Por Altamiro BorgesNesta quarta-feira (24), a Justiça de São Paulo anunciou que seis executivos das empresas Alstom, Tejofran, MPE e Temoinsa se tornaram réus sob a acusação de terem fraudado as licitações para a reforma de duas linhas do Metrô (Azul-1 e Amarela-3) e para a modernização de 98 trens. O esquema bilionário já ficou conhecido como "trensalão tucano" - mas a mídia chapa-branca insiste em chamar carinhosamente de escândalo do "cartel dos trens". O curioso nesta decisão é que nenhum integrante dos vários governos do PSDB (Mário Covas, José Serra e Geraldo Alckmin) foi incluído como réu pelo judiciário paulista - famoso por suas relações promíscuas com o tucanato.
Segundo relato da Folha, as fraudes denunciadas agora "teriam ocorrido entre 2008 e 2009, no governo de José Serra (PSDB) à frente do Estado. O custo das obras e da modernização, estimados inicialmente em R$ 1,5 bilhão, consumiram um total de R$ 1,7 bilhão após as licitações. As investigações sobre o cartel no Metrô e na CPTM abrangem o período que vai de 1999 a 2010, sempre em governos tucanos. Os executivos que se tornaram réus nesta quarta-feira podem ser condenados a penas que variam de 6 a 14 anos".
Apesar das inúmeras provas dos crimes, a juíza Cynthia Bezerra da Silva recusou o pedido de prisão do executivo César Ponce de Leon, que foi diretor da Alstom e hoje vive na Espanha. A solicitação foi feita pelo promotor Marcelo Mendroni, por acreditar que, como ele vive fora do país, escapará de eventuais punições. "De Leon, porém, se tornou réu por formação de cartel e fraude à licitação. Os outros executivos que se tornaram réus são os seguintes: David Lopes, Maurício Memória e Wilson Daré (os três da Temoinsa), Telmo Giolito Porto (Tejofran) e Agadir Abreu (MPE)".
Para o promotor, que integra o Grupo Especial de Delitos Econômicos do Ministério Público, não há mais dúvidas sobre a formação de cartel e a fraude nas licitações. "Não houve disputa alguma [entre as empresas]. Cada lote ficou com um consórcio", afirma Marcelo Mendroni. Um e-mail de César de Leon, datado de 2008, fala explicitamente em "divisão do bolo", uma menção sobre a combinação da divisão da concorrência dos lotes licitados. A denúncia do bilionário esquema do "trensalão tucano" só veio à torna devido aos escândalos internacionais de corrupção da multinacional alemã Siemens. Se dependesse das "autoridades" brasileiras e da mídia tucana, talvez ela nunca seria descoberta.
A decisão da Justiça de São Paulo, porém, evidencia que os tucanos de alta plumagem poderão seguir distantes das cadeias. Os executivos - alguns bagrinhos - foram incluídos como réus, mas ficarão em liberdade - graças à benevolência da juíza Cynthia Bezerra. Já os chefões do PSDB nem sequer foram mencionados. E, no caso da mídia chapa-branca, ela segue tratando o escândalo como o "cartel dos trens" - sem manchetes nos jornalões ou comentários hidrófobos nas emissoras de rádio e televisão. A total impunidade ainda deixa os tucanos livres e soltos para, na maior caradura, esbravejarem contra a corrupção. Já até virou piada nas redes sociais: escape da prisão, filie-se no PSDB!
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