A B. me enviou este email:
Conheci seu blog pelo FB ano passado e a partir daí abro todos os dias para ver os posts novos e antigos também. Também conheci outros blogs e me identifico muito, já que tenho ideias feministas desde garota (tenho 26 anos).
Lendo os posts descobri como eu era preconceituosa em vários aspectos e que até me envergonho hoje, mas mudei bastante já. É incrível como a gente precisa de vários puxões na orelha para se tocar!
Mas não é por isso que estou te escrevendo e sim porque fico muito decepcionada comigo quando alguém questiona meu feminismo e eu não consigo dar uma resposta com firmeza!
Os amigos do meu namorado fazem aquelas típicas piadas machistas e olham pra minha cara esperando uma reação por que sabem que sou feminista, para tirarem uma com a minha cara. Me chamam de feministinha e defensora das minorias.
Tem vezes que eu não respondo porque sei que o que querem é me provocar, mas não aguento, e o pior é que fico com tanta raiva por dentro que quando a conversa fica séria não consigo me expressar direito, um pouco por falta de conhecimento e da dificuldade que tenho para formular e dizer o que penso.
Muitas vezes a conversa não fica só no feminismo, mas eles partem para o preconceito contra minorias no geral, principalmente contra homossexuais e "seus direitos que não devem existir", já que fazer uma lei para defender uma determinada classe seria contra a constituição, segundo esses amigos.
Meu namorado gosta de tirar um sarro também às vezes, mas ele sabe como ser feminista é importante pra mim e quando percebe que a conversa esquenta e fico brava de verdade ele tenta apaziguar, mas não toma partido de nenhum dos lados. É difícil convencê-lo também a se livrar de certos preconceitos e fico muito triste com isso.
Mas o que eu faço quando isso acontece?
Não tenho segurança e conhecimento suficientes para defender o que penso e isso me chateia muito. Se participasse de uma disputa de ideias eu perderia com certeza!
Sinto que para vivermos num mundo sem preconceitos, principalmente os dos homens héteros, está muito distante ainda.
Minha resposta: Está distante sim, B., e provavelmente você não verá um mundo sem preconceitos durante a sua vida. Eu te entendo: é muito decepcionante perceber que muitas das pessoas com quem convivemos são ignorantes. Porque toda pessoa preconceituosa, pra mim, é ignorante. A maior parte dos preconceitos é fruto da ignorância, mas há também os que são fruto do
orgulho da ignorância. Você não conhece gente que diz: "Sou machista sim, com orgulho!"? Então.
Não é fácil ver parte da nossa identidade -- ser feminista -- ser desprezado e vilanizado. Mas é exatamente o que fazem com o feminismo desde, ahn, desde que as primeiras mulheres começaram a exigir alguns direitos que eram concedidos apenas aos homens. Talvez te ajude saber que "insultos" como peluda, masculinizada, invejosa dos homens, destruidora da ordem mundial (parece elogio pra mim) e tantos outros eram usados contra as sufragistas 160 anos atrás. Já ouviu falar em Olympe de Gouges? Durante a Revolução Francesa, ela teve a ousadia de sugerir uma Declaração dos Direitos da Mulher e da Cidadã. Foi decapitada em 1793.
Ao mesmo tempo, o feminismo tem conquistado um monte de coisas e vem mudando o mundo. Esse pessoal que te provoca te chamando de "feministinha" não perderia seu tempo se não soubesse que a situação confortável deles está ameaçada. Eles sabem que está cada vez mais difícil ter orgulho do machismo hoje em dia.
Eles ainda recebem tapinhas nas costas por falar bobagens machistas disfarçadas de piadas, mas hoje já recebem também... tapinhas. Figurativamente falando. E não nas costas.
Os amigos do seu namorado dizem coisas para te provocar. Tente não levar para o lado pessoal, porque é uma disputa de poder, um jeito que eles têm de se unirem, escolhendo um alvo. E aprenda a se defender. Tente se informar mais sobre o feminismo, lendo blogs, artigos, livros, fazendo parte de coletivos, indo a palestras e manifestações. Envolva-se mais, porque rapidinho tudo que esses amigos disserem não será novidade alguma. São insultos nada originais.
Mas também tem que saber quando responder. Não sei se vale a pena ficar com raiva, ainda mais o tempo todo. À medida que você se envolver mais em atividades que você gosta, você vai conhecer mais gente que pensa parecido. E aí você vai avaliar se convém continuar sendo amiga ou namorada de machista, mesmo que seja machista de brincadeira, que fala besteira pra provocar.
No meu Twitter eu me dou o privilégio de bloquear gente machista, homofóbica, racista, gordofóbica etc. Na vida real é mais complicado. Mas é preciso se cercar o máximo possível por gente boa. Porque mudar o mundo não é uma tarefa simples.
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