SE EU FOSSE UM BIG MAC
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SE EU FOSSE UM BIG MAC


Nos EUA existe o dollar menu nas lanchonetes fast food. No Brasil sanduíche de grife é comida de rico.

Segunda foi um dia especial. Eu e o maridão fizemos o que costumamos fazer sempre numa sexta-feira, mas numa segunda. Fomos ao supermercado e depois ao shopping, carregando as bolsas de pano com a comida (porque não usamos sacolas de plástico), pra ver um filme. Foi estranho porque o super se encontrava lotado, em plena segunda. Imagino que o pessoal estava voltando das férias. Enquanto esperávamos na fila, a caixa e sua colega, que ajuda a embalar as compras, riam com um cliente. Quando chegou a minha vez de ser atendida, a caixa, ainda rindo, falou alguma coisa que não entendi, e seguiu com uma pergunta: “Você já deu a bundinha?”. Eu fiquei confusa, e indaguei: “Foi isso que o cliente perguntou pra vocês?”. E a caixa: “Não, não. A gente tava falando de cerveja. Mas e aí, você já deu a bundinha?”. Frente a minha cara de perplexidade, quiçá até de susto - o que é isso, moça? Eu te conheço? Será que morri e reencarnei na pele de alguma amiga íntima sua? -, ela explicou que “dar a bundinha” tem algo a ver com beber cerveja pelo lado de baixo da lata. Algo assim. Eu só pude balbuciar: “Eu não bebo”. E fui embora rapidinho.
O ano começou bem, como você tá vendo.
Chegamos ao cinema, que tinha uma fila imensa pra ver E se eu Fosse Você 2. Deixei o maridão na fila, e fui comprar um mini-calzone que pra mim é a última sensação: vem carne cortada em cubinhos com quatro queijos. Enquanto não viro vegetariana, muito menos vegana, devo declarar que amo carne com queijo, e que não sei como os judeus, com sua cozinha kosher que não permite misturar carne e leite, fazem pra se divertir. Enfim, aquele mini-kalzone custa 5 reais. Eu acho caro, porque o trequinho é pequeno, mas praticamente não há outra coisa pra se comer num shopping por esse preço. Aí, passando pelo McDonald's, vi o preço do Big Mac. Foi chocante. Cheguei na fila e disse pro maridão: “Amor, chuta quanto custa um Big Mac aqui no Brasil”. E ele: “Não sei: seis reais?”. Eu: “Ahn, não.”. Ele: “Cinco?” Eu: “Não”. Ele: “Menos que cinco não deve ser”. Eu: “Você tá falando em dólar ou em real?”. Quando lhe contei o preço - doze reais! - ele quase caiu de costas em cima de alguém na fila.
No ano em que vivemos nos EUA, comemos pouquíssimas vezes no McDonald's . Quando comemos, foi só porque estávamos com fome e queríamos economizar. Lá e nas concorrentes eles têm o que chamam de “one dollar menu”, o cardápio de um dólar. Um cheeseburger sai por um dólar. Um sundae. Um pacotinho mini de batata-frita. Tudo um dólar cada. Que eu saiba, não existe alimento pronto mais barato que se se possa comprar nos EUA. Ou seja, McDonald's é comida de pobre. Todos os estudos mostram que, nos EUA, há muito mais lanchonetes fast-food em vizinhanças pobres (e negras) do que ricas. Não sei como é no Brasil. Pode ser que existam McDonald's em favelas, mas duvido que vendam tantos Big Macs de doze reais quanto nos shoppings. Porque, convenhamos, doze reais é dinheiro pra chuchu por um sanduíche. Eu e o maridão debatemos sobre quantos cheeseburgers a um real vendidos na esquina aqui de casa precisaríamos comprar pra ter o equivalente a um Big Mac. Dois? Três, sendo muito generosos? A gente compra três e coloca um em cima do outro, tá bom? Talvez o pão não seja com gergelim, mas acho que consigo sobreviver sem. E alguém vai ter que suar muito pra me convencer que quem come batata-frita tá muito preocupado com gergelim!
Sei lá, eu só acho divertido que comida de pobre americano seja a mesma que dá status à classe média brasileira. Essa mesma classe média que comemora quando um Starbucks ou um Burger King chega ao Brasil, porque isso é sinal de civilização. Lembro quando o primeiro McDonald's foi inaugurado na Av. Paulista, na década de 80, e o pessoal só faltava se ajoelhar diante de tanta grandeza. Era como se Tio Sam tivesse tido piedade de nós.
E aí fomos ver E se Eu Fosse Você 2. Eu não sou uma completa idiota. Imaginava que, com aquele trailer, e com o primeiro filme sendo a bomba que é, a sequência não seria boa. Mas sabe quando a vontade de ir ao cinema ver qualquer coisa fala mais alto? E eu gosto do Tony Ramos. Mas o filme é revoltante! Reforça todos os estereótipos de como homens e mulheres devem se comportar numa sociedade machista. Mesmo o pessoal que morria de rir com as piadas esdrúxulas engasgou numa cena em que a mulherzinha diz que quer do ex-marido apenas uma pensão de 4 mil reais por mês. Isso não é dito com suprema ironia - alguém até lembra que a maior parte da população sobrevive com menos. Eu me pus a calcular rapidamente quantos Big Macs dava pra comprar por mês com essa pensão. Deu uns 300. De onde deduzi que sim, é possível viver com tão pouco dinheiro no Brasil. E sem precisar fazer o que a caixa do supermercado perguntou se eu fazia.




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