POST DESABAFANTE ARREPENDIDO
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POST DESABAFANTE ARREPENDIDO


Oops. Escrevi o post abaixo uns dez dias antes do meu concurso em Fortaleza. Não o publiquei porque ele ficou pessimista e revoltado demais e porque não queria que o pessoal de Linguística brigasse comigo. Mas hoje vai. Entendam a minha situação: eu realmente estava boiando nos sete pontos de Linguística. Eu olhava pra tudo aquilo que teria que decorar e não achava que iria conseguir. Mas agora que tudo acabou bem, acho que vocês merecem saber como andava minha cabecinha. E o pior é que na última hora deu até pra reunir bastante teoria num ponto de Linguística pra bolar um texto feminista! (mais tarde compartilho o troço com vocês; é bem interessante). De todo modo, ficamos na torcida pra que só me deem aulas de literatura! Acho que será assim, já que a banca realmente deu preferência pra Literatura no concurso. Ou vocês acham que eu passei como?

Não estou feliz. Não estou nada feliz, pra ser sincera. Faz semanas que tudo que faço é estudar, nem dou conta de estudar tudo. Ainda faltam todos os sete pontos de Linguística, e a verdade é que continuo meio sem saber por onde começar. O concurso é terça que vem que vem (dia 18/8), só pra lembrar. Eu peguei toda uma pasta de Systemic Functional Linguistics, que, sinto muito, é horrível. Estranho, porque eu tinha feito umas poucas aulas de Análise do Discurso no começo do mestrado, em 2003, e tinha gostado bastante. Depois de perguntar pra dois especialistas no assunto, descobri a diferença entre Análise do Discurso e SFL. SFL é uma teoria específica que pode ser usada em Análise. Só que é complicada demais pro meu gosto. Eu li vários artigos sobre o assunto, e minha cabeça ia dando nós, e eu olhava pros artigos e via os títulos, Introdução à SFL, e eu pensava: Introdução?! Quer dizer que esse é o feijão com arroz, depois complica?! Gente, é triste. Pra se ter uma ideia, eles chamam os verbos de processes, e os dividem numas sete categorias. Um dos tipos de processo é material, verbos mais de ação, por assim dizer. Mas aí as outras categorias nessa categoria também mudam de nome. O sujeito vira ator, e objeto, goal (não vou nem tentar traduzir), e o que vem depois, circumstance. Aí você pega um outro processo, o mental. Agora o sujeito é senser, e o objeto é phenomenon. E tem subcategorias dentro do mental: emotion, cognition, perception, desideration (hello?). Por aí vai. Vezes sete. E obviamente tá cheio de exceções e sub-sub-categorias. E os autores dos artigos ainda escreviam: “este é só um apanhado geral; no capítulo tal iremos olhar isso mais detalhadamente”. E eu: quantos termos técnicos cabem na minha cabecinha? Porque, sabe, não é só um ponto que tenho que decorar. São quinze! Eles vão sortear três pra prova escrita (ao menos um será obrigatoriamente de Linguística, não tenho escapatória), e não vão dar tempo pra gente rever as anotações. Isso significa que eu devo levar tudo decorado. Pois é, eu tô preocupadinha.
Por outro lado, porque eu sou uma adepta fervorosa do “Always look on the bright side of life” (sempre olhe pro lado bom da vida, como diz o Monty Python pregado na cruz), devo dizer que estou aprendendo muito com este concurso. Aprendizado número um: nunca mais reclamarei de ter que preparar um ponto de Literatura. Qualquer um, por mais obscuro que seja, como Celtic Twilight (Harlem Renaissance é super legal! Até descobri que já tinha lido um romance de um dos representantes do movimento, Passing, da Nella Larsen), é mais interessante que qualquer um dos pontos de Linguística. Aprendizado número dois: pro próximo concurso, porque obviamente não vai dar pra passar neste, eu só me inscrevo se só tiver pontos de Literatura. Ah, são pouquíssimos os concursos apenas em Literatura em Língua Inglesa? Paciência. Fico dando aula de inglês em curso de idiomas, sem problema algum. Porque quem disse que eu quero dar aula de processos verbais? Analisar um discurso é ótimo, sem dúvida (eu faço isso aqui direto, só que sem termos técnicos), mas