Segurança tem custo
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Segurança tem custo



Rodrigo Constantino, revista VOTO

Vivemos em uma época um tanto acovardada, em que muitos passaram a crer que é possível eliminar os riscos da vida delegando a responsabilidade ao governo. Com o auxílio das leis, vamos impor alimentos saudáveis, banir o tabaco da face da Terra, cortar a fritura e a gordura, produzir automóveis ultra-seguros e por aí vai. Tudo em nome de uma vida mais protegida e prolongada. Poucos se dão conta, porém, de que esta obsessão por mais segurança tem custos.

Vejamos o caso do automóvel. A paranóia para se evitar acidentes, sempre atacando os sintomas em vez das causas, já levou à criação de uma lei intolerante ao extremo com o consumo de álcool. O sujeito que sair para jantar com a mulher e beber uma taça de vinho estará cometendo um crime se pegar no volante depois. O custo indireto desta medida radical pode ser a redução do faturamento dos restaurantes, suborno para policiais, multa para o governo, ou mais gasto com táxi. Tudo por causa da maldita taça de vinho!

A intenção é boa: impedir que bêbados sem condição alguma peguem na direção dos carros, colocando a vida dos outros em evidente perigo. Mas o custo de exagerar na dose – não da bebida, mas da lei – pode ser muito alto. A dificuldade de se medir seu efeito indireto faz com que a maioria note somente os resultados diretos no curto prazo: a redução de acidentes. Mas se esta é a única meta, e se vamos ignorar seus custos, então banir de uma vez o uso do automóvel seria ainda mais eficiente para acabar com os acidentes.

Quando colocamos a situação desta forma, a maioria compreende que tal medida seria absurda, pois seu custo seria muito elevado. Mas estamos apenas discutindo uma questão de grau. A tal “Lei Seca” também impõe pesados custos, e estes devem ser levados em conta na hora de decidir a questão. O ponto principal é reconhecer que a segurança tem custos, e ela não deve, por si só, ser o único objetivo. Há outros valores em jogo, e devemos evitar o sensacionalismo daqueles que repetem que “salvar vidas não tem preço”. Tem sim, e ele pode ser bem elevado!

Os economistas aprendem logo cedo que os recursos são escassos, e que seu uso passa constantemente por uma concorrência entre diferentes alternativas. A segurança é mais um item que deve ser levado em conta, mas não o único. Ainda sobre automóveis, podemos pensar nos itens de segurança de um carro. Freios ABS, airbags, blindagem, tudo isso pode realmente oferecer mais segurança para o usuário. Mas nem por isso vamos assumir que são isentos de custo.

Quando o governo obriga os fabricantes a incluir esses itens nos modelos básicos, isso envolve preços maiores para os consumidores. Ignorar este efeito é fugir da realidade. Se todos os carros terão que oferecer airbags de fábrica, isso quer dizer que o custo será repassado para o preço final. Em outras palavras, o governo está decidindo pelo consumidor o que ele deve valorizar mais entre as alternativas concorrentes. Talvez o consumidor preferisse um sistema de som mais potente. Ou talvez ele achasse melhor economizar esta quantia e usá-la para outra finalidade qualquer.

Logo, sempre que o governo apela para a mensagem de maior segurança para impor medidas, deve-se ter em mente o que ele está fazendo de fato: escolhendo pelos consumidores. A premissa por trás desta mentalidade paternalista é que os próprios consumidores são incapazes de escolher por conta própria. Assume-se que o usuário não valoriza tanto sua própria segurança, e que ele assim deveria fazer. Trata-se de uma visão autoritária e depreciativa do indivíduo, tratado como mentecapto.

Viver é arriscado. É impossível, além de indesejável, eliminar todos os riscos. E, como os recursos são escassos e segurança tem custo, deve-se sempre encarar a busca por maior segurança como um “trade-off”, ou seja, algo é deixado de lado em troca dela. Quando observamos a coisa por este prisma realista, a questão que surge é a seguinte: quem deve escolher? Muitos pensam que cabe ao governo esta escolha. São os adeptos de uma crença autoritária e elitista, um tanto platônica até, de que os governantes são mais esclarecidos e devem impor suas preferências aos demais.

Outros aceitam que as escolhas devem ser do próprio indivíduo, que por sua vez deve assumir a responsabilidade por elas. Se viver é arriscado e se mais segurança significa menos de algum outro bem, então é o próprio indivíduo quem deve pesar os prós e contras e decidir, quando apenas a sua segurança está em jogo. É a postura dos liberais que, como Thomas Sowell, reconhecem que não há nada mais perigoso do que deixar algumas pessoas tomarem as decisões pelas quais outros terão que pagar pelos custos.

Como sabia Hayek, outro grande liberal, a liberdade concedida somente quando se sabe a priori que seus efeitos serão benéficos não é liberdade. Ser livre, afinal, significa ser livre para cometer grandes erros ou correr riscos mortais. Segurança custa caro, e quando imposta sacrifica o que há de mais valioso para o indivíduo: sua liberdade. Agradeço a preocupação dos demais, mas podem deixar que da minha segurança eu mesmo cuido!




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