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Terroristas são os outros?
Comentando um texto meu no 'Público' escreve PM num dos 'Kalkitos' adjuntos a uma recente coluna de João Miguel Tavares no 'Diário de Notícias':
'Vital Moreira protestou, no Público, contra o epíteto de 'terroristas' que a imprensa dispensa aos iraquianos que têm perpetrado ataques homicidas ou suicidas. Diz Vital que o Iraque é uma nação ocupada e que por isso os ataques aos ocupantes são apenas actos de resistência. Muito bem. Mas e quando esses mesmos iraquianos assassinam pessoal da Cruz Vermelha e das Nações Unidas? Estarão também a praticar actos de resistência, ou são apenas fanáticos e criminosos? P. M.'
Trata-se de uma pergunta puramente retórica, que somente uma leitura apressada do meu texto poderia justificar. De facto, no referido texto eu distinguia explicitamente entre os ataques a objectivos militares e a objectivos civis, para considerar abusiva a designação de 'terrorista' em relação somente aos primeiros. Antes de condenar supostas opiniões alheias – que no caso concreto, a terem sido emitidas, seriam de facto contestáveis –, o meu crítico bem faria em ler com mais atenção os textos visados.
O que me parece evidente no abuso generalizado da noção de terrorista pela imprensa norte-americana de obediência 'bushista' e conexa em relação ao Iraque e à Palestina é a sua flagrante parcialidade e falta de propriedade, abrangendo por um lado nessa condenação indiscriminadamente todos os ataques de um dos lados (o lado islâmico, naturalmente), mesmo quando visando objectivos militares dos ocupantes respectivos, e considerando por outro lado como legítimas todas as acções dos ocupantes, mesmo quando assumem uma dimensão caracterizadamente terrorista, como sucede com as acções israelitas indiscriminadas contra civis, incluindo a destruição de casas e de colheitas dos familiares de alegados terroristas ou arrasando povoações inteiras.
A condenação do terrorismo não pode ter dois pesos e duas medidas. E se fosse lícito estabelecer graus de condenabilidade em relação a ele, é evidente que o dos ocupantes não é seguramente menos condenável do que o das vítimas da ocupação (sobretudo tendo em conta a desigualdade de armas).
Vital M
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