TENHO TANTA INVEJA DA BELEZA DA GISELE QUANTO ELA TEM DO MEU DOUTORADO
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TENHO TANTA INVEJA DA BELEZA DA GISELE QUANTO ELA TEM DO MEU DOUTORADO


Tradução: Você não tem que ser como ela.

Vamos começar pelo óbvio. Gisele Bundchen não tem absolutamente nenhuma inveja de mim. Ela não sabe quem eu sou. Ela não precisa de um doutorado em literatura pra nada. Ela não precisa nem de um diploma universitário. Ela deve ser a modelo mais bem-sucedida da história, é muito profissional, e merece colher os frutos. E não é só que ela é linda, mas que ela também é vista como inteligente. Ninguém seria tolinho a ponto de pensar que Gisele não tem um cérebro privilegiado. Não se chega onde ela chegou só pela sorte e aparência. Sem falar que Gi, além de multimilionária, também parece realizada em sua vida pessoal, com marido e filho. Certamente ela não tem inveja de ninguém no mundo, muito menos de uma desconhecida como eu.
Acho que ficou claro. Agora vamos pra segunda parte da frase. Essa é mais difícil de provar. Você está sentado? Prepare-se. Pois bem, eu não tenho absolutamente nenhuma inveja da beleza da Gi. Minha vida não seria diferente se eu estivesse dentro do padrão de beleza. Eu ainda seria xingada por quem me odeia pelo que penso e escrevo, só que em vez de me chamarem de gorda, me chamariam de palito. Tenho certeza que ainda diriam que sou o dragão mais horrendo que existe e que a natureza foi cruel comigo. E esses insultos me afetariam tanto quanto me afetam hoje (pausa pra esmagar um mosquito no meu braço. Obrigada. Isso me afetou).
Ao contrário do que tanta gente sabe, nem todas as mulheres no mundo pensam que sua missão na vida é ser decorativa. Nem toda menina quer ser miss ou top model. Eu, por exemplo, nunca quis. Essa realmente nunca foi uma fantasia minha. E olha que eu fui uma criança bonita, do tipo que as pessoas que nunca viram grandes olhos verdes param na rua. Mas, se com 5 e 7 e 12 anos eu já achava estranho ser elogiada por algo que eu não fazia nenhum esforço pra ter, não seria quando eu ficasse mais madura que mudaria de opinião. Quando veio a puberdade e, com ela, os quilos a mais que fazem parte do meu biotipo, eu não me desesperei. Verdade, fiz as dietas que todas as gordinhas fazem e, tal qual 95% (índices oficiais) das pessoas que fazem dieta, engordei tudo de volta e mais um pouco. Ainda assim, sempre estive em Pasárgada, onde era amiga do rei, onde tinha o homem que queria na cama que eu escolhia. Nunca faltou homem por eu estar acima do peso. Eu não tinha nenhum relacionamento mais sério, só sexo, porque eu não queria (o que fazia os carinhas muito desconfortáveis ― homem diz que só quer sexo, mas quando vê que a mulher quer exatamente a mesma coisa, vem com frescuras de sentir-se usado e tal). Tive muitos amantes. Não lembro direito deles, nem com quantos transei. Quando, com 23 anos, tive vontade de fazer sexo com amor e de ter um relacionamento não só sexual, mas também afetivo, conheci o maridão. Foi o primeiro relacionamento sério de ambos. Estamos juntos há 21 anos. Monogâmicos como os católicos e os pombos, porém mais limpinhos (refiro-me aos pombos). Nunca quisemos filhos, nunca tivemos filhos. Temos tudo que queremos e não queremos o que não temos.
Então me explique, por obséquio: se eu nunca quis ter uma profissão que dependesse da minha aparência, se eu me vejo bem bonita do jeito que sou (depende do dia: às vezes mais, às vezes menos; imagino que nem a Gisele se acha bela todos os dias), se eu não acho que é minha função no mundo excitar homens ou embelezar o universo, se eu estou numa relação monogâmica e tenho um homem que me ama como sou, por que mesmo que eu deveria invejar a Gisele? Se sua única resposta é porque eu sou mulher e você acha que toda mulher deve ser bonita e só é bonita quem está dentro de uma ditadura da beleza e mulher morre de inveja uma da outra, bom, aí o problema é seu, não meu. É você que precisa ampliar um pouquinho seus horizontes.
Só que você não quer (quiçá nem possa) ampliar seus horizontes, porque você está convicto que tem razão. Você cresceu achando que toda mulher sonha em ser capa de revista e que aquela que diz que não só pode estar mentindo. Que toda mulher quer ser bela e deslumbrante, assim como todo homem quer ser rico ou piloto de Fórmula I ou os dois. Num artigo muito bom chamado “How to F*ck a Fat Woman”, no ótimo livro Yes Means Yes, Kate Harding expõe o seu pensamento (minha tradução): “A primeira ― se não a única ― prioridade de uma mulher é ser atraente para os homens. Não importa que seja uma mulher hétero que tenha outros interesses, ou lésbicas que não queiram atrair homens. Se você nasceu com uma vagina, sua obrigação básica desde o início da sua adolescência e durante toda a sua vida adulta será fazer-se bonita para o prazer de homens héteros. Não apenas para os homens com quem você não gostaria nem de conversar, quanto mais de fazer sexo ― mas para todos os homens”.
Eu sei, eu sei. Mesmo que eu insista que só tenho que ser bonita pro meu homem (e olhe lá), você não me permitirá este direito ― o que me fará duvidar do seu apreço pela liberdade individual. Você continuará dizendo que devo ser linda pra todos os homens, e patrulhando qualquer homem (começando pelo meu) que ousar me achar bonita. Assim como minha missão na Terra é ser bonita na opinião de todos os machos, a sua será me dizer, várias vezes por dia, o quanto eu falhei miseravelmente no único quesito que importa pra uma mulher. Sei que posso contar contigo: você estará sempre por perto pra me convencer de como sou infeliz por não ser a Gisele. E não vai adiantar nada eu jurar de pé junto que não invejo a Gi nem ninguém (quer dizer, no momento tô invejando qualquer pessoa que tenha fins de semanas e feriados e durma mais de três horas por noite). Porque você sabe muito mais a meu respeito do que eu mesma.
Pra ser justa, se eu não tivesse que fazer nada, eu gostaria de, num piscar de olhos, acordar vinte quilos mais magra e cinco centímetros mais alta e, por que não, treze anos mais jovem (mas com a serenidade de espírito que tenho hoje). Da mesma forma, imagino que, se não precisasse fazer esforço, a Gisele não dispensaria um titulozinho de doutorado no seu currículo. Mas não faria a menor diferença pra ela ser doutora. E nem pra mim ser linda. Apesar de você.




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