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Táxi não é o vilão - EDITORIAL FOLHA DE SP
FOLHA DE SP - 19/12
Muitas são as razões que colaboram para a lentidão dos ônibus que circulam pela rede de 129 km de corredores da cidade de São Paulo.
Ausência de pontos de ultrapassagem; inexistência de sistema de cobrança antes do embarque, a fim de agilizar as paradas; sobreposição de linhas, de resto mal distribuídas; péssimas condições de pavimentação das vias; falta de coordenação da rede semafórica (quando os sinais não estão quebrados).
O Ministério Público estadual, contudo, elegeu um vilão: o táxi. Sob ameaça de recorrer à Justiça, o órgão deu prazo de 45 dias para que o prefeito Fernando Haddad (PT) proíba a circulação desse tipo de veículo nos nove corredores de ônibus da capital.
A iniciativa da Promotoria baseia-se em estudo técnico da própria prefeitura, segundo o qual a velocidade dos ônibus é prejudicada pelos carros de praça que utilizam as vias exclusivas.
Isso sem dúvida ocorre. Pelos relatórios conhecidos, entretanto, os táxis passam longe de inutilizar os corredores --o que de fato seria um contrassenso. Esta Folha, cumpre lembrar, tem insistido na necessidade de aprimorar o sistema de transporte coletivo.
Não se trata, portanto, de defender a primazia do deslocamento individual. Seria uma disputa ociosa: na cidade de São Paulo, há 4,5 milhões de passageiros de ônibus e 400 mil de táxis; nos corredores, os primeiros são 99% dos usuários.
Mas, ainda que sejam, a rigor, transporte individual, os 34 mil táxis da capital também prestam um serviço público. Não é por acaso que, desde 2004, na administração de Marta Suplicy (PT), a circulação nos corredores de ônibus é autorizada aos carros de praça que estejam transportando passageiros.
É fundamental que uma cidade diuturnamente congestionada --com cada vez menos espaço à disposição dos automóveis e sem alternativa eficiente à mão dos cidadãos-- conte com uma válvula de escape para os casos em que a rápida locomoção seja necessária.
Transitar pelos corredores é o que possibilita ao táxi servir adequadamente a esse propósito --o de oferecer deslocamento mais veloz para urgências de toda sorte, a que todo cidadão está sujeito.
Arranjos similares são encontrados em muitas capitais do mundo. Paris, por exemplo, faculta aos carros de praça a circulação nas vias exclusivas para coletivos.
Não há dúvidas de que o sistema paulistano de transporte público precisa avançar --e muito. Impedir que táxis com passageiros circulem por corredores, no entanto, só imporá maiores prejuízos a uma população já obrigada a suportar um trânsito caótico.
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