A OFERECIDA É ACEITA COMO MESÁRIA
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A OFERECIDA É ACEITA COMO MESÁRIA


Eu vejo flores em você, democracia.

Ieeeiiii! Que demais! Semana passada recebi uma convocação do Tribunal Regional Eleitoral do Ceará para atuar como mesária nas eleições! Estou muito feliz. Sei que pra muitos esse trabalho pode parecer como o inferno na Terra, mas, no meu caso, eu me voluntariei. Alguns meses atrás, quando eu e o maridão fomos transferir nosso título, de SC para CE, para não perdermos uma eleição sequer, vi um folheto pedindo voluntários. E eu sempre quis ser mesária, então preenchi uma ficha. E ainda perguntei pro maridão: “E você? E você? Você não quer? Vamos ser mesários juntinhos, super romântico!”. Mas ele disse que não, de jeito nenhum, “Vai você”. E quando eu quis saber por que diabos não, ele respondeu com aquela resposta típica de quem tem cinco anos: “Porque não”. (Vocês não têm ideia de como odeio uma resposta dessas! É de quem se nega a pensar, a argumentar!). Mas eu já estava radiante demais só por ter me inscrito pra ficar chateada com a negativa maridística. E perguntava pra ele: “Será que eles vão me chamar? Será?”. E ele: “Oferecida do jeito que você é, não tem como não te chamarem”. Oferecida é um elogio, né?
Eu quis ser mesária porque adoro votar. Porque eleição, pra mim, é um dia especial, um dia de festa, um dia em que me sinto inebriada mesmo, apesar da Lei Seca e de eu detestar qualquer tipo de bebida alcóolica (pelo gosto! A única bebida que eu amo é água. Sem gás). Eu só comecei a poder votar de uns doze anos pra cá, quando me naturalizei brasileira. Mas sempre participei das eleições. Eu amava de paixão fazer boca de urna, por exemplo. Acho um atraso de vida terem proibido, já que fere um direito de todo cidadão, que é o da liberdade de expressão. O quê que tem eu conversar com alguém sobre o voto? Tem um monte de eleitor que “decide na hora”, lá na urna, em quem vai votar. Um monte. A maior parte do pessoal que eu abordava me agradecia por conversar com ele sobre política. Sei que soa arrogante, mas é verdade.
Eu raramente entregava santinho. Era mais um adesivo mesmo pra pessoa colocar no peito, com orgulho do seu candidato. E eu quase sempre só fazia campanha pra presidente. E às vezes governador. E prefeito. Enfim, quase sempre pra cargo executivo. E quase sempre sozinha. Eu ia em algum comitê do PT, pedia adesivo pra distribuir, e ia pra frente da escola que eu quisesse. A única vez em que deixei que eles me colocassem onde quisessem, fui parar na frente de um clube esportivo de elite. Nojento. Fazer o quê num clube de elite? Lá o pessoal já tem seu candidato, que certamente não é o meu. Fiquei lá uns quarenta minutos antes de ir pra uma escola do meu bairro, de classe média baixa.
Continuei fazendo boca de urna depois que ela foi proibida, e nunca fui incomodada. De vez em quando os policiais até olhavam pra mim com cara feia, e pediam que eu me afastasse um pouco, mas era raro. Eu lembro quando chegava um outro militante e perguntava: “Você já votou? Tem que votar antes! Assim, se você for presa, pelo menos o seu voto já tá lá”. E, não sei porquê, eu não tinha a menor intenção em ser presa.
Tá mais do que na cara que a proibição da boca de urna foi uma forma de coibir a influência da militância petista. Como se sabe, só o PT tem militante; os outros partidos têm cabo eleitoral (ok, outros partidos de esquerda também têm militantes). E a diferença é gritante. Militante não recebe nada além de adesivo. Quando muito, vem uma camisa. Eu sou da época em que a gente tinha que pagar pela estrelinha e bandeira do PT. E militante é politizado, sabe argumentar, sabe convencer, já que está lá por convicção. Cabo eleitoral raramente vota no candidato que está promovendo. Pra ele, distribuir santinho e empunhar bandeiras é emprego burocrático. Já contei que a única vez na vida que recebi algo em troca da minha boca de urna foi quando fiz campanha pro FHC, pra prefeito de SP, em 1985? Recebi um lanche e uma camiseta. Foi a única vez em que fiz campanha pra alguém não do PT, e me arrependo amargamente de ter pedido “voto útil”.
Proibir a boca de urna diminuiu bastante a festa democrática que é uma eleição. É muito gostoso ver todo mundo conversando sobre política. Povo politizado conversa sobre política, e é isso que a gente deveria querer: um povo politizado, que fala sobre política todo santo dia, sabe em quem votou, pode cobrar.
Sei que ser mesária não tem nada a ver com fazer boca de urna. Mas é que sou daquelas que adora votar. E fico frustrada quando voto rapidinho demais. É anticlimático, sabe? Eu quero ficar lá, saboreando o momento. Sinceramente? Não imagino que alguém de direita possa entender isso. É preciso ter paixão política pra entender. Não só votar contra alguém, mas votar a favor de alguém, de suas propostas, de seu projeto.
Eu sempre ficava com invejinha quando ia votar no meu colégio eleitoral, perto da minha casa, em Joinville, e encontrava algum amigo como mesário. Ele fica lá o dia todo!, eu pensava. E meus amigos raramente reclamavam por serem mesários. Eles são daqueles que trabalham o dia inteiro da eleição de qualquer jeito, ora como mesário, ora como fiscal do PT (o maridão foi na última eleição, a que o Carlito ganhou. E até ele, que não é um animal político, gostou).
E agora chegou a minha vez! A carta de convocação diz que haverá um treinamento de duas horas num sábado de manhã, daqui a pouco menos de um mês. Massa! E avisa que “a participação neste evento a dispensará do serviço pelo dobro dos dias de convocação, conforme o art. 98 da Lei no. 9.504/97, aplicando-se este dispositivo tanto ao serviço público como ao setor privado”. Naquele folheto que li no dia em que transferi meu título também dizia que ser mesário dá direito a dois dias de folga. Mas se ausentar do trabalho por fazer algo prazeroso? Não parece lógico pra mim. Sem falar que meu trabalho também é prazeroso. Não vou faltar não, tenho mais o que fazer.
E gente boa, pra que eu não tenha nenhuma dor de cabeça nesse dia especial que será 3 de outubro, lembrem-se de levar seus documentos. A partir desta eleição, não é possível votar apenas apresentando o título de eleitor. Precisa mostrar um documento com foto também, como a carteira de identidade. E depois eu conto pra vocês todos os causos interessantes que a gente passa por ser mesária. Pode contar, certo? Não tem sigilo profissional ou coisa do gênero pra mesário, tem?




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