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Protesto é “caso de polícia”?
Por Altamiro BorgesO transporte público em São Paulo é um horror. Os ônibus andam superlotados e em péssimas condições. Há poucas linhas ferroviárias e os trens vivem dando pane. O Metrô foi sabotado pelos tucanos, que não ampliaram suas linhas e degradaram sua manutenção. Diante deste cenário tenebroso, qualquer fagulha – como o reajuste de 0,20 centavos nas passagens – pode ter efeitos explosivos. Os três protestos realizados na capital paulista nestes dias confirmam esta dura realidade. Um administrador com sensibilidade entenderia o problema e abriria o diálogo. Não é o caso do Geraldo Alckmin, que tratou os protestos como “atos de vandalismo” e “caso de polícia”. Já o prefeito Fernando Haddad, que num primeiro momento disse que “São Paulo é a cidade das manifestações”, teve uma recaída, talvez influenciado pela fúria midiática.
Na tarde de terça-feira, o centro da maior cidade do país virou novamente um palco de guerra. A Polícia Militar voltou a esbanjar violência, disparando balas de borracha e lançando bombas de gás. A passeata com mais de 10 mil jovens, segundo o próprio Estadão, transcorria de forma pacífica até a primeira provocação da PM. Resultado: mais de 20 pessoas ficaram feridas, outras 13 foram presas e lojas, ônibus e terminais de Metrô foram depredados. Nem os jornalistas, inclusive da Folha, escaparam da selvageria policial. Uma cena lastimável, que pode se repetir na tarde desta quinta-feira (13), com os novos protestos marcados pelo Movimento Passe Livre (MPL).
De Paris, onde participa de um evento com empresários, o governador tucano Geraldo Alckmin, que não nega os seus antigos laços com a seita fascistóide Opus Dei, incita a violência: “Uma coisa é movimento... Outra coisa é vandalismo, como interromper artérias importantes da cidade, tirar o direito de ir e vir das pessoas, depredar o patrimônio público. Aí é caso de polícia”. O prefeito petista Fernando Haddad, que também está na capital francesa, até sinalizou que pode abrir negociações com os manifestantes, mas exigiu “o fim dos atos de vandalismo” – num discurso que não se encaixa na sua trajetória democrática e nas aspirações de um “novo tempo” em São Paulo.
É evidente que já ocorreram atos tresloucados que colocam em risco a justa luta pela redução das tarifas. "O MPL não é o dono das mobilizações contra o aumento”, tenta justificar um comunicado oficial da organização. Em protestos mais amplos e inorgânicos há sempre provocadores – como os que depredaram a sede do diretório do PT na terça-feira – e mesmo setores que tentam se aproveitar oportunisticamente e eleitoralmente destas mobilizações. Mas estas ações violentas e isoladas, que devem ser repudiadas publicamente, não anulam a justeza das mobilizações e a urgência de abertura de canais de diálogo.
Reproduzo abaixo duas importantes notas divulgadas na véspera do ato de terça-feira.
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Nota da JPT pela reversão dos aumentos das passagens do transporte público
Do site do PT
10/06/13 – 11h10
A mobilidade urbana é um dos fatores que mais influencia a qualidade de vida de jovens e trabalhadores, seja por seu peso econômico, seja pela atenção às suas necessidades com garantia de conforto e segurança. O Governo do Estado de São Paulo e a prefeitura da capital, ao elevarem o preço da tarifa de ônibus, trens e metrôs, prejudicam a locomoção de jovens e trabalhadores que, em sua maioria, dependem única e exclusivamente do uso de transporte público.
A juventude do PT integra há anos as lutas contra os aumentos das passagens por entender que estas medidas só favorecem o lucro das empresas, seja por meio da tarifa ou pelo aumento de subsídios. Ao mesmo tempo, aumenta a insatisfação dos usuários devido à péssima qualidade dos serviços prestados: ônibus e vagões lotados, trens e metrôs em panes constantes e atrasos e demoras nos deslocamentos.
Enquanto algumas cidades da Região Metropolitana e do Vale do Paraíba reduzem suas tarifas, beneficiando estudantes e trabalhadores, os aumentos da prefeitura da capital e do Governo do Estado oneram o orçamento de quem utiliza o transporte público e preservam a alta lucratividade das empresas.
Neste sentido, a Juventude do PT vem a público reivindicar a reversão dos aumentos das passagens e manifestar sua solidariedade e apoio aos movimentos que lutam contra esses aumentos. Mais que isso: conclamamos a militância petista a participar ativamente das manifestações e comitês, a começar pelo ato do dia 11 de junho, às 17h, na Praça do Ciclista, Av. Paulista! (grifos nossos)
É hora de ampliar a discussão rumo a uma política de transporte que contemple plenamente o direito de mobilidade da juventude e dos trabalhadores. Um passo decisivo neste sentido é a urgente implementação do bilhete único mensal e o transporte público 24h!
Pela imediata reversão dos aumentos!
Rogério Cruz - Secretário Estadual da Juventude do PT-SP
Erik Bouzan - Secretário Municipal da Juventude do PT de São Paulo
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Nota da UJS-SP sobre o aumento da tarifa de ônibus
Ao longo de décadas, o automóvel foi prioridade no investimento em mobilidade urbana na cidade de São Paulo. Ocorreu um desenvolvimento no mercado de crédito, produção de insumo, controle pelo governo no combustível, investimento em vias públicas – onde na maioria das vezes, o automóvel recebia prioridade.
Isto é, o transporte coletivo utilizado pela maioria dos trabalhadores acabou sendo prejudicado por ter menos investimento e não ter um planejamento de acordo com as demandas das grandes cidades. Infelizmente a população que mora nas periferias da cidade é a mais prejudicada, pois residem distante dos locais de emprego, consumo e entretenimento. Além disso, sofre com a espera absurda nos pontos de ônibus. Enfrentam todos os dias ônibus superlotados para ir e voltar do trabalho ou estudar, congestionamentos quilométricos e muitas vezes, falta dinheiro para pagar as tarifas caríssimas.
Esses problemas também são frutos da exploração do transporte coletivo, por conta de empresas privadas, que o administram e servem a interesses econômicos, de lucro e acumulação de capital.
Anualmente uns dos mais receios da população são os reajustes das tarifas de ônibus, trem e metrô. Essas empresas não poupam o bolso do trabalhador, pressionam o governo que se deixa ceder pelos reajustes no alto custo das tarifas e retenção ao investir em infraestrutura.
Diante desta negligência, é legitimo e necessário o ato de se manifestar, e é ampla a comoção da população, pois são muitas as indignações. O que não aceitamos num Estado democrático é a forma repressora, violenta que age a PM nos protestos e no cotidiano da juventude nas periferias. A conduta policial controlada pelo governador de São Paulo tem causado mais revolta e atos extremos por conta de uma minoria dos manifestantes.
É possível para a prefeitura de São Paulo não ceder aos interesses dos empresários e ficar ao lado do povo revogando o aumento da tarifa e promover um amplo diálogo sobre as melhorias no transporte público com a população paulistana. Estamos confiantes e sempre na luta!
União da Juventude Socialista/SP - São Paulo, 12 de junho de 2013
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