Ainda o mistério do emprego - VINICIUS TORRES FREIRE
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Ainda o mistério do emprego - VINICIUS TORRES FREIRE


FOLHA DE SP - 27/09

Depois de piscar em meados do ano, nível de emprego continua firme e renda ainda sobe


"A LUZ DO emprego piscou", escrevia-se no título desta coluna faz dois meses a respeito da pesquisa de emprego do IBGE com informações de junho, entre outros indicadores de que o mercado de trabalho parecia mais fraco.

A luz do emprego não parece mais forte agora, a julgar pelas informações a respeito de agosto, divulgadas ontem pelo IBGE. Mas não dá sinais de que vá pifar, pelo menos tão cedo.

O ritmo de aumento do salário real decai desde dezembro de 2013, decerto (na variação da média de 12 meses), mas já vimos esse filme antes. O aumento real do rendimento médio (isto é, descontada a inflação) caiu para algo em torno de 2% ao ano em meados de 2008, de 2010 e no início de 2012 (quando caiu "só" para 2,5%, como agora). Mas um ano depois, mais ou menos, voltava a subir para 4,5% ao ano ou mais.

Estamos no "fundo do poço" desses ciclos de baixa, que pode bem continuar. Porém, o desemprego continua a cair; o número de pessoas ocupadas continua a subir de modo muito mais que decente.

Por outro lado, o crescimento do número de empregos formais (na contagem do Ministério do Trabalho) vai diminuindo. Os estoques nas empresas subiam. A indústria demitia em temporada tipicamente destinada a contratações para a produção de final de ano.

Recentemente, pesquisas indicavam que mais trabalhadores se queixavam de dificuldades maiores de encontrar trabalho, em geral indicador de desemprego à frente.

Sim, a economia vai crescer em 2013 bem mais do que em 2012 (uns 2,5% diante de 0,9%). Mas, outro porém, estamos numa campanha de alta de juros, a confiança do empresariado continua a declinar e o crescimento da economia estimado para o ano que vem é menor que o de 2013. Enfim, a tendência do câmbio é de desvalorização do real, o que, em tese, tende a prejudicar o setor de serviços, que vinha dando impulso forte ao emprego.

ALARME FALSO?

O que houve em meados do ano foi alarme falso? Como se escrevia aqui em julho, alguns economistas "...acreditam que os dados recentes sobre emprego, confiança e muito mais estão distorcidos ou cheios de ruído' devido às manifestações de junho e à balançada feia nos mercados financeiros no mundo inteiro, em especial aqui".

A balançada feia nos mercados era devida à expectativa de mudança da política monetária americana, que fez o dólar saltar em junho. No entanto, balançada ainda pior ocorreu em agosto.

E daí?

Os economistas do Bradesco, por exemplo, acreditam que a taxa média de desemprego suba apenas para 6% no ano que vem. Politicamente, em termos eleitorais, mal vai dar para sentir, se for este mesmo o caso e se não ocorrer algum outro tropeço econômico feio.

Mas, se for este mesmo o caso, vai ser bem difícil que a inflação caia do degrau incômodo de 6%, em que tem estado nos últimos quatro anos, por aí. Isto é, parece cada vez mais certo que vamos levar o problema da inflação, entre tanto outros, para 2015, um ano de muita casa para arrumar.




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