Por que a direita cresceu no Brasil?
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Por que a direita cresceu no Brasil?


Por Emir Sader, na Rede Brasil Atual:

Em primeiro lugar, é importante compreender que a direita sempre teve força no país. Chegou a perder força quando perdeu o governo central, mas manteve espaços de poder – inclusive no governo, mas principalmente na mídia e nas instâncias de controle econômico na sociedade. Em segundo porque, apesar do seu modelo econômico ter fracassado, levando à vitória de propostas políticas e de modelo económico-social contrárias às suas, a direita conta com a hegemonia das ideias conservadoras e egoístas na sociedade. O “modo de vida norte-americano” deitou raízes profundas na sociedade, em todas as camadas sociais e, com ele, o egoísmo, o individualismo, o consumismo, a discriminação, o racismo, a falta de solidariedade social.

Esses valores têm no monopólio privados dos meios de comunicação uma maquina para sua propagação. Criam e multiplicam na sociedade valores negativos, de egoísmo e de discriminação em relação aos pobres e aos mais vulneráveis.

Mas esses mecanismos já existiam. O que fez com que a direita se fortalecesse a partir das últimas eleições?

O alinhamento total dos meios de comunicação e do grande empresariado contra o governo e o PT levaram a uma campanha brutal de desqualificação, semeando o ódio e o preconceito. A campanha teve efeito, levando a que a vitória da Dilma – que se projetava como tranquila – se desse numa margem apertada e a que os candidatos de esquerda, tanto a governos de estado quanto ao Parlamento fossem atingidos.

Como resultado, o ódio semeado contra o governo levou a campanha de desqualificação do novo mandato da Dilma e a um Congresso mais conservador.

Mas esses fatores forem multiplicados por erros graves de condução política por parte do governo e do PT. Tudo se deu como se o governo Dilma tivesse terminado antes do final do seu mandato e tivesse demorado para começar. Nesse vazio, uma candidatura que representa o pior do PMDB se articulou intensamente, durante alguns meses, e tornou-se favorita para presidir a Câmara dos Deputados, diante dos olhares paralisados do governo e do PT.

Quando essa candidatura se havia tornado amplamente favorita, a má atuação do governo e do PT coroou-se com o lançamento de uma candidatura própria, sem nenhuma chance de vitória e que facilitou a ação da oposição, ao apresentar o candidato “governista” que a oposição necessitava. Foi uma derrota anunciada e acachapante, desmoralizante mesmo para o governo e para o PT, que ficou fora de cargos importantes na mesa e nas comissões.

Ao mesmo tempo, o governo lançou um plano de ajuste que tocava nos direitos dos trabalhadores, apesar das promessas em contrário durante a campanha eleitoral. O governo não conseguiu convencer da necessidade do ajuste, de que não afetava os trabalhadores e de que conduziria à retomada do crescimento, dado ainda mais desmentido pelas seis subidas das taxas de juros desde as eleições.

Os seis primeiros meses do novo mandato foram totalmente ocupados pelo tema do ajuste e dos cortes correspondentes, que o governo não conseguiu convencer de que não tocavam nas políticas sociais. Uma política “maquiavélica” ao contrário: as coisas ruins foram reiteradas durante seis meses e as boas, quando surgiram – pacote de investimento em infraestrutura, acordos com a China – foram anunciadas como relâmpagos e desapareceram.

Com efeito, mudou radicalmente a correlação de forças políticas no pais. O governo e a esquerda passaram à defensiva e perderam completamente a capacidade de iniciativa. Propostas como as que a Dilma apresentou depois das manifestações de junho de 2013, assim como a de uma Assembleia Constituinte, ficaram totalmente inviabilizadas. Ao contrário, foram aprovadas ou avançam projetos de retrocesso aberto – maioridade penal, terceirização, PEC da bengala, sobre o pré-sal etc.

O resultado não poderia ser mais devastador em termos de perda de popularidade: não ganhou setores do “mercado” e perde apoio nos setores populares. O governo está sendo devastado pelas campanhas da mídia, sem ter ainda avançado nas medidas de democratização dos meios de comunicação, que, ainda que limitadas, poderiam remediar a situação.




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