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Por Tereza Cruvinel, em seu blog:A eleição do deputado Eduardo Cunha para a presidência da Câmara em primeiro turno, com 267 votos, aconteceu com a ajuda decisiva do PSDB, que no voto secreto traiu o candidato do PSB, Julio Delgado. Este detalhe apenas reforça a percepção do PT de que, depois de sua eleição, apesar do discurso conciliador ao tomar posse, a vida do governo jamais será a mesma. A derrota do governo foi acachapante. Apesar de todo o empenho, Arlindo Chinaglia teve apenas 136 votos, o que refletiu a grande resistência dos deputados ao governo Dilma.
Cunha formou um bloco com 215 deputados para concorrer à presidência. Acabou tendo 267 votos. De onde eles vieram? Boa parte, do PSDB que jurou apoiar Julio Delgado. O candidato do PSB sempre teve 80 votos seus, de seu bloco, aos quais somaria os 55 do PSDB. Se os tucanos tivessem honrado o acordo, Delgado teria tido pelo menos 130 votos, não apenas 100. Os votos tucanos (e outros mais da base governista) é que ampliaram os votos de Cunha para além do tamanho de seu bloco.
No meio da tarde, os tucanos avaliaram que se Eduardo Cunha não ganhasse no primeiro turno, a vitória no segundo, com a migração de boa parte dos votos de Delgado para Chinaglia, ficaria bem mais difícil. Diante desta avaliação, resolveram descarregar logo em Eduardo Cunha para liquidar a fatura, fazendo barba, cabelo e bigode sobre o Palácio do Planalto.
Tempos difíceis virão para a presidente Dilma, apesar do discurso conciliador de Cunha, afirmando que não se elegeu para fazer oposição ao governo. Ele agora é o dono da bola, da pauta e da agenda. Os petistas admitem que a governabilidade será muito mais difícil. Afinal, casaram-se com o PMDB, que agora lhes impôs esta derrota. Mas como o partido tem o vice-presidente, vão continuar formalmente casados, embora dormindo em quartos separados. A aliança praticamente acabou. Nenhum peemedebista, em momento algum, ficará contar Cunha para apoiar o governo. Isso, no cotidiano da Câmara. Outros 500 serão os desdobramentos da Operação Lava Jato, que em breve chegarão ao Congresso. Isso é tema para outro post.
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O rolo compressor de Eduardo CunhaA derrota sofrida pelo governo Dilma na eleição para a Mesa da Câmara vai muito além da vitória do desafeto Eduardo Cunha. Ela explicita um esgarçamento sem precedentes na era PT da coalizão de apoio ao Governo.
O bloco formado por Cunha, composto por PMDB, PP, PTB, DEM, PRB, SD, PSC, PHS, PMN, PRP, PSDC, PEN, PRTB e PTN, além de ter o maior número de cargos na Mesa, pelo número de seus integrantes (218) conquistou o direito de fazer as três primeiras indicações de presidentes de comissões.
E obviamente a primeira comissão a ser pedida, como faz qualquer bloco ou partido majoritário, será a de Constituição e Justiça, a crucial CCJ. “Se isso de fato acontecer, será muito grave”, admite a deputada petista e ex-ministra Maria do Rosário. Pela primeira, até onde o retrovisor alcança, um governo não terá um aliado na presidência desta comissão, pela qual devem passar preliminarmente todas as propostas legislativas. Ali também os projetos podem ser vítimas da “morte súbita”, caso a comissão o declare inconstitucional.
Depois, o bloco de Cunha deve pedir a presidência ou a relatoria da CMO, a poderosa Comissão Mista de Orçamento, pois os dois cargos são ocupados em sistema de rodízio anual por um senador ou um deputado. A terceira pedida pode ser a Comissão de Fiscalização e Controle, o terror de todos os governos, podendo ela convocar ministros e autoridades para prestar esclarecimentos. Mas, se quiser fazer um gesto de boa vontade, sintonizado com seu discurso e sua entrevista na sequencia da vitória, Cunha e seu bloco poderão ceder esta terceira pedida ao bloco liderado pelo PT, composto ainda por PSD, PR, PROS e PCdoB, somando 160 deputados.
O fato de Arlindo Chinaglia ter obtido apenas 136 votos é um sinal amarelo para o governo. Significa que nem o próprio bloco votou integralmente nele, numa indicação do quanto é grande, neste momento, a resistência dos parlamentares ao governo.
Por tudo isso, Eduardo Cunha poderá, sempre que quiser, acionar o rolo compressor da maioria que gravita em torno de sua liderança para emparedar o governo. Se fizer a leitura correta do que aconteceu, o Palácio do Planalto deve agora eleger como uma de suas prioridades a recomposição da coalizão governista, o que passa pela rediscussão da própria aliança com o PMDB. Continuarão juntos depois da derrota imposta pelo suposto aliado, apesar dos ministérios ocupados pelo partido? Mas como dispensar o PMDB, onde ainda existem alguns fieis, e existe a base leal do Senado, num quadro de alta rejeição ao governo?
Estas são algumas questões. Olhando mais adiante, os governistas devem se preocupar mesmo é com a unificação da base para enfrentar o que vem por aí na operação Lava Jato. E para isso, o melhor mesmo é engolir em seco a vitória de Cunha e tratar de estabelecer com ele a melhor relação possível.
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