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A inflação da comida - EDITORIAL CORREIO BRAZILIENSE
CORREIO BRAZILIENSE - 23/03
Desde o começo do ano, o brasileiro que vive com renda média de até R$ 3 mil (ou seja, a maioria) tem tido dificuldade de acreditar nos índices oficiais de inflação. Reportagem do Correio Braziliense, com base em pesquisa exclusiva do instituto Data Popular, revelou na semana passada que o consumidor está incomodado com o aumento dos preços que mais pesam no orçamento.
Mais do que obrigá-las a aumentar o esforço para encontrar os preços mais em conta, o incômodo está levando famílias de classe média e baixa a cortar prazeres, como ir a restaurantes ou fazer pequenas viagens nos feriados e fins de semana. Além, é claro, de adiarem sine die a compra de bens duráveis.
Para 61% dos 2.017 entrevistados em 53 cidades de várias regiões do país, o aumento de preços dos alimentos é o que mais incomoda no momento. Produtos de limpeza (59%), educação (56%) e roupas (52%) vêm em seguida.
O consumidor tem razão. A alta dos alimentos é a maior preocupação dos especialistas em inflação neste começo de ano. A falta de chuvas em grande parte do país e a queda na produção de trigo e soja em celeiros importantes do exterior estão frustrando a expectativa de que a colheita de safra gigante no Brasil daria por encerrado um ciclo de altas que dura três anos.
A prévia da inflação do IBGE, medida pelo IPCA-15, divulgada na semana passada, acabou confirmando a constatação das pessoas que vão todas as semanas às compras de frutas, legumes, carnes e cereais. O índice médio aumentou 0,73% em relação a fevereiro, com boa "ajuda" dos alimentos, que subiram 1,11% e acumulam alta de 6,39% em 12 meses.
Mas não é fácil explicar para a dona de casa - perplexa com o que pagou pelo quilo da batata (45% de aumento desde janeiro) - que o índice de inflação oficial é média dos preços de centenas de produtos, cada um com um peso relativo na composição do custo de uma cesta. Ou seja, a inflação que ela percebe é diferente da inflação de pessoas com outros hábitos de consumo.
Nem por isso o depoimento deixa de ser importante. Pelo contrário. O que a maioria dos entrevistados pelo Data Popular está informando é que este é ainda um país pobre. Por essa razão, o custo da comida tem muito peso no orçamento da maioria dos brasileiros. Dados do IBGE revelam que a alimentação corresponde a 19,8% das despesas de consumo da população, mas, nas famílias mais pobres, esse item chega a pesar 27,8% das despesas totais.
São detalhes que parecem escapar a economistas do governo e certos meios acadêmicos, que consideram exagerada a preocupação com as metas de inflação. Ainda não entenderam que mantê-la presa a uma meta baixa (a nossa, de 4,5%, é alta demais) é o que permite à economia absorver as oscilações de preços que dependem de fatores climáticos. Não fazer esse dever de casa pode custar a elevação dos juros ou, pior ainda, a perda ainda maior do poder de compra dos salários.
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