Por Tereza Cruvinel, em seu blog:Lula e Dilma almoçam hoje para fechar os detalhes da reforma ministerial. As linhas fundamentais, entretanto, já permitem dizer que a reforma do governo alcançará seu principal objetivo, que é debelar a crise política e a instabilidade parlamentar. Acolhendo a estratégia proposta pelo ex-presidente Lula, Dilma fez os dois movimentos a que vinha resistindo. Removeu Mercante do Gabinete Civil e abraçou mais amplamente o PMDB, que alargou seus espaços no governo. A oposição sentiu o tranco. E não gostou, principalmente, da saída de Mercadante. Os conflitos que a presença dele ensejava, principalmente com o vice Michel Temer e o PMDB, eram um ingrediente com que a oposição contava para engrossar o caldo do impeachment.
É cedo para saber como se comportará o PMDB mas, pelo menos por algum tempo, os que se reconciliaram com o PT-Governo proporcionarão a Dilma as condições para a estabilização política essencial: a aprovação de matérias fiscais para reduzir o estresse do mercado e a contenção da ofensiva do impeachment. Alguns vão continuar conspirando ou votando contra o governo mas nesta altura, o investimento foi na conquista da maior fração. Apoio integral do PMDB ninguém nunca teve. Dilma é que não terá.
Ela afagou Temer mantendo ministros que ele aprecia, como Eliseu Padilha e Henrique Alves, e apostou alto na aliança com o líder na Câmara, Leonardo Picciani, numa triangulação com o governador Pezão e o prefeito Eduardo Paes. E Lula, desde agosto, trabalhou muito para a recomposição com o presidente do Senado, Renan Calheiros, que vem se mostrando um aliado altivo mas fundamental. Ainda mais agora, depois do conflito aberto com o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, que o desafiou sabotando a sessão dos votos que deveria ter ocorrido ontem, quinta-feira. Ela era importante para o governo como sinal de compromisso com a austeridade, pois manteria vetos a desatinos fiscais. Ficou para terça-feira.
O governo estava no pior dos mundos há duas semanas quando o ex-presidente Lula veio a Brasília, em 17 de setembro, decidido a montar com Dilma e o PT uma estratégia para salvar o governo. Urgia debelar a crise política e evitar o avanço do impeachment. As relações com Temer haviam azedado completamente e a base fazia água no Congresso. Na economia, o Brasil perdera o grau de investimento, depois da trapalhada do orçamento deficitário e do recuo inicial na CPMF. Dilma-Levy haviam lançado um pacote fiscal sobre o qual Lula nem fora consultado. Seu conselho foi para que ela cumprisse a promessa de redução de ministérios (embora o corte em si tenha pouco sentido fiscal) para promover uma recomposição política verdadeira. E para isso, ela teria que ceder em dois.
Aqui Lula teria dito, talvez com outras palavras, que é melhor perder ministérios que a Presidência. Alguns acharam a frase escandalosa mas isso é o que pensariam com seus botões todos os políticos que estivessem na mesma situação. A franqueza política de Lula às vezes vira sincericídio mas no geral, ele tem ganhado com ela. Coube-lhe, depois, convencer o PT a engolir o sapo, tanto em reunião com bancadas como com a Executiva do partido. Era hora de entregar os anéis.
Lula e o que ele representa no PT também reconquistaram terreno no governo, com a volta de Berzoini à coordenação política e a ida de Wagner para o Gabinete Civil. Dilma também fez movimentos importantes por conta própria, como a reunião em que convenceu o PDT a ficar no governo e o encontro com governadores do PSB. Mesmo rejeitando o ministério oferecido, o PSB comprometeu-se a votar contra o impeachment, se o processo chegar a tal ponto.
Jogo jogado, com Lula e Dilma gastando os últimos ases. Resta saber se virá agora um movimento semelhante em relação à economia. O mercado segue nervoso, especulativo e a recessão vai cavando seu poço. Mas se a crise política de fato arrefecer, poderá contaminar positivamente o humor dos agentes econômicos. Embora não tenha gostado do pacote fiscal, Lula o defenderá. Acha que agora o melhor é fortalecer Levy. Um sinal, o ex-ministro Mantega não assinou o documento da Fundação Perseu Abramo com críticas à política econômica. Mas ele quer medidas mais "aquecedoras" da economia, como aumento de crédito via BNDES e bancos públicos.
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