- O quê? Não gostou do final do filme? Pois saiba que esse fim é 100% superior ao do livro. Porque o livro não acaba depois que Moss, Wells, Carla, e principalmente Chigurh saem de cena. Não, o livro prossegue por mais 50 páginas só do xerife repetindo o que a gente já conhece desde o título! É interminável. É um sexto do livro, e não tem razão de existir, na minha modesta opinião. Há um longo papo entre o xerife e seu tio, um homem que vive numa cadeira de rodas, cercado por gatos. No filme essa cena aparece, mas os Coen tiveram a esperteza de cortá-la um monte e colocá-la antes do acidente do Chigurh (se fossem mais ousados, teriam eliminado a cena completamente). Basicamente, nessa conversa no livro, o xerife (personagem do Tommy Lee Jones no filme) revela ao tio seu terrível segredo: ter abandonado seu pelotão durante a Segunda Guerra Mundial, e mesmo assim ter sido condecorado. Cumequié? Tem uma encarnação do mal chamada Chigurh à solta, e a gente precisa ficar interessada no que aconteceu com um xerifinho quatro décadas atrás?! Ah sim, ambos conversam sobre os EUA não serem um country for old men.
- E o livro continua... O xerife se aposenta. Sente-se culpado pela morte de Carla Jean, mas consola-se que não podia adivinhar que Chigurh iria matá-la. Ele fala com os dois adolescentes que viram Chigurh no acidente de carro (porque eles venderam a arma dele, e a polícia notou que foi a mesma arma usada para matar Carla Jean). Um mexicano é condenado à pena de morte por crimes cometidos por Chigurh no começo da trama. O xerife tenta testemunhar a favor do mexicano, mas não adianta. Chigurh é considerado um fantasma. O xerife assiste à execução do mexicano. O xerife visita o pai de Moss. Ambos conversam sobre... você sabe. Tá no título. O xerife fica mais em casa. Sua mulher é muito carinhosa e paciente, mas lhe dá uma cotovelada: “Lembro que quando Papai se aposentou, Mamãe disse pra ele: eu disse na saúde e na doença, mas não disse nada sobre almoço”. O xerife não tem simancol. Ele sente um sentimento de derrota que é pior que a morte. Fala de outras coisas pra mostrar como este não é um país para os velhos. Narra o sonho com o pai. The end.
Talvez eu esteja sendo rigorosa demais com o livro. Deve ter muita gente que o acha brilhante, uma alegoria perfeita de como os EUA são um país violento. Mas eu realmente achei tudo muito repetitivo. Em sua defesa, posso imaginar que o xerife é um homem traumatizado com tanta violência ao seu redor, e o que faz uma pessoa traumatizada? Ela repete. É uma interpretação coerente. No entanto, pra mim, leitora, o personagem do xerife precisa aparecer menos pra história fluir mais. E qual é a grande falha do filme dos Coen? Quando que o fascínio parece se esvair? Quando o xerife assume a posição central. I rest my case.