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Reservas à dissolução parlamentar
«(...) Se, do ponto de vista constitucional, a dissolução parlamentar é inatacável, do ponto de vista político ela parece-me muito contestável. (...) Dá a impressão (e, em política, as impressões contam) de que Jorge Sampaio quis afinal corrigir a sua decisão de há quatro meses atrás quando aceitou a posse deste Governo. Mas, se a sua decisão estava correcta nessa altura, não se vê por que é que tinha que ser agora corrigida: se lermos o discurso do Presidente da República quando anunciou a nomeação de Santana Lopes, as condições que justificaram essa decisão, nomeadamente a existência duma maioria estável e coerente na Assembleia da República, não se alteraram de forma fundamental.
Não é bom, nem para a imagem do país nem para a imagem do Presidente, que um Governo seja demitido por ser objecto duma campanha de imprensa desfavorável ou de comentários menos elogiosos das tais «forças vivas» do país (de que eu desconfio como da peste): os nossos empresários, a nossa imprensa, os nossos sindicatos... É que, muito embora a minha opinião pessoal seja extremamente negativa a respeito do Governo, não deixa de ser isso mesmo: uma opinião. Tal como várias outras, abundantemente expressas nestes últimos meses, semanas e dias. Dizer, por exemplo, que o artigo de Cavaco Silva foi decisivo para a posição do Presidente da República é dar a Cavaco Silva uma autoridade que nada permite atribuir-lhe: por certo, não a Constituição nem as regras normais do jogo político? A sua opinião é importante mas certamente não mais nem menos importante do que a de Santana Lopes ou Paulo Portas, que defendem orientação diferente.
Nem para o país, esta é a boa solução. José Sócrates chegará ao poder cedo demais e é de temer que, sem tempo nem para formar uma equipa que ultrapasse o quadro restrito dos barões socialistas nem para pensar adequadamente os exactos contornos da solução de esquerda moderada que defende (e esta reflexão é essencial para conciliar as expectativas do eleitorado que nele votará com as exigências da governação, dessa governação moderna e dinâmica que pretende o novo secretário-geral do PS), se deixe envolver no clima de coscuvilhice que deu cabo do último governo de Guterres. Resta-nos esperar que, pelo menos, a maioria absoluta provável o alivie da necessidade de recorrer aos homens de Ponte de Lima?»
(José Pedro Pessoa e Costa)
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