Por Altamiro BorgesA decisão da presidenta Cristina Kirchner de reestatizar a empresa petrolífera da Argentina, a YPF, fez ressurgir com força o debate sobre as privatizações das estatais na América Latina. Os ideólogos privatistas e também os “privatas” – aqueles que desviaram a grana da venda do patrimônio público para as suas contas, como revela o livro “A privataria tucana” – estão irritados, histéricos.
Arrogância imperial da EspanhaA Espanha, que tem saqueado as riquezas de várias nações para tentar se salvar do colapso econômico – seja com a remessa de lucros da Repsol na Argentina ou da Telefônica no Brasil –, já declarou guerra ao governo soberano do país vizinho. Arrogante e imperial, o primeiro-ministro Mariano Rajoy criticou a "quebra de contrato" com a multinacional espanhola e prometeu "duras" retaliações.
O direitista não tem moral para falar em "quebra de contratos" – que o digam os trabalhadores espanhóis que tiveram seus direitos aniquilados por seu recente pacote de austeridade fiscal, que rasgou todos os "contratos" trabalhistas em vigor na Espanha. Rajoy esperneia para defender a ganância da Repsol, uma multinacional que não investia no setor e apenas roubava o povo argentino.
O ganância da RepsolA YPF foi privatizada em 1999 pelo governo neoliberal de Carlos Menem. A Repsol passou a deter 57% das ações da ex-poderosa estatal de petróleo. Com o tempo, porém, ficou visível a falsidade do discurso sobre a tal eficiência da iniciativa privada. Em 2010, a Repsol obteve um lucro de 1,4 bilhão de euros do subsolo argentino. Já a produção nacional de petróleo recuou quase 5,5%.
Em decorrência do pujante crescimento econômico da Argentina, o consumo de petróleo aumentou 38% e o de gás cresceu 25%, entre 2003 e 2010. Já oferta da multinacional caiu 12% e 2,3%, respectivamente. Com isso, o país, que já foi autossuficiente em petróleo, foi forçado elevar a importação do produto. No ano passado, o governo gastou US$ 11 bilhões com a conta petróleo.
A falta de compromisso da Repsol com o desenvolvimento do país atiçou os atritos com o governo argentino, que nesta segunda-feira (16) anunciou a reestatização da empresa. Antes, a presidenta já havia fixado um imposto sobre a exportação de petróleo e adotado outras medidas para coagir a multinacional. Mas a Repsol não recuou no saque. Desde 2009, ela não furou um único poço de petróleo no país.
A gritaria da mídia colonizadaDiante da decisão soberana do governo argentino, os privatistas e “privatas” fazem o maior escarcéu – sem analisar os méritos da medida. Para isso, como sempre, eles contam com as manipulações da mídia entreguista e colonizada. O Clarín, veículo-palanque das correntes neoliberais da Argentina, aliou-se à Espanha para condenar o governo de Cristina Kirchner.
No Brasil, a mídia também partiu para o ataque. Em seu editorial de hoje (17), a Folha condena a “expropriação” da multinacional Repsol. Para o jornal, que venera o deus-mercado, “trata-se de uma medida intempestiva, que gera insegurança jurídica e erode ainda mais a já desgastada credibilidade daquele país aos olhos do mercado internacional”.
No Jornal da Globo de ontem à noite, Willian Waack, frequentador do Instituto Millenium – o antro dos barões da mídia nativa – só faltou pregar a derrubada da presidenta Cristina Kirchner. Talvez ele até receba algum título honorifico do rei da Espanha ou algum agradecimento especial da Repsol!
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