Pouco desemprego e menos trabalho - VINICIUS TORRES FREIRE
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Pouco desemprego e menos trabalho - VINICIUS TORRES FREIRE


FOLHA DE SP - 20/12

Desemprego é espanto histórico de tão baixo, mas população ocupada volta a diminuir


O DESEMPREGO no Brasil parece o de uma economia acelerada, histórica e espantosamente baixo. A inflação resistente em torno de 6% também parece coerente com uma economia de desemprego tão baixo, faz já algum tempo. Mas o número de pessoas empregadas e interessadas em trabalhar caiu pela segunda vez consecutiva em novembro, segundo a Pesquisa Mensal de Emprego do IBGE, divulgada ontem.

Como se dizia aqui faz mais ou menos um mês, a respeito da pesquisa de emprego de outubro, a diminuição do número de pessoas empregadas é uma raridade no Brasil deste século. Desde que os números podem ser comparados (2002), o número de pessoas empregadas caiu apenas outras três vezes: justamente em outubro e noutras duas ocasiões, no ano ruim de 2009, de recessão.

Mais uma vez, a baixa no número de pessoas interessadas em trabalhar ocorreu entre mulheres e jovens de 18 a 24 anos. No caso dos jovens, trata-se de uma tendência já antiga que se acentuou nos últimos meses. No caso das mulheres, é raridade mesmo.

A renda média continua a aumentar acima da inflação, embora em ritmo cada vez menor. Pelo jeito, tal progresso segura a renda das famílias o bastante para que jovens em idade de ensino médio e faculdade, na maioria provavelmente mulheres, prefiram outras atividades a trabalhar ou procurar emprego.

Ainda assim, o aumento da renda e o nível de renda não parecem tão expressivos a ponto de explicar o desinteresse pelo emprego. O aumento da cobertura e do valor dos benefícios sociais talvez ajude a explicar um pouco mais essa retirada do mercado de trabalho, mas por ora isso é apenas uma hipótese meio especulativa.

Em suma, estamos com um desemprego um tanto exoticamente baixo, depois de três anos de crescimento lerdo e com a perspectiva de um biênio igualmente medíocre. Além do mais, os salários ainda crescem, mas isso não é incentivo suficiente para levar mais gente para o mercado. Enfim, não se pode dizer que o mercado está aquecido, pois a população ocupada diminui. Não vai faltar assunto para teses de estudantes de economia.

Quanto ao andamento da economia "real", nota-se uma desaceleração forte do aumento da massa salarial (em 12 meses). O ritmo do aumento do total dos salários pagos apenas foi tão pequeno durante alguns meses do ano de recessão de 2009 e durante o período de recuperação do quase colapso de 2002-2003. Nos demais anos sob governos petistas, o avanço foi muito mais rápido.

Por ora, portanto, a perspectiva é que o ritmo de aumento do consumo no ano que vem não deva ser muito diferente daquele deste ano (dado ainda que o aumento do crédito deve ocorrer no mesmo ritmo desde 2013).

Um mercado menos aquecido, porém, não deve derrubar salários, em média, o que não deve dar muito refresco para a inflação.

Como escreveu ontem em relatório Aurélio Bicalho, economista do Itaú Unibanco, "um mercado de trabalho que desacelera, mas sem gerar excesso de oferta de mão de obra (dado que há diminuição da força de trabalho), não gera pressão baixista nos salários reais. Por isso a renda média mantém o ritmo de alta".




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