A Volta da Geni
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A Volta da Geni


"E é por isso que a cidade
Vive sempre a repetir
Joga pedra na Geni
Joga pedra na Geni
Ela é feita pra apanhar
Ela é boa de cuspir
Ela dá pra qualquer um
Maldita Geni"
Chico Buarque/1977-1978
Para a peça Ópera do malandro, de Chico Buarque

Quando minha amiga foi estuprada, a primeira pergunta feita pelo delegado foi que roupa ela usava na hora do estupro. Como se o fato de estar de micro-saia, nua ou burca mudasse o caráter da violência sofrida.

Lendo e assistindo, estarrecida, esse caso da estudante Geisy, essas memórias dolorosas vieram à tona. A aluna foi julgada e condenada (expulsa da universidade) devido a um vestido. Não quero entrar no mérito se o vestido é curto, transparente, decotado, poderia estar até de biquíni ou nua, nada justificaria ter sido ameaçada na sua integridade física e agredida moralmente através de ofensas verbais.

Se a roupa não estivