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Tensões e ajustes - EDITORIAL FOLHA DE SP
FOLHA DE SP - 01/02
Autoridades precisam mostrar que aprenderam com os erros recentes e agir para proteger o país da crescente turbulência global
Não tem cabimento esperar que governos expressem opiniões pessimistas a respeito do ambiente econômico, doméstico ou global. Poderiam parecer quase anódinas, por esse motivo, as recentes manifestações de autoridades brasileiras em relação aos efeitos que a turbulência financeira internacional terá no Brasil.
Em resumo, integrantes graduados do governo Dilma Rousseff (PT) têm dito que o país não foi engolfado pela "crise dos emergentes".
Não obstante serem verdadeiras as afirmações de que o Brasil dispõe de defesas, tais como grande volume de reservas internacionais em moeda forte, e de que indicadores econômicos fundamentais não estão em estado crítico, teme-se que a demonstração de tranquilidade possa traduzir uma predisposição para novas negligências.
O governo corre o risco de subestimar o problema da finança internacional. Pode ser que nem venha a ocorrer uma "crise" propriamente dita, com desfechos dramáticos para as tensões que abalam países emergentes, como o Brasil. Mas tais tensões já causam efeitos muito concretos.
Economias relevantes fora do mundo desenvolvido elevaram os juros a fim de se protegerem de desvalorizações extremas de suas moedas e de fugas de capital. Como resultado, devem crescer menos.
O crescimento mais lento de China e demais emergentes reduz pressões inflacionárias no mundo inteiro. Essa aparente boa notícia, porém, tem potencial para afetar a Europa, que enfrenta risco oposto, o de deflação. Na prática, isso se traduziria numa alta da taxa de juros num continente que mal saiu da recessão.
Os problemas do momento são fruto, de resto, de um processo que mal teve início --o ajuste da política monetária americana (redução de estímulos e alta de juros) e a redução do ritmo chinês de crescimento. Novas rodadas de tensão e ajuste ocorrerão. Nesse ambiente, podem ocorrer acidentes financeiros, em parte devido ao comportamento de manada dos mercados financeiros.
O Brasil nada pode fazer a respeito dessa reconfiguração financeira, a não ser reforçar os alicerces de sua economia, fragilizados no último triênio. Países com deficit, inflação e desequilíbrios negativos nas transações com o exterior ficarão especialmente expostos a riscos de reveses nessa transição.
Muito mais do que palavras tranquilizadoras, as autoridades precisam demonstrar que aprenderam com os erros recentes e agir de modo a proteger o país da turbulência. O primeiro passo é evitar incertezas na gestão do Orçamento.
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