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Pequenas conquistas do dia a dia: oficina de quadrinhos na escola
Fazia um bom tempo que eu não levava para a escola uma oficina de quadrinhos. Na minha outra escola, eu já fiz muito isso, até porque temos uma Gibitecalá. Na escola particular onde eu trabalho, também, nunca fiz simplesmente porque o tempo é tão contado que uma atividade assim acaba sendo deixada para depois e, sabe como é, o depois nunca chega. Ademais, preciso de pelo menos duas aulas seguidas para fazer a atividade, o que é raro acontecer.
Hoje, por acaso do destino, eu fui cobrir o horário de outra professora, que está em curso, e tive duas aulas com uma mesma turma. De imediato eu pensei: por que não fazer a oficina com eles. Usei um parte da primeira aula para explicar noções básicas de uma história em quadrinhos. No restante do tempo os alunos se reuniram em grupos para produzir. O tema foi livre. A ideia era que eles exercitassem o que aprenderam.
Alguns vinham me mostrar quadro a quadro, outros me traziam o roteiro e perguntavam se a ideia para a Hq estava boa. Até eu me arrisquei e desenhei e roteirizei duas tiras. Entretanto dois trabalho me chamaram a atenção. Neles eu pude não apenas observar a apreensão de técnicas e conteúdos, como, também, distinguir estilos.
Apenas um aluno ainda não me entregou, mas selecionei duas para comentar. A primeira foi uma tira bem humorada sobre as peripécias românticas de Dom Pedro I. Simples e muito bem contado. O melhor de tudo, fez um bom uso de um recurso básico dos quadrinhos: o balão. Num dos quadros a autora da tira usa um balão indicador (aquele que indica a presença do personagem, mesmo ele não estando presente fisicamente na cena).
É difícil este tipo de balão ser usado em uma Hq feita por alunos. Mas ela não apenas usou como fez um bom uso, sinal que prestou atenção nas orientações iniciais. Ficou fabuloso!
Já a outra Hq que me chamou a atenção, também feita por uma aluna, mostra vários quadros onde pessoas e animais invertem de posições. Coisa do tipo um homem sendo guiado pela coleira por um cão, ou um homem na gaiola e um pássaro livre. Um estilo bem underground (um tipo de quadrinho pensante, marginal, clandestino, paralelo que representa a resistência a um poder mais forte ou a contestação de valores aceitos que surgiu na década de 1970, ), bem poético (meu amigo Edgar Franco iria adorar). É um tipo de quadrinho crítico, maduro que faz um leitura mais profunda da realidade.
O curioso é que os alunos não fazem ideia do seu potencial. Acham que quadrinhos tem que ser bonitos. Mas uma Hq bem desenhada não significa uma boa Hq. Já tive alunos que me entregaram trabalhos com ilustrações lindas, mas rasos em conteúdo.
E falando nisso, essa oficina foi uma preparação para uma tarefa maior, na forma de Hq, que meus alunos terão que desempenhar ainda esse mês.
Há também um bônus ao se trabalhar com oficina de quadrinhos. O produto da oficina nos revela muito mais sobre o estudante do que um ano inteiro de avaliações. Fica a dica. Consigam duas aulas durante o ano para trabalhar produção de quadrinhos e aprecie o resulto.
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