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Um governo que fura poços fundos - VINICIUS TORRES FREIRE
FOLHA DE SP - 16/11
Além do desastre político que virá com o Petrolão, saque da Petrobras cria mais custos econômicos
POUCO ANTES do segundo turno da eleição, o jornalista trabalhava com a TV ligada na Bloomberg, canal americano de notícias financeiras. De repente, ouve "Brazil", "Rússeff", "Nieves". Jim Chanos, um financista, falava sobre a Petrobras.
"A situação econômica da empresa é tão ruim que dizemos que Petrobras é um embuste, não uma ação [a scheme, not a stock']."
Uma repórter pergunta se a empresa enganou os investidores no IPO de 2010 (IPO: a empresa vende novas ações no mercado). Chanos diz que a empresa insiste na conversa otimista de que vai render, embora não faça dinheiro bastante nem para pagar seu plano de investimentos e juros, sendo obrigada a se endividar demais.
Chanos dirige um "hedge fund" chamado "Kynikos" ("cínico"). Fez alguma faminha apostando na baixa de ações que julgava podres. Andou perdendo dinheiro grosso neste ano, conta o "Wall Street Journal". E daí que o "kynikos" Chanos escarneça da Petrobras? Não é só ele.
A gente dá de ombros sobre os efeitos do descalabro corrupto-econômico da Petrobras sobre o mercado de ações e outros, ainda mais quando leva em conta o tamanho do desastre político que virá em 2015, os desdobramentos do Petrolão.
Enfim, o comum dos brasileiros em geral não tem ações, da Petrobras ou outras. Não tem nem deve se animar a ter. Os "ricos" daqui ou investidores de alhures vão olhar com mais desconfiança o mercado brasileiro. Não é um problema de "imagem". Isso custa caro.
A maior empresa do país foi saqueada por políticos, diretores e empreiteiras. É gerida à matroca pelo governo e chegou ao cúmulo da degradação de não conseguir publicar nem balanço, que seus auditores temem ser fajuto, dada a corrupção. Isto fizeram da Petrobras, maior que a maioria das economias latino-americanas, quase do tamanho do Peru, empresa que paga mais de R$ 100 bilhões de impostos, com um patrimônio enorme de conhecimento.
Em 2010, a Petrobras fez o maior IPO da história. O ano foi ruim para as ações, por causa de eleição, da politicagem crescente do negócio e do próprio IPO. A empresa vendeu R$ 120 bilhões em ações (vale agora menos do que isso no mercado). A União comprou R$ 80 bilhões em ações, aumentou a participação estatal no capital e, pois, desvalorizou o investimento, a renda esperada de dividendos, dos acionistas minoritários.
Desde o IPO, o preço das ações caiu quase 50%, sem contar a inflação. Além do estrago direto na empresa, obrigada a engolir superfaturamentos legais e ilegais de obras e insumos, o governo emperrou a exploração de petróleo nos últimos cinco anos. Bulir com o mercado desse jeito inepto é contraproducente, tem efeitos difusos de longa duração: descrédito. Desconfiança eleva os custos de financiamento de empresas no mercado (juros sobem, preço de ações cai etc.).
O ano que vem será de tumulto político sério. A presidente abre ou expande frentes de problemas econômicos. O emprego míngua inequivocamente, vide os números tristes da indústria e do emprego formal. Dilma Rousseff precisa defender algum lado, tapar alguma das feridas que abriu e, como previsto, sangram muito agora. Tensão política, apatia econômica e frustração social é uma combinação que não vai prestar.
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