A farra e depois - JANIO DE FREITAS
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A farra e depois - JANIO DE FREITAS


FOLHA DE SP - 20/08

Esse tipo de manifestação sabe-se onde pode dar: se deixado a si mesmo, esgota-se na alegria de existir


A pergunta não silenciou, nem mesmo por cansaço de repetição. Quando não se insinua, está latente nas inevitáveis referências a tais ou quais ações chamadas, apesar de suas diferenças, de manifestações. E não é possível, mesmo, resposta abrangente para o que pode resultar da atual onda de atos com modos e feitos tão diferentes.

Muitas dessas manifestações parecem satisfazer-se no simples fato de acontecer. Outras pretendem justificar-se como reivindicações que independem de sua viabilidade, já a partir da insignificância do número de reivindicantes. Muitas por falta de sentido, reivindicando de um prefeito medidas que são do Estado, e vice-versa. Mas já dispomos de algumas indicações.

É o caso, por exemplo, de saudar-se a volta da prática de camping, em modalidade adaptada às circunstâncias e ainda que seus praticantes pensem fazer outra coisa. A tolerância que as polícias afinal adotaram nos pequenos aglomerados diante das casas de Sérgio Cabral, Renan Calheiros e vários outros deixou claro o sentido mais forte a motivar essas manifestações. A moçada está se divertindo, é uma ótima brincadeira, uma farra diferente.

Para tomar por todos, o grupinho em frente à casa de Cabral não espera que sua presença ali provoque renúncia, é claro. Mas diverte-se no próprio grupo, satisfaz-se em obturar o trânsito dia e noite, orgulha-se com as levas de curiosidade alheia à sua volta. O estrelato.

O velho camping extinto pelos assaltantes retorna em nova modalidade e, melhor, protegido pela polícia que faltou ao original. Esse tipo de manifestação sabe-se onde pode dar: se deixado a si mesmo pela tolerância policial, esgota-se na alegria de existir.

Do gênero oposto --o predador-- começa-se a dizer o necessário. Os direitos de terceiros e o patrimônio público têm que ser defendidos. Mas nem se está mais nesse nível de necessidade, apenas. A escalada da violência se expõe toda em fato que vim a saber depois de artigo sobre o ataque de baderneiros ao Hospital Sírio-Libanês: na ocasião, os atacantes quiseram até arrancar um doente de dentro de uma ambulância.

Deste outro tipo de alegadas manifestações convém prevenção dupla. Desde logo, para o alto risco da tragédia que não costuma faltar em situações semelhantes, com a morte estúpida. Policiais irascíveis ou atemorizados aumentam o risco, mas, além disso, também muitos outros são agredidos em violências iniciadas pelos arruaceiros. Como ação ou reação, o pior não está evitável.

Na imprensa, se ocorre algo errado e envolve polícia, estamos antecipadamente prontos para acusá-la, com acertos e com erros. Se a vocação da tragédia se confirmar em um dos confrontos desatinados, e seu risco é grande, um erro de acusações precipitadas tenderá a consequências complicadas. A sensibilidade da situação presente é grande.

Por isso mesmo, e ainda por mais, justifica-se a inquietação com o que anunciam, soturnamente, para o 7 de Setembro. Se for mera provocação, ao que muitos imaginam, ótimo. Mas os indícios dizem não ser essa a hipótese que deve ser trabalhada.




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