QUEM FALA EM "FALTA DE ROLA" DEFENDE ESTUPRO CORRETIVO
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QUEM FALA EM "FALTA DE ROLA" DEFENDE ESTUPRO CORRETIVO


Um caso horrível no Tocantins: o pai de uma garota de 14 anos tentou estuprá-la. A causa é nobre, se você for homofóbico -- ele queria curar a menina, que é lésbica.
Isso tem nome: estupro corretivo. É bastante comum na África do Sul (tanto que já foi narrado no excelente romance Desonra). Volta e meia é defendido em sites de ódio criados por misógino. Calcula-se que 6% das vítimas de estupro que procuraram o Disque 100 eram lésbicas. 
A ideia é tão simples quanto antiga. A relação sexual entre lésbicas não é vista por muitos como completa. 
Para o senso comum, falta alguma coisa, mesmo que essa coisa possa ser adquirida em qualquer sex shop por um preço módico. Além do mais, o relacionamento nunca é visto como sério. É algo que acontece enquanto as mulheres não conhecem um macho de verdade, que vai fazer com que elas se reencontrem com a sexualidade "normal".
O mais incrível é que tem gente que defende "cura gay", como se orientação sexual fosse uma doença que precisasse ser tratada. A psicóloga Marisa Lobo, por exemplo, que quase teve seu registro cassado pelo Conselho de Psicologia (que não considera homossexualidade uma doença), é uma dessas pessoas.
Num hangout, no min 15:40, Marisa diz sobre Sara Winter, que ela, Sara, "não combinava com isso tudo" (de feminismo e, suponho, bissexualidade, já que Sara se diz "ex-bissexual"): "Até que ela engravide e tenha um bebê nos braços, aí ela vai ver o que é ser mulher [...] Ela é assim até achar um belo de um macho que ela se apaixone". 
No minuto 29:30, Marisa diz que no movimento feminista "a maioria nem mulher são [sic], vamos falar bem português correto que eu não tenho medo de falar a verdade".
E, a partir de 49:50, a psicóloga afirma: 
"Agora [o movimento feminista diz:] eu não quero fazer o que o homem faz, eu não quero ter os mesmos direitos do homem, eu quero ser o homem, eu quero o lugar do homem primeiro, e roubou o lugar do homem, pegou o lugar do homem, e de repente lugar do homem não me serve mais, eu quero ser o homem. Aí hoje, ironicamente, as feministas que dizem nos defender não são mulheres. São homens, porque de acordo com a ideologia de gênero, elas são lésbicas, se sentem homens, do quê que elas estão defendendo a gente? Quer dizer, essa luta de mulher não é das feministas porque a maioria das feministas são sapatão, são lésbica, não defende mulher porque elas não se sentem mulher, o que é que estão nos representando, então é uma doideira muito grande" (tudo sic). 
Marisa acha que homossexualidade é doença que pode ser curada quando a lésbica encontra "um belo de um macho" ou tem um bebê. Até então, a lésbica está indo contra a sua natureza e sendo homem. Ela precisa virar mulher. 
É um discurso meio idêntico ao do pai que tentou fazer sua filha lésbica "virar mulher", não?
Não estou dizendo que Marisa apoie o estupro ou o incesto. Porém, a ideologia por trás -- que uma lésbica pode ser curada com a introdução de um pênis na vagina -- é a mesma. E, evidentemente, Marisa não está sozinha nesta (falta de) noção. Toda vez que um misógino assumido ou um desses zueiros da internet (que também são misóginos) diz "Isso é falta de rola", o que ele está querendo dizer? 
Será que essa "falta de rola", que cura todos os problemas das mulheres (mas não dos homens), sugere sexo consensual? Pra mim não parece. Este é um comentário que foi deixado ontem aqui no blog:

Feminismo e lesbianidade, de acordo com este comentarista (e de acordo com Marisa), é falta de rola. 
Mas não pode ser qualquer rola. Talvez não possa ser a rola que a feminista ou a lésbica escolha, que seria a de homens de Ciências Humanas, mais próximos a elas, amigos delas. Tem que ser de um homem "cacetudo", que usará sua rola como remédio, como símbolo de poder e de dominação. 
E vem cá, por que diachos uma lésbica iria querer uma rola? Quando se diz que a lésbica precisa de rola, soa como algo bem violento. Como estupro mesmo. Mas é por uma boa causa: para curá-la dessas degenerações de não gostar de rola. 
Vocês aí, que repetem "É falta de rola" e seus derivados a cada minuto, no quê o pensamento de vocês é diferente ao do pai da menina lésbica que tentou aplicar-lhe um estupro corretivo? 
Pra mim, vocês são cúmplices no crime em Tocantins. 




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