Neves, mexe os pauzinhos nos bastidores para conseguir colher as assinaturas necessárias para convocar uma CPI. Os dois trabalham juntos mais uma vez, confirmando os compromissos mútuos que deverão desaguar em um apoio a quem for para o segundo turno contra a presidente Dilma.
É sintomático que Campos tenha aderido à CPI depois de, num primeiro momento, tê-la rejeitado.
O que era cautela poderia ser entendido como um gesto de apoio ao governo e enfraqueceria sua postura de candidato de oposição, abrindo caminho para que o senador Aécio Neves capitalizasse a ação mesmo que ela não redundasse na concretização de uma CPI.
Tem absoluta razão o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, quando diz que a ação oposicionista é eleitoral, e seria estranhável que não denunciasse isso como se fosse um pecado capital. Em tempos eleitorais, qualquer movimento, do governo ou da oposição, terá reflexo eleitoral, e é bom que a campanha saia do marasmo em que se encontra para que, finalmente, o embate entre os dois campos se revele, necessariamente em benefício do cidadão comum.
Dizer que a Petrobras perdeu metade de seu valor e hoje tem quatro vezes mais dívidas do que quando Dilma assumiu a Presidência da República é uma maneira de mostrar para o cidadão comum que a "gerentona" vendida pelo ex-presidente Lula na eleição de 2010 é um fracasso na prática.
Caberá à oposição mostrar, e cada vez com um tom mais elevado, por que quer o lugar de Dilma no Palácio do Planalto. As pesquisas revelam que há uma maioria bastante firme, de cerca de 60% entre os eleitores, que procura um candidato que seja capaz de realizar as mudanças de que o país necessita.
Esse estado de espírito permite antever uma eleição bastante disputada, desde que oposicionistas se apresentem ao eleitorado com plataforma crível para substituir o PT depois destes 12 anos de governo. As pesquisas mostram também que a força de quem está no poder é bastante para garantir o primeiro lugar na preferência do eleitor, até mesmo por inércia.
Se os candidatos oposicionistas não se mexerem, ela será reeleita. E é isso o que eles estão fazendo no caso da Petrobras, que de trunfo político para o governo transformou-se em fardo por culpa de políticas mal planejadas e aparelhamento político, outra chaga que vem sendo denunciada pela oposição desde há muito e que só agora se revela em toda a sua dimensão prejudicial aos cofres públicos.
A CPI da Petrobras, caso venha a se realizar, pode ser o início de uma verdadeira limpeza ética no governo.
Provavelmente por suas conexões com o baixo mundo político, a investigação da Petrobras não acontecerá. Mas a crise não será jogada para baixo do tapete e renderá muitos frutos à oposição na campanha eleitoral, a começar pelo revelador empenho do governo para impedir sua convocação.
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