A mídia, as eleições e a bola
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A mídia, as eleições e a bola


Por Luciano Martins Costa, no Observatório da Imprensa:

A leitura dos principais jornais brasileiros de circulação nacional, nestes dias que antecedem a abertura da Copa do Mundo, pode provocar uma sensação de estranhamento em pessoas que ainda acreditam que jornalismo e imprensa ainda são expressões sinônimas.

Apanhemos, por exemplo, as reportagens sobre a mais recente pesquisa de intenção de voto do Ibope, que eventualmente aparecem ao lado de repercussões sobre a última consulta eleitoral do Datafolha. Embora os títulos afirmem que caiu a vantagem da presidente Dilma Rousseff, enquanto seus dois principais adversários ganharam pontos, constata-se uma mudança sutil, mas significativa, nas análises dos números.

Todo o esforço dos jornais se concentra agora em demonstrar que aumentou a possibilidade de haver segundo turno. Mas, como sabem os editores, cada pesquisa deve ser lida em um contexto próprio, que inclui o estado de espírito produzido na sociedade em geral pelos fatos mais relevantes. E, como pode perceber qualquer indivíduo medianamente habilitado, a imprensa hegemônica tende a considerar relevante tudo aquilo que pode desgastar a imagem da atual presidente e de seu governo.

Portanto, deve-se considerar que as duas últimas versões dos principais institutos de pesquisa foram produzidas sob intenso bombardeio de notícias e opiniões negativas a respeito da chefe do Executivo nacional. Até mesmo atrasos em obras de responsabilidade de estados e municípios, vinculadas à Copa do Mundo, são atiradas na conta do governo federal. Ainda assim, a reeleição da presidente é o resultado mais provável, mesmo numa disputa em dois turnos.

No Globo, uma comparação da pesquisa Datafolha, feita entre os dias 3 e 5 de junho, com a consulta do Ibope, realizada entre os dias 4 e 7 do mesmo mês, mostra diferenças tão grandes nos resultados que dá a impressão de terem sido apanhadas com anos de distância. No entanto, note-se, os levantamentos foram feitos quase no mesmo período, com amostragens e metodologias semelhantes.

Uma das duas pesquisas está errada. Ou ambas.

Lé com cré

Essa constatação pode indicar que as opiniões políticas andam tão voláteis que podem produzir distorções capazes de invalidar as próprias pesquisas, ou, pelo menos, de desautorizar a importância que os jornais têm dado a elas. Essa volatilidade é provavelmente influenciada pela proximidade da Copa do Mundo, evento capaz de alterar profundamente o humor nacional. Mas pode-se notar que as mudanças de opinião sobre as eleições ocorrem principalmente no Sudeste, região mais suscetível à influência dos grandes jornais de circulação nacional.

Essa última rodada de consultas de intenção de voto é interessante como um marco para identificar o efeito do noticiário negativo sobre as chances de reeleição de Dilma Rousseff. Deve-se, então, considerar que a disposição dos eleitores daqui a um mês vai depender crucialmente do desempenho da seleção brasileira de futebol.

Para fazer com que um de seus candidatos prediletos chegue ao segundo turno em condições de competitividade, a imprensa precisa torcer contra o Brasil na Copa. Ou alguém duvida que o conjunto monolítico das grandes empresas de comunicação tem uma clara preferência política?

Artigos, editoriais e, principalmente, as escolhas das notícias de maior destaque há muito deixaram para trás o mito da imprensa apartidária ou isenta. Resta saber quem seria o candidato de preferência da mídia, e a resposta é simples: aquele com maiores chances de evitar a reeleição de Dilma Rousseff.

Apanhando-se o pacote das pesquisas publicadas desde janeiro, pode-se concluir que o candidato com mais potencial para isso é o ex-governador Eduardo Campos (PSB), se ele superar as divergências com a base de militantes ligados à ex-ministra Marina Silva, sua candidata a vice-presidente. O outro postulante, Aécio Neves (PSDB), mais identificado com a oposição radicalizada, está próximo do seu teto.

Duas outras pesquisas publicadas na quarta-feira (11/6) completam o quadro: numa delas, feita por um consórcio formado pela Fundação Getúlio Vargas, Duke University e CFO Magazine, mostra que os executivos brasileiros são os mais pessimistas do mundo; a outra, feita pela YouGov, agência de pesquisas na internet contratada pelo New York Times, revela que os torcedores brasileiros são os mais confiantes em uma vitória na Copa do Mundo.

Agora basta ligar lé com cré, e o leitor poderá entender por que os jornais parecem meio esquizofrênicos.




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