SENTIMENTOS SOBRE A TERAPIA
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SENTIMENTOS SOBRE A TERAPIA


Gente, fui ao psiquiatra! Primeira vez na vida. Na verdade, não tenho grandes problemas, mas faltavam dois dos quatorze exames médicos necessários pra admissão na UFC (e eu fico torcendo muito, muito pra que nenhum tenha perdido a validade). Semana passada eu fui ao dermatologista, que me atendeu em dez minutos (consulta social: 100 reais), mas pelo menos teve a oportunidade de me ver de sutiã. E eu ainda esqueci de perguntar pra ele sobre as minhas olheiras! Vocês devem ter reparado que não falei nada dos meus outros exames, exceto do raio x que revelou “degenerações na coluna”, e minhas costas passaram a doer no momento que abri aquele envelope. Mas, então, por que eu falaria da minha consulta psiquiátrica? Ah, porque foi interessante. E porque o psiquiatra era lindo! Não gosto de homem de barba, mas pra esse eu abria uma exceção.
Vou contar tudo que conversamos, pois imagino que sigilo profissional entre médico e paciente só se refere ao médico, certo? Mas antes, preciso dizer que, ao contrário do maridão, não tenho o menor preconceito contra psicólogos e psiquiatras. Atenção, fãs do maridão, ouviram? Ele é ridiculamente preconceituoso contra “problemas da mente”. Mas eu não. Aliás, eu fiz um semestre de terapia em grupo em 2007, e adorei. Faria de novo com o maior prazer. Foi pelo SUS. Como na época eu estava fazendo reeducação alimentar (posso falar nisso em outro post, se quiserem), eu recebia mais atenção médica que o normal. E a médica disse que, se eu quisesse fazer terapia pra tratar meu vício de chocolate (sério mesmo), ela me dava um atestado. E eu pensei, por que não? Só que tinha fila de espera pra entrar na fila de espera! Mas em dezembro de 2006 surgiu a possibilidade. Apareci no posto de saúde perto de casa para fazer a triagem. E lá quase desisti, porque vi que as pessoas tinham problemas de verdade, como depressão, tentativas de suicídio, compulsões diversas, alcoolismo, ao invés de uma frescurinha como a minha. Me senti mal ocupando o lugar de algum paciente que pudesse precisar de terapia muito mais do que eu. Porque eu acho que se beneficiar de terapia, todo mundo se beneficia. É algo que só pode fazer bem, a meu ver. Mas precisar, precisar mesmo, bom, tem gente que precisa mais. E lógico que o pessoal ia contando suas histórias na triagem e eu ia chorando. Se eu choro em filme, não vou me emocionar com dramas ao vivo? Eu realmente torci pra que aquelas pessoas ficassem bem.
Mas me encaminharam pra um grupo que, de acordo com a psicóloga, teria mais a ver com o meu nível sócio-econômico. E na hora eu disse: “Não, pra mim tanto faz, não faz diferença”, mas faz sim. É mais fácil conversar com gente com um perfil similar ao seu. Queimam-se etapas. Nesse grupo em que entrei havia quatro homens e uma mulher que já se reuniam faz tempo. Todos muito simpáticos e que me acolheram hiper bem. Em poucas semanas a gente já tava jogando pôquer aqui em casa (aproveitando que alguns moravam perto). Uma amiga achou esquisito e disse: “Ah, só você mesmo, Lolinha, que vai fazer terapia pra fazer amigos!”. Mas não entendo o que há de errado em unir o útil ao agradável. Se bem que tanto a terapia quanto a parte dos novos amigos entrava na categoria do agradável. Eles diziam que eu deixava as sessões mais leves e os fazia rir.
As duas psicólogas que tivemos (uma de cada vez) eram excelentes, cada qual ao seu modo. Havia também uma terapeuta ocupacional que era meiga e boa pessoa, ma
s... Ahn, ela era crente e várias vezes suas intervenções caíam no campo da auto ajuda e do “aceite o Senhor e salve-se”. Felizmente ela falava bem pouquinho.
Não posso nem reclamar. Como já disse, eu adorei fazer terapia. E foi muito triste ter que abandoná-la pra viajar pra Detroit. Quando voltei, um ano depois, o grupo já não existia mais e eu teria que entrar em outra fila de espera pra participar de um outro grupo. Desisti.
Mas gosto tanto de terapia que, há uns quinze anos, considerei cursar Psicologia. Cheguei a ir a uma faculdade particular (em Joinville não há curso público de Psicologia) pra ver a grade curricular. A inclusão de matérias como Anatomia e Biologia Química ou algo do gênero me desmotivou.
Opa! Enrolei, enrolei e não contei nada sobre minha conversa com o psiquiatra de ontem. Conto depois. Mas fiquem com uma prévia: perguntei pra ele se os psiquiatras podiam atender os pacientes terapeuticamente, e ele disse que sim, que basicamente os psiquiatras podem fazer quase tudo que os psicólogos fazem (menos aplicar testes de QI, segundo ele), mas que os psicólogos não podem prescrever receitas. Ele continuou que é raro um psiquiatra tratar um paciente com terapia porque medicamentos costumam ter efeito mais rápido, e porque a hora de um psiquiatra é mais cara que a de um psicólogo. Ficaria caro demais pra um paciente fazer terapia com um psiquiatra, ao invés de com um psicólogo. Aí eu pensei cá com os meus botões se essa discrepância salarial não ajuda a explicar o fato da maior parte dos psicólogos ser mulher. Imagino, não sei, que entre os psiquiatras o negócio esteja mais equilibrado entre homens e mulheres. Será que Psicologia, assim como Pedagogia e Letras e Nutrição, não seriam profissões reservadas a mulheres justamente por que paga-se menos? E aí fazemos a pergunta Tostines: psicólogas ganham menos por serem mulheres ou mulheres são psicólogas por “poderem” ganhar menos, já que a sociedade continua vendo os homens como provedores da família?

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