- No livro do Cormac McCarthy, Moss (personagem do Josh Brolin), na fronteira entre EUA e México, compra o casaco dos rapazes (o legal é que Moss está tão ferido que a princípio acha que são quatro rapazes, depois vê que são três), mas não compra a garrafa de bebida que usa pra passar pela fronteira, já que não há um guarda vigiando. Ele joga a maleta para escondê-la, mas não desmaia e acorda com um grupo de mariachis cantando pra ele – mais um belo toque bizarro dos Coen. Antes d'ele perder a consciência, no livro, pede (e paga) pra um velho mexicano varrendo a rua para que o leve a um hospital.
- No livro, Chigurh (personagem inesquecível do Javier Bardem) encontra Wells (o personagem do Woody Harrelson) no hotel, e fala bastante com ele. Diz que ter sido ferido “mudou sua perspectiva”. Wells (que aprendemos pelo livro que foi um tenente no Vietnã) é hostil, fala pra que ele faça logo o que tem que fazer. Finalmente, Chigurh atira nele no rosto, e desce para revistar seu carro. E aqui há um sério anacronismo. Enquanto ele está lá fora, em frente ao hotel, o telefone do Wells toca, Chigurh o tira de seu bolso e atende e... Uh? Como assim? Telefone celular em 1980? No filme, além de Wells ser menos hostil, Chigurh atira no corpo dele quando o telefone toca, no quarto.
- No livro, antes de Moss ligar pra Wells, ele liga do hospital pra sua esposa, pede-lhe pra sair da casa da mãe, onde está, e diz que vai tentar consertar as coisas. Portanto, ele liga pro Wells na tentativa de devolver o dinheiro. Isso nunca ocorre no filme.
- Em ambos os casos, Chigurh avisa Moss, por telefone, que está indo matar sua mulher (a de Moss; Chigurh não parece ser casado ou ter qualquer relacionamento afetivo), e que ele tem uma chance de salvá-la: é só entregar a mala com a grana. Mas que ele, Moss, não tem salvação. Revoltado, Moss diz que vai matá-lo.
- Pra cada passagem que há no livro falando da ação entre Chigurh e Moss, tem algumas páginas em itálico e em primeira pessoa mostrando o que o xerife sente. Algumas dessas partes são interessantes, como quando o xerife conta que, na década de 30, fizeram uma pesquisa nas escolas perguntando qual o maior problema nas salas de aula, e o pessoal respondeu “alunos que mascam chiclete, copiam lição de casa, trapaceiam nos testes”. Cinquenta anos depois – lembre-se, estamos na década de 80 -, fizeram a mesma pesquisa, e a resposta foi “assassinatos, estupros, roubos”. O tema todo é que os EUA é um país violento e que não foi feito para os velhos. Sabe, como tá no título. Só que o Cormac McCarthy se repete ad nauseum. Os irmãos Coen cortam bastante a intromissão do xerife, mas não o suficiente. E esse erro é fatal, a meu ver.
- No filme fica claro como os traficantes mexicanos descobrem pra onde estão indo a sogra e a esposa do Moss. Um dos mexicanos se aproxima da velhinha pra ajudá-la e a linguaruda conta tudo. No livro vemos que a velha é ainda mais insuportável, vive reclamando por sua filha ter se casado com Moss, e avisa pra todos que tem câncer.
- No livro, Chigurh realmente vai à casa da sogra de Moss com intenção de matar a esposa. Mas elas não estão mais lá. Chigurh então toma banho, come e passa uma noite na casa, muito à vontade.
- Pra mim não tá bem feito como o Moss joga a maleta no meio do matagal na fronteira. No livro ele leva um tempão pra pegá-la, e vai de táxi. No filme é a pé mesmo. Como no filme não há muita noção de tempo (por exemplo, no livro Chigurh e Moss passam cinco dias convalescendo de seus ferimentos), parece que tudo é mais rápido.
Vem aí a parte 3. Aproveita que agora o filme já chegou a vários lugares e assista!