Por Fernando Brito, no blog Tijolaço:Jornalismo não briga com fatos.
Mas também não noticia seletivamente fatos.
Há menos de um mês, caiu uma viga da obra do monotrilho da Linha 17 – Ouro do Metrô paulista, próxima ao Aeroporto de Congonhas, e matou uma pessoa.
O monotrilho, que fará a ligação entre o aeroporto de Congonhas e a rede de trens metropolitanos da capital paulista, era, como está noticiado em uma velha matéria do UOL, ” a única obra de responsabilidade do governo do Estado de São Paulo que consta na Matriz de Responsabilidades da Copa do Mundo”.
É preciso ver em textos antigos, porque, quando do acidente, isso não foi dito ou escrito pela mídia.
Ontem caiu o viaduto Guararapes, obra da prefeitura de Belo Horizonte igualmente parte da Matriz de responsabilidade, matando duas pessoas.
Duas tragédias dolorosas, que mataram seres humanos como eu ou você e que resultaram de erros técnicos incompatíveis com as boas práticas da engenharia, pois ambas estavam em construção, sem desgastes ou acidentes de origem externa.
Pelo que, é claro, ambas são notícia, e notícia importante.
A questão jornalística é: porque o viaduto era da Copa e isso é agitado nas manchetes e o monotrilho “não era da Copa” – uma vez que é igualmente parte das obras para as quais o Governo Federal deu recursos aos governos locais?
Se a queda do viaduto mineiro é manchete, porque a viga paulista foi apenas um tímido registro nos jornais de São Paulo?
Nem no Estadão, que você vê lá em cima, nem na Folha, que reproduzo ao lado. A Folha, aliás, publica a reportagem do desastre no caderno de política.
Ambas mataram pessoas. E em número bem parecido: duas ontem, uma há um mês.
Mas uma é associada a Geraldo Alckmin, estrela do tucanato e peça-chave da eleição e a outra nem vai ser tanto a Márcio Lacerda, um burocrata insípido que – embora filiado ao PSB de Eduardo Campos e cabo eleitoral declarado de Aécio Neves – é nacionalmente desconhecido.
Assim, o monotrilho é obra de Alckmin e o viaduto é “obra da Copa” e, claro, daquela senhora que é responsável por tudo o que acontece na Copa ou em suas obras.
Embora, em nenhum dos dois casos, nem mesmo se possa suspeitar de pressões indevidas para que as obras fossem feitas de forma acelerada e imprudente, porque não seriam mesmo utilizadas na Copa, como é obvio.
Por isso, a politicagem dos jornais brasileiros, sempre asquerosa, adquire aqui tons de morbidez.
A responsabilidade pelos dois eventos é dos responsáveis pelo projeto e execução, das empresas construtoras e dos contratantes das obras, o Governo de São Paulo e a Prefeitura de Belo Horizonte, simples assim. Nas placas das obras, aliás, há os nomes dos responsáveis técnicos, que num caso ou em outro não foram sequer procurados.
E o pior, para a minha profissão, é que a imensa maioria dos jovens profissionais de imprensa, que “se acham”, nem sequer percebem o óbvio.
Obra de engenharia cai porque é mal projetada ou mal-feita. Ou mal fiscalizada.
Não porque é “da Copa”.
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