Geral
PISANDO EM OVOS
Meninos só podem comer o coelho à esquerda
Hoje mesmo a Anna fez uma pergunta muito interessante, e difícil de responder.
Anna: "Oi Lola, tudo bem? Acompanho o seu blog há mais ou menos um ano e sou feminista graças a você, muito obrigada! Tenho uma pergunta.
Durante a páscoa minha irmã vende ovos e eu ajudo na produção quando tenho tempo. Quando chega a dúvida de que cor por nas embalagens, eu comentava (mais brincando do que querendo gerar uma discussão) 'estereótipo de gênero não tá com nada' e coisas do tipo, até que ela provavelmente se cansou e argumentou que trabalha com pessoas e que não se sabe se a pessoa vai gostar do filho ganhar ovos de embalagem rosa, ou que um papel azul claro não é unissex o suficiente. Sei que existem pessoas que não gostam de verde por serem corinthianas (que coincidência, meu pai!), por exemplo, mas fico pensando se a ignorância das pessoas vai a esse ponto, sendo que o cliente não especificou de que cor queria as embalagens. Será que o que importa não é o chocolate? Mesmo com detalhes pequenos as pessoas que ajudam aqui ficam com essa neura, sendo que os produtos são bem feminilizados (segundo o estereótipo), com fitinhas, lacinhos e todas essas coisas. Excluindo os mascus, será que as pessoas seriam capazes de devolver um ovo rosa que iam dar para um menino ou não comprar mais com a gente por esse motivo? Será que nós não deveríamos dar o exemplo por trabalharmos 'com pessoas' (esse argumento foi bem enfatizado no debate)? Até que ponto vai o estereótipo num assunto como embalagem de ovos?"
Minha resposta: Bom, pra começo de conversa, nem entendo por que as pessoas compram ovos de páscoa, já que são muito, muito mais caros que uma barra de chocolate. Ok, entendo que é uma comemoração, que é uma vez por ano, até que a consistência (e talvez até o gosto) de um ovo de chocolate seja diferente, mas nada que justifique o preço absurdo se se pagar por um chocolate em formato oval com uma embalagem colorida. Como não convivo com crianças, felizmente não preciso me preocupar com ovos de páscoa. Por outro lado, sei que é uma época do ano em que muita gente aproveita pra fazer algum dinheiro, fabricando ovos caseiros, artesanais. E acho isso ótimo, inclusive porque muitas vezes esses ovos caseiros saem bem mais em conta que os de marca. Acabam sendo uma opção pra muita gente. Você pergunta sobre a que ponto chega a ignorância das pessoas. Será que elas realmente se incomodam de dar um ovo embalado com papel rosa pra um menino? Desculpe estragar o seu dia, mas creio que a resposta é sim, muitas vão se incomodar. A gente sabe que isso é uma total estupidez, que chocolate não tem gênero, que rosa não faz ninguém "virar gay", mas às vezes não adianta muito saber essas coisas. O mundo que a gente quer é um, o mundo em que a gente vive é bem outro. Já li e ouvi na academia algumas feministas dizendo que estamos numa época pós-gênero, em que o binarismo (masculino/feminino) não existe mais. Olha, só se for nas esferas que estudam gênero nas universidades, porque na vida real, nunca estivemos tão genderizadas, tão divididxs por gênero. "É menino ou menina?" continua sendo a pergunta mais feita, e a resposta a essa pergunta-clichê (hoje feita cada vez mais cedo, com poucos meses de gestação) continua determinando as expectativas, o tratamento, as oportunidades, que a pessoa terá. A ansiedade em saber o sexo alheio ainda é gigantesca. Em outras palavras: eu, você, e muitas pessoas com quem temos a sorte de conviver podemos achar o máximo que o Facebook (em inglês) hoje ofereça 50 opções de gênero pra gente se definir, e não mais apenas as duas opções limitadoras e binárias de sempre. E claro que este é um diálogo corrente que eventualmente afetará, e talvez transformará, toda a sociedade (os setores religiosos já estão se mexendo para brecar a "ideologia de gênero"). Mas o que fazer até lá? Creio que sua irmã pode adotar cores de embalagens "neutras", digamos, que não sejam nem azul nem rosa. Embalagens mais coloridas, com uma grande variedade de cores. Mas também não sei que opções ela tem. Ela ainda é refém dos papéis e embrulho que encontrar no mercado. E que bom que ela não comercializa ovos de páscoa com presentes-surpresa dentro deles, ou senão sua dor de cabeça seria maior! Ano passado houve alguns protestos tímidos de feministas se opondo ao Kinder Ovo para meninos e para meninas. De fato, é uma babaquice sem tamanho separar até comida (como salgadinhos) por gênero. Brinquedos são pedagógicos sempre, não só quando vêm acompanhados do rótulo "brinquedo pedagógico". Brinquedos ensinam às crianças o seu papel. E como esperar que os homens passem a colaborar com o trabalho doméstico se ensinamos meninos a detestar brincar de casinha, trocar fralda de boneca, fazer comida? Nós feministas temos sim que dar o exemplo e criar filhos e educar crianças para uma vida menos castradora, em que um garoto não tenha que explicar ao seu pai que, ao brincar de boneca, não está virando gay -- está virando pai. Então eu, se tivesse filhos, se comprasse ovos de páscoa, certamente não seria consumidora de Kinder Ovos e afins que perpetuam a segregação de gênero. Mas o que eu faria se fosse a proprietária da Kinder Ovo? Porque o que a marca recebe são reclamações como essa, que li hoje: "Venho através desta deixar minha indignação a respeito de ovos de páscoa, pois ao comprar um ovo para meninos, meu filho ao abrir teve sua maior decepção, dentro tinha brinquedo para meninas, o mesmo ficou moado o dia todo por causa desse ovo, esperou a semana toda para ganhar o presente e ansioso para ver o brinquedo de dentro e lá estava um estojinho para meninas". Bom, eu provavelmente colocaria brinquedos que fossem mais neutros, nem estojinho de maquiagem, nem bonecas, nem armas (imagino que isso já não existe?). E também colocaria algum indicativo na embalagem, algo do tipo "brinquedos para todas as crianças". Mas outras marcas que segregam por gênero ganhariam essa parte da clientela que nunca parou pra pensar na vida (ou, pior ainda, que parou, pensou, e decidiu que quer mesmo criar um machistinha ou uma donzelinha). Uma marca com visão poderia se aproveitar do capitalismo e vender um ovo de páscoa diferenciado, com brinquedos originais e sem gênero, que atraíssem consumidoras feministas, que tal? Afinal, mais de 30% das brasileiras se assumem feministas. Não é pouca coisa. Não é brinquedo não. Sua irmã conhece a clientela que tem? Podia ser interessante fazer uma pesquisa para medir sua satisfação e abordar algumas questões de gênero (como isso da embalagem). Claro, pisando em ovos, porque o mundo ideal ainda está muito distante do mundo real.
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