A VIDA SEM CARRO
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A VIDA SEM CARRO


Agora faz cinco meses que voltei ao Brasil, e continuo sem carro. Somado ao mês que passamos a pé quando vendemos o carro, antes da viagem, e mais o ano inteiro em Detroit, já dá um ano e meio sem. Será que eu ainda sei dirigir?
Lá nos EUA, como todo mundo tem carro, o transporte público é bem limitado. Tudo é feito pros carros, nada pro coletivo. Em Detroit, menos de 10% da população anda de ônibus. O meu co-orientador lá insistiu bastante pra que a gente comprasse um carro. Ele dizia que dava pra conseguir um usado por uns 1500 dólares (lá carro é incomparavelmente mais barato), usá-lo durante o ano, e vendê-lo quando fossemos embora. Mas o valor do carro é apenas uma das despesas, e muitas vezes nem é a maior. Só de seguro (obrigatório nos States), sairia uns 100 dólares por mês. E estacionamento? E gasolina? E eventuais consertos? Pelos meus cálculos, se tudo corresse bem (o carro não estragasse, e a gente o vendesse antes de voltar), o preju seria de uns 3000 dólares. Quase um quarto do valor total da minha bolsa iria pra pagar um carro! Sabe quanto gastamos em ônibus durante nosso ano americano? Um total de 400 dólares. Sem dor de cabeça de ter que dirigir na neve e no gelo numa cidade estranha.
E a gente não sentiu falta de carro. Morávamos a poucas quadras da universidade. Só sentíamos necessidade de ir mais longe nos fins de semana, e quando descobrimos dois multiplexes distantes, porém fáceis de chegar (só um ônibus!), este foi o nosso destino pro cinema de toda semana. Claro, talvez tivéssemos saído mais e ido mais longe se contássemos com um carro. Mas, de verdade? Acho que não. Ah, e não posso deixar de enfatizar a maravilha que é ao menos uma parte do casal trabalhar ou estudar pertinho de onde mora. A economia de tempo e dinheiro é algo espetacular. Mesmo tendo que enfrentar neve! (li que um americano gasta, em média, 18% do seu orçamento em transporte. Aqui deve ser parecido, não?).
Quando voltamos ao Brasil, em agosto, nossa idéia era comprar um automóvel. Tínhamos (e temos) no banco os 15 mil reais que conseguimos com a venda do nosso Uno Mille 2003. Mas comecei a questionar a necessidade de termos um carro. No momento, eu fico enfurnada em casa, trabalhando na tese e brincando no blog (tá, mais brincando que trabalhando). O maridão está desempregado; às vezes dá aulas de xadrez pela internet. Aqui no meu bairro tem tudo perto (menos correio e cinema), muito mais e melhor que lá em Detroit. O carro seria usado apenas no final de semana. Até agora estamos gastando, em média, R$ 80 por mês em passagens de ônibus. Quanto gastaríamos com um carro?
Bom, não é difícil responder, já que tenho tudo anotadinho. No primeiro semestre de 2007 (última vez que tivemos carro), gastamos R$ 830 em consertos e IPVA, e mais 850 em gasolina. Um total de 1680 por seis meses, e isso sem considerar o seguro do carro (já pago no ano anterior), ou o valor da compra do carro. Em 2006, foram 1420 entre seguro, IPVA e consertos, e 1700 de gasolina (total 3120). Em 2005, 1510 mais 1600 de gasolina (total 3110). Em 2004, 1010 (o carro era novo, exigiu menos consertos) mais 1500 de gasolina (total 2510). Em 2003, quando trocamos nosso Uno por um Uno 0 km, foram 7950 mais 1200 de gasolina (total 9150). Dividindo esses 3200 que parecem ser a média por 12 meses, dá 265 por mês. Contra os 80 atuais.
Se comprássemos um carro agora, além dos 15,000, gastaríamos uns mil de seguro (antes o nosso seguro era muito mais barato, em torno de 600 por ano, por causa do bônus acumulado), mais uns 450 de taxas, e rezaríamos pra que o carro não precisasse de qualquer conserto. Deixar o dinheiro no banco parece valer muito mais a pena. Os 10% que esses 15,000 rendem ao ano, num fundo de investimento conservador, já cobrem tudo que gastamos com passes de ônibus (algo como 1050 por ano). E essa é a nossa única despesa com transporte no momento.
Vale lembrar que carro não é um investimento, mas um gasto. Quem considera carro um investimento se esquece que ele se desvaloriza a cada ano. Por ser geralmente o bem mais valioso de uma pessoa, depois da casa, ele precisa ser segurado, e seguro é caro (só pra comparar, o seguro que pagamos pela casa é de 270 ao ano, aliás, pra duas casas, a nossa e a da minha mãe, que fica nos fundos).
Eu nunca tive nenhum envolvimento passional com carros. Pra mim sempre foi apenas um meio de transporte. Tudo que quero de um carro é que ele seja pequeno, fácil de estacionar, não dê problemas e gaste o mínimo de gasolina possível. Ah, e nunca gostei de dirigir. Acho que o maridão sente mais falta de um carro do que eu, mas ele é homem, e seres desse sexo são ensinados a ter um relacionamento amoroso com automóveis desde criancinhas. Eu não me lembro de brincar de carrinho na infância, e até hoje me pergunto pra que um carro precisa ter grande potência e velocidade pra andar numa cidade urbana, onde a velocidade máxima permitida geralmente não ultrapassa os 60. Passado um ano e meio, minha vida sem carro continua muito bem, obrigada.

P.S.: E repare que eu nem entrei no argumento ecológico de que valorizar o transporte coletivo e alternativo (bicicleta, caminhar) equivale a valorizar o meio ambiente. Faz uma década que ouço que nos próximos anos carro terá o mesmo status de vilão que hoje tem o cigarro. Será?
P.S.2: Eu nem sabia que existia este site, mas um leitor linkou lá o meu post, e assim o descobri. O título já diz tudo: "Apocalipse Motorizado: Articulações e Reflexões para Superar a Sociedade do Automóvel".




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