A chantagem das empresas aéreas
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A chantagem das empresas aéreas


Por Altamiro Borges

As empresas aéreas estão jogando sujo para conseguir novas benesses do governo federal. Após demitirem centenas de trabalhadores, elas ameaçam com novos cortes como forma de chantagem. Nesta semana, o presidente da Associação Brasileira das Empresas Aéreas (Abear), Eduardo Sanovicz, e os executivos de TAM, Gol, Azul e Avianca apresentaram ao ministro da Secretaria de Aviação Civil (SAC), Moreira Franco, uma série de pedidos de ajuda para o setor. Eles alegaram que o aumento do dólar elevou o custo do petróleo e que as empresas estão diante de duas opções: subir os preços das passagens ou “reduzir os custos” – em outras palavras, demitir mais trabalhadores e arrochar salários.

"Já começamos a repassar parte do custo para o preço das passagens e a reduzir oferta de algumas rotas não sustentáveis. E percebemos que parte dos passageiros começa a voltar para o transporte de ônibus", afirmou o dirigente da Abear. Ele explicou que entre 55% e 57% da atividade área é dolarizada, sobretudo por conta dos custos com o combustível e o leasing de aeronaves. “O câmbio e o preço do petróleo geram uma situação complicada que se reflete nos balanços das companhias aéreas. Para evitar a retomada dos preços das passagens de 10 anos atrás, as empresas fazem reestruturação”, choramingou Eduardo Sanovicz.

Entre outros pedidos, as empresas solicitaram a ampliação da cobertura das tarifas de navegação e a isenção da cobrança do PIS/Cofins. O ministro Moreira Franco ficou de levar a proposta à equipe econômica. Nos últimos meses, o governo Dilma promoveu desonerações fiscais em vários setores. A “bondade”, porém, não resultou em queda de preços dos produtos e serviços e nem afastou o fantasma do desemprego. Os únicos efeitos palpáveis foram a diminuição de arrecadação da União e o aumento do déficit da Previdência Social – duas consequências negativas para o conjunto da sociedade. Na fase da bonança, os empresários privatizam os lucros; já no período de dificuldades, eles adoram socializar os prejuízos.

Conforme apontam Lucia Helena Salgado e Humberto Bettini, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), não há razões para a choradeira dos empresários. “De 2006 a 2012, a aviação comercial brasileira beneficiou-se de condições vantajosas de demanda e de câmbio, acumulando vultosos resultados positivos, a ponto das maiores companhias aéreas do país serem colocadas entre as mais lucrativas do mundo. Vivia-se um cenário macroeconômico favorável e, inevitavelmente, passageiro. As companhias beneficiaram-se de uma situação excepcional e deveriam ter tido a cautela de avaliá-la como transitória... Eis que, em 2013, o cenário macroeconômico muda. Não tendo se protegido do risco cambial inerente à sua atividade, as empresas vêm bater à porta do governo para que as socorram com os recursos do contribuinte”.

“As empresas, aparentemente, não se acautelaram quanto ao notório risco cambial de suas operações e buscam, agora, mobilizar recursos do contribuinte. Como a cigarra da fábula de Esopo, as companhias aéreas cantaram seus ganhos durante a primavera. Chegado o inverno, batem à porta da formiga, o governo, pedindo ajuda. Que este responda conforme a fábula: agora dancem”.

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