Pimenta Neves e a cumplicidade da mídia
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Pimenta Neves e a cumplicidade da mídia


Por Altamiro Borges

Finalmente, o ex-diretor de redação do Estadão, Antonio Pimenta Neves, está preso – mas não se sabe se por muito tempo, já que no Brasil só ladrão de galinha fica na cadeia. Nesta terça-feira, agentes da Divisão de Captura da Polícia Civil de São Paulo detiveram, em casa, o ex-poderoso jornalista.

Depois de mais de dez anos em liberdade, vivendo em sua mansão de 900 metros quadrados na zona sul da capital paulista, o assassino confesso da também jornalista Sandra Gomide foi levado, sem algemas, para a cadeia. A ordem de prisão foi expedida pelos ministros da 2ª Turma do Supremo Tribunal Federal (STF), que determinaram o cumprimento da pena de 15 anos de reclusão, “inicialmente em regime fechado”.

Impunidade dos ricos e famosos

Em agosto de 2000, o badalado jornalista deu dois tiros na ex-namorada pelas costas num haras em Ibiúna, no interior paulista. Ele inclusive confessou o crime. Sandra Gomide conheceu Pimenta Neves, 30 anos mais velho, em 1996. Depois que o namoro terminou, ele não se conformou e passou a persegui-la, até matá-la. Em maio de 2006, foi condenado a 19 anos de prisão, mas conseguiu habeas corpus e ficou em liberdade.

O caso é uma das aberrações da Justiça. Segundo o ministro Celso de Mello, do STF, “o jornalista valeu-se de todos os meios recursais postos à disposição dele. Enfim, é chegado o momento de cumprir a pena”. Já a ministra Ellen Gracie disse estranhar a lentidão da Justiça. “Como justificar que, num delito cometido em 2000, até hoje não cumpre pena o acusado?”. Outros ministros do STF também choraram o leite derramado!

Omissão criminosa da imprensa

Vários fatores explicam a impunidade do ex-diretor de redação do jornal O Estado de S.Paulo. O principal é que os ricos e famosos não vão para a cadeia no país. Já uma segunda explicação revela à cumplicidade da própria mídia hegemônica. Ela que adora explorar os escândalos, para aumentar a sua tiragem e audiência, sempre protege os poderosos. Nestes longos dez anos, ela evitou destacar o delicado caso Pimenta Neves.

Como apontou Luciano Martins Costa, num artigo de agosto passado no sítio do Observatório da Imprensa, a mídia sempre procurou “esquecer o crime”. Neste sentido, a sua omissão foi também criminosa – em especial, do jornal Estadão. Ele lembra que quando Sandra Gomide rompeu o namoro, o poderoso diretor de redação a demitiu do cargo de editora de economia do Estadão, para o qual a havia promovido.

Silêncio dos "calunistas"

Pimenta Neves “passou a persegui-la, ameaçando com retaliações qualquer empresa que a contratasse”. Ele chegou a invadir o apartamento da jornalista, que registrou o fato em boletim de ocorrência. “Segundo um ex-repórter do Estadão, Pimenta costumava exibir uma arma, emprestada por um amigo publicitário, e chegou a dizer a diretores do jornal que pretendia cometer um assassinato”. A diretoria do Estadão nunca conteve seu poderoso diretor. Depois do assassinato, ainda tentou protegê-lo do noticiário.

A mesma cumplicidade se deu em outros veículos. “Nenhum desses cronistas e articulistas que vociferam contra qualquer coisa que se move se encheu de coragem para comentar que, quase uma década depois, Sandra Gomide segue sendo triplamente vitimada: pelo assassinato covarde, pela ausência de Justiça e pelo esquecimento decretado pela omissão da imprensa... São quase dez anos de um assassinato covarde, impune graças a chicanas de advogados e sob o silêncio omisso da grande imprensa”.




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