pelos artigos que li, a pessoa fica a vida toda discutindo o sexo dos verbos, digo, dos anjos. Não sei o quanto uma teoria é funcional se você gasta mais tempo analisando os termos técnicos que usará na análise que o objeto da análise em si. Pô, eu fugi de gramática tradicional a minha vida inteira. Nas aulas de inglês, o máximo que uso é subject, verb, object. E, vá lá, adverb, pronoun, modal verb, e tá de bom tamanho. Já é muito mais que os nativos de inglês aprendem da sua própria gramática. Pausa pra eu contar uma anedota 100% verdadeira. Quando eu era coordenadora de um curso de inglês, uma das minhas funções era treinar, testar e recrutar candidatos a professores. Vez por outra aparecia algum native speaker querendo dar aula de inglês. E, beleza, tinha que passar pelo mesmo treinamento como todo mundo. E depois dar uma aula pra mim (e outras pessoas), pra ver se tinha captado a metodologia da escola. Um rapaz inglês muito simpático estava lá explicando os verbos com ing, quando se deparou no livro (Interchange, o mais vendido do mundo pra ensino de inglês) com uma palavra: gerund. Tadinho! Deu pra ver que era a primeira vez na vida que ele via aquele termo. Ele não sabia nem como pronunciá-lo! E ele tinha faculdade (em Biologia, acho). É só que isso de estudar mesóclises, adjuntos adnominais e outros palavrões, como nos ensinam nas nossas aulas de Português, não faz parte da rotina deles. E eu sempre fui contra esse método de enfiar gramática goela abiaxo. Então por que, agora que tenho doutorado, o que deveria me dar maior liberdade profissional, eu vou passar a dar aula de algo que combati a vida toda? Sabe, nada contra quem vive de mental processes. Eles provavelmente acham que analisar, sei lá, a passividade de Blanche DuBois em Um Bonde Chamado Desejo seja tão esquisito quanto discorrer sobre a complexidade das cláusulas nominais. Mas não é pra mim.
Eu tinha esperança que na UFC eu não teria que dar aula de Linguística porque lá já há vários professores de Linguística, e pouquíssimos de Literatura. Mas só de ter que estudar certos pontos eu vejo que seria infeliz trabalhando com algo que não gosto. E não estou num programa de Topa Tudo por Dinheiro.
Um leitor muito querido me enviou o edital pra um concurso da UFSC, que não exige graduação em Letras. Só que é em Linguística. Tô fora. Não é a minha área!
E pelo jeito, não vou ter como fugir de terminar a graduação em Letras. Há um concurso na Federal de Uberlândia, que ainda não teve um só inscrito. Requisitos básicos, além de graduação em Letras: doutorado em Letras, Linguística, ou Língua Inglesa, com tese específica em Tradução. Bom, esse não seria pra mim de qualquer jeito. Há mais um no Espírito Santo, pra professor de Literatura em Língua Portuguesa. Tem que ter graduação em Letras, mas o doutorado pode ser em basicamente qualquer coisa (Psicologia, Música, Arquitetura etc). E outra vaga pra Linguística. Há mais um concurso em Natal, ueba! Só que é um daqueles misteriosos que odeio, que só divulgam os pontos que vão cair depois que você se inscrever. Mas os requisitos são graduação em Letras e doutorado em Língua Inglesa. É pra professor de Literatura em Língua Inglesa e Linguística.
Este é um mundo injusto: uma pessoa de Linguística pode fazer montes de concursos sem ter que chegar perto de Literatura. Mas o oposto não é verdadeiro. O oposto sou eu, chuif.
O lado bom: vou voltar a visitar essa cidade linda que é Fortaleza, depois de quase vinte anos. Graças ao bloguinho, consegui dois ótimos lugares pra ficar. Um foi indicação do Abobrinhas Psicodélicas: é uma pousada mais ou menos perto da UFC. O outro foi esforço da Sheila, que é amiga de um gerente num hotel novinho próximo à Praia de Meireles. Ele fez um super desconto pra mim. Vou ficar os primeiros dois dias na pousada, pra não gastar muito em táxi, e os últimos dois no hotel. Quer dizer, se eu passar pra prova didática, fico mais quatro dias. Mas essa realmente tá parecendo uma possibilidade remota, não sei porquê.




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