A direita de tanga
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A direita de tanga


A História tem destas ironias tristes: o PS obteve o seu melhor resultado eleitoral de sempre e a direita governamental sofreu o maior castigo que se poderia prever à custa das eleições europeias. Não faltou sequer um episódio trágico: a morte de Sousa Franco depois de um episódio miserável de fratricídio partidário na lota de Matosinhos. Triste, tristíssimo, na verdade, e por todas as razões.

Disse já, aqui e noutros sítios, o que pensava da campanha futebolística nacional dos cartões amarelos, vermelhos ou verdes. Num post anterior não escondi a minha melancolia com a taxa de abstenção europeia nestas eleições que, sejam quais forem os álibis que encontremos para desculpar o facto, voltaram a mostrar o divórcio existente entre a Europa e os seus cidadãos. Este é, quanto a mim, o aspecto essencial. Mas a abstenção não apaga o significado político do teste eleitoral em cada país, designadamente em Portugal.

Esperava, como toda a gente, que o PS ganhasse as eleições. Mas nunca imaginei que a diferença pudesse ser tão ampla e que a coligação de direita fosse alvo de um movimento de rejeição de tal modo esmagador e que põe em causa a sua consistência e credibilidade como projecto de governo. À conta de sermos um país de tanga, ficou agora de tanga a direita --, e não se vê que suave milagre comunicacional poderá resgatar tantos erros acumulados e tanta falta de sensibilidade e orientação política que converteu Portugal num mero campo de ensaio contabilístico por causa do défice orçamental.

Ao eleger o combate ao despesismo e ao défice como único horizonte visível da actuação do Governo, Durão Barroso perdeu a noção do país e do que queria fazer com ele e para ele. As próprias pretensões reformistas que exibiu acabaram por soçobrar nos escolhos que por culpa exclusivamente sua foi semeando pelo caminho, com uma sobranceria e uma inconsequência justamente merecedoras de castigo. Quando a oposição, apesar da sua óbvia vulnerabilidade, regista uma vitória tão demolidora, que conclusões políticas poderão extrair o Governo do seu desastre e a aliança de direita do equívoco dos interesses em que alicerçou o seu poder? Depois de ter ficado de tanga, que lhe resta? Quem semeia ventos colhe sempre tempestades. E face às tempestades que se avizinham esta direita já demonstrou que não tem estofo para enfrentá-las.

Vicente Jorge Silva




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