QUANDO OS AMERICANOS COMEMORAM SUA INDEPENDÊNCIA
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QUANDO OS AMERICANOS COMEMORAM SUA INDEPENDÊNCIA


Ontem foi 4 de julho, uma das datas mais celebradas nos EUA, já que é o dia em que os americanos cortaram os laços com a Coroa Britânica e declararam sua independência. É bom lembrar que os principais fundadores dos EUA eram descendentes de puritanos que vieram ao Novo Mundo para fugir da perseguição religiosa e, em 1776, doze anos antes da Revolução Francesa, exigiram sua independência. Essas eram pessoas extremamente religiosas – que, no entanto, optaram por separar Igreja e Estado, para não haver risco de uma nova perseguição.

Essas origens ajudam a entender porque hoje, enquanto a Europa se seculariza cada vez mais, os EUA permanecem um país muito religioso. Uma pesquisa recente indica que 92% dos americanos acreditam em Deus. E é esquisito: mesmo entre os que se dizem ateus, 21% crêem na existência de Deus ou de um espírito universal. 78,4% da população americana adulta é cristã. Dentro dessa maioria, 51% é protestante, 24% é católica, 1,7% é Mórmon, e 0,7% é Testemunha de Jeová. As outras fés, que não a cristã, representam menos de 5%. E 16% não tem religião, o que inclui ateus e agnósticos. Enfim, para 56% dos adultos americanos, a religião é muito importante em suas vidas – uma alta porcentagem, não encontrada em nenhum outro país desenvolvido. A pesquisa mostra também que a religião afeta a ideologia política. Mórmons e membros de igrejas evangélicas tendem a ser mais conservadores, enquanto judeus, budistas, hindus e ateus são mais liberais. Em questões como aborto e homossexualidade (que a direita cristã chama de “assassinato de bebês e perversão sexual”), isso fica ainda mais evidente. Entre as pessoas que vão à igreja regularmente, seis em cada dez acham que aborto deveria ser ilegal na maioria ou em todos os casos. Entre pessoas que não frequentam a igreja com regularidade, esse número cai para três em dez.

A pesquisa me deu uma pontinha de esperança, pois mostra que a imensa maioria dos americanos acredita que há mais de um caminho para a salvação. Eles não acham que só a religião deles contém A Verdade, e isso pra mim é sinal de tolerância. Mas então, por que tantos seguem falando como se só a Bíblia fosse a luz, usam o livro sagrado para justificar seu racismo e homofobia, e agora concentram toda sua artilharia na destruição de Barack Obama? Numa carta com o título “Exponha Obama”, a direita cita um discurso que Obama deu em maio: “Não podemos dirigir nossas caminhonetes [SUVs], comer o quanto quisermos, manter nossas casas aquecidas o tempo todo, e esperar que os outros países concordem”. Pra direita, uma declaração dessas equivale a ser anti-americano e a dizer que os EUA não são mais uma grande nação e que não merecem dominar o mundo e usá-lo como sua bomba de combustível. A questão do merecimento é essencial, já que tem raízes religiosas. Quando nós, brazucas, falamos que Deus é brasileiro, estamos brincando. Mas muitos americanos realmente acreditam ser o povo eleito. Só que americano não diz que Deus é americano. Os lemas deles são outros: “In God we trust” (“Em Deus confiamos”, estampada inclusive nos dólares) e “God bless America” (Deus abençoe a América). A confiança em Deus é pra que Ele siga “abençoando” a América. Quando acontece um furacão Katrina, a direita cristã prega que Deus está punindo o país por estar se afastando de sua religiosidade. Muitos evagélicos crêem que o Katrina serviu pra impedir que uma parada de orgulho gay se realizasse lá. E como boa parte da direita cristã é racista, veio a calhar que 80% de Nova Orleans fosse negra. Não eram só os gays que deviam ter pecados pra pagar.

A direita fica possessa com essa declaração do Obama e lembra que, na década de 70, com a crise do petróleo, outro democrata, o Jimmy Carter, pediu pra população usar menos o carro e manter as casas menos aquecidas. Isso é ultrajante para um povo que sempre fez o que quer e pensa que essa é a vontade de Deus. Eles chamam carros pequenos de “armadilhas de morte”. É incrível: se você não tem uma pick-up, você está correndo risco de vida ao dirigir um carro menor. Como se os carros se mexessem sozinhos, sem um motorista por trás. E como se fosse possível ter um mundo auto-sustentável com um país em que apenas 1% dos produtos comprados ainda é usado após seis meses de vida. Muitos americanos associam a cultura do desperdício ao American way of life.

Mas, felizmente, para cada membro da direita cristã que escreve que “Deus nunca disse que a escravidão de negros era errada”, e “Homossexualismo é como cuspir nos olhos de Deus”, existe algum americano mais liberal que vem com uma sacada dessas: “Eu acredito em Deus; é o fã-clube dele que me assusta”. Sem dúvida, trata-se de um país dividido, que nem o 4 de julho consegue unir.

Às vezes me parece difícil crer que os EUA, tão dependentes do petróleo e de um consumismo exagerado, ainda tenham alguma independência pra comemorar.O operário diz ao elefante, símbolo do Partido Republicano: “Não sou o cara mais liberal do mundo, mas é óbvio que vocês estão usando o casamento gay como uma manobra política barata”. O elefante responde: “Manobra política barata?! Você tá de gozação? Você não viu as faturas dos nossos consultores de campanha, viu?”





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