Quando a fábrica de consumo para - VINICIUS TORRES FREIRE
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Quando a fábrica de consumo para - VINICIUS TORRES FREIRE


FOLHA DE SP - 05/12

Apesar de trimestre positivo, indústria está engripada desde a pane do 'modelo' econômico, em 2008


A INDÚSTRIA brasileira cresceu em outubro pelo terceiro mês consecutivo. Parece bom. Somadas as melhorias do trimestre, a produção industrial não compensa o tombo de julho, quando encolheu 2,5%.

Enfim, a indústria nem ao menos despiorou.

Em 12 meses, a indústria cresceu 0,95%. Parece pouco, mas com boa vontade poderia se dizer que ao menos a produção não encolheu.

Mas a produção da indústria é ainda inferior à do início do governo Dilma Rousseff. Para não implicar com a presidente, note-se que a indústria está mais ou menos estagnada desde meados de 2008. Desde então flutua em torno do nível de produção de hoje, desconsiderado o tombo maior provocado pela crise pela recessão de 2009 no Brasil.

Parece, como argumenta o governo, que a letargia quase catatonia industrial tem algo a ver com a crise de 2008. Deve ter mesmo.

O "consumo" mundial caiu: as economias importantes, afora a China, passaram a crescer nada ou muito pouco. Houve sobra de produto industrial barato, uma espécie de xepa universal. Portanto, o mercado mundial estava em baixa e a concorrência aumentou.

Para piorar, os produtos brasileiros ficaram mais caros, ao menos entre 2008 e meados de 2011. Ficamos careiros tanto porque o real ficou forte (o "dólar ficou barato") como porque os preços têm subido aqui bem mais que nos países com os quais temos comércio, exceto a Argentina. Enfim, nossa inflação é mais alta.

Os economistas podem escrever livros para explicar por que a nossa inflação é mais alta. Mas o motivo mais imediato e menos discutível é que os custos têm subido no Brasil, em especial os salariais, e porque nossa produtividade cresce pouco.

No entanto, o nosso consumo ainda cresce, mais devagar que faz um ou dois anos, mas cresce. O governo gasta mais, em particular despende mais com benefícios sociais. Também estimula o crédito na contramão do mercado (os empréstimos dos bancos estatais crescem, o dos bancos privados estagnou faz meses). Além do mais, baixou impostos sobre bens de consumo e cesta básica, por exemplo.

O aumento do consumo, porém, não faz as fábricas ligarem mais máquinas. Como dito acima, o nível da produção industrial estagnou faz uns cinco anos. Obviamente, importamos parte do nosso consumo extra.

Cada vez mais, em especial depois de 2007, compramos mais do que vendemos lá fora. Nosso deficit externo cresce. Grosso modo, isso significa que estamos fazendo uma espécie de dívida. Mas o mundo está com menos vontade de nos financiar, digamos. Um sinal disso é que o real perde valor (ficamos, de certo modo, mais pobres).

Aparentemente, estamos tomando emprestado lá fora para consumir, não para investir, dado o crescimento pífio do investimento.

O governo também gasta mais, mas não para investir "em obras". Nos últimos 12 meses, o investimento do governo não cresceu nada.

Parece evidente que, aos poucos, esse arranjo vai se esgotando, o que é difícil de perceber no dia a dia: o governo não tem muito mais como gastar sem criar crise feia, não temos muito mais como "comprar a crédito" lá fora, a inflação indica escassez de recursos produtivos.

Enfim, "deu". Temos de mudar de vida.




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