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Política da economia está no detalhe - VINICIUS TORRES FREIRE
FOLHA DE SP - 18/07
Saldo de empregos formais novos equivale a 40% de Lula 2, mas ainda cresce; inflação da comida cai
O ESTOURO DA INFLAÇÃO da comida coincidiu com a piora do humor econômico e, mais tarde, com a piora aguda dos humores sociais, entre meados de 2012 e de 2013. Mas, para quem pretende fazer prognósticos eleitorais baseado em dados econômicos, note-se que o pior da carestia da comida passou.
Decerto os preços altos contribuíram para a deterioração do sentimento de segurança econômica, o que por tabela ajudou a avariar uma economia que definhava ainda por outros motivos. Difícil vai ser deduzir qual o saldo de melhoras e pioras e qual o sentido que o grosso do eleitorado vai dar isso, dadas as suas opções de voto.
A inflação da comida e da bebida teve um ciclo de alta ruim entre junho de 2012 e fevereiro de 2014, com um pico em abril de 2013, quando chegou a 14% ano, acumulada em 12 meses (foi a época do sarcasmo com a "inflação do tomate").
Entre março e maio de 2013, os preços de alimentos e bebidas subiam ao dobro do ritmo da inflação média, exorbitância vista apenas entre 2007 e 2008, com a inflação mundial da comida e de matérias-primas em geral. O preço médio de comida e bebida chegou a crescer 15,8%, em junho de 2008.
Até 2008, porém, havia euforia no Brasil, com melhoras rápidas em emprego, renda, desigualdade social. Convém lembrar que, apesar da piora ou desmelhora dos anos sob Dilma Rousseff, a "economia da vida cotidiana" não é desastrosa.
Ontem saíram, por exemplo, os números do desempenho do mercado formal de trabalho referentes a junho. O aumento do número de empregos com carteira assinada no mês passado foi, muito de longe, o menor em década e meia.
Qual o efeito prático?
Os números mostram o esfriamento da economia e, em parte menor, a um ritmo inevitavelmente menor de formalização do emprego. Nos últimos 12 meses, foram criados ainda 763.499 empregos, alta de 1,8%, maior que a da população economicamente ativa.
Sim, o saldo de empregos novos equivale a 50% da média dos três primeiros anos de Dilma Rousseff e a 40% do da média do segundo governo Lula. Mas houve crescimento; associado ao fato de que o desemprego permanece baixo, é difícil deduzir daí que a crise chegou decisivamente às ruas.
O cenário varia, decerto, de acordo com setores da economia e regiões. Nas grandes metrópoles, o nível de emprego parou de crescer, ao contrário, no entanto, do conjunto do país (logo, a situação no "interior" ainda anda melhor do que a a da média nacional).
Na indústria, o nível de emprego, a quantidade de gente empregada, decresce, com redução do salário médio, de resto. Talvez esteja aí um fator do baixo prestígio do governo federal em algumas metrópoles, embora o clima na grande cidade esteja ruim por outros motivos, vide a explosão de 2013.
Está mais difícil arrumar emprego, o consumo cresce mais devagar, a inflação marcou o eleitorado, mas ainda há algum progresso na "economia cotidiana" e melhoras sociais (a situação macroeconômica, claro, indica anos medíocres à frente, mas seu péssimo estado não tem efeitos muito tangíveis). Fazer uma limonada político-eleitoral com o limão da política econômica vai ser ainda menos simples nesta eleição.
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