Acabei não escrevendo uma crítica sobre o filme. Mas, se você quiser, pode acompanhar minhas anotações. Faço isso com quase todos os filmes, logo depois de vê-los, e só depois dou forma à crônica.
O título em português não tem muito a ver. Tudo bem, o original, “Bandeiras dos nossos pais”, tem todo o peso da palavra “pais”, uma coisa patriarcal, antiquada, quase tanto quanto honra. O original pelo menos indica quem faz a guerra, os homens. Já a tradução assume que guerra envolve alguma honra a ser conquistada.
Se os EUA não tivessem entrado na guerra, todos estaríamos falando alemão, e não inglês, como se deve.
No final senti minha bunda ficar quadrada. O filme deveria ter no mínimo quarenta minutos a menos.
Imagino que “Cartas de Iwo Jima” seja superior, mas não posso afirmar estar morrendo de vontade em vê-lo.
Não se define. É crítico não necessariamente à guerra, mas à propaganda feita em cima da guerra feita pra ganhar dinheiro. Mesmo assim, se fosse crítico mesmo, não teria os acordezinhos musicais quando os soldados levantam a bandeira. A trilha, por sinal, é do próprio Clint. Tava tudo silencioso até então, mais sóbrio, como deve ser. Eis que um soldado põe a mão no mastro e vem a musiquinha: tim. Outro soldado, e tim tim. Ué, mas quer nos comover pra quê, cara pálida? Não passou o filme inteiro mostrando que a foto é uma farsa?
A história épica de uma foto que, realmente, pode ganhar ou perder uma guerra. Eles citam o exemplo da foto do vietnamita sendo assassinado a sangue frio. Mas pra mim a foto mais marcante da Guerra do Vietnã é a da menininha correndo nua, desesperada, ardendo em napalm.
Preconceito contra o índio. Isso tá bem explorado. Mas o ator que faz o índio é um pouco fraco, ou talvez o papel é mal escrito.
A crítica à propaganda faz parecer que é errado tentar ganhar dinheiro (e fica mal uma mensagem desta vindo do supra-sumo do capitalismo). Pior, tenta passar a impressão de guerra como algo puro, acima do mercantilismo, como se toda guerra não fosse lutada por motivos econômicos.
Fotografia excelente, imagens fortes. Mas “Resgate do Soldado Ryan” continua imbatível nesse quesito. E “Glória Feita de Sangue”, do Kubrick, segue como o melhor e mais poderoso libelo anti-guerra. Aqui o título é irônico, porque o drama de 1957 mostra claramente como não existe glória nenhuma numa guerra, só sangue.
E por falar em Kubrick, eu fiquei me lembrando de “Nascido para Matar”. Difícil ver os fuzileiros navais americanos sendo pintados como heróis depois do treinamento brutal do filme do Kubrick (pra mim, o melhor sobre a Guerra do Vietnã. Sim, melhor que “Apocalipse”).
“Conquista” não é ruim. É interessante até o terço final, e não justifica que algumas pessoas tenham deixado a sessão. Só não sei se a gente precisa de mais um filme sobre a Segunda Guerra.
Soldado japonês precisa gritar ao atacar o inimigo? Não pareceu muito eficaz.
Guerra é tudo igual. Desde os primórdios da humanidade que os homens encontram motivos pra se matarem uns aos outros em cerimônias tribais. Lógico que com a invenção da metralhadora houve uma mudança de escala, mas o maridão lembrou bem da loucura. É assim: há centenas de soldados de cada lado. E eles correm pra digladiarem. “É como se houvesse alguém com metralhadora atirando em todo mundo que desce a escada rolante”, ele disse, na saída do shopping. “E o pessoal corre pra baixo, na direção do cara. Não faz sentido”.
O Ryan Phillippe até que tá bem. Se bem que demorei uma hora pra saber quem era quem.
Questiona o conceito do herói, mas faz isso muito meiabocamente.
Na realidade, como revi “Fahrenheit 11 de Setembro” recentemente, fiquei pensando nos soldados americanos invadindo o Iraque e ouvindo “Burn Motherfucker Burn” no capacete.
Chocante é quando eles participam de um jantar e servem uma sobremesa no formato da estátua, com calda de morango por cima.
Estive lá em Washington e vi a estátua, que fica bem ao lado de um monumento muito mais sóbrio e polêmico, as listas de nomes de soldados americanos mortos na Guerra do Vietnã.
A Segunda Guerra certamente é a guerra mais filmada por Hollywood porque ela é a que mais carrega a fama de legitimidade, de guerra necessária, e também porque por causa dela os americanos podem se sentir os salvadores do mundo.
Alguém me explica a honra de colocar uma bandeira em cima de um morro. Quando eu era criança, eu brincava de “pega bandeira”. Mas era uma brincadeira. Parece que guerra é brinquedinho pros homens, que foram treinados desde a infância pra lutar.
Cansa ouvir cada um repetir que não é herói. E não é mesmo, não pra mim. Heroísmo é não lutar. Qual o heroísmo em fazer uma coisa que você foi ensinado a fazer desde criancinha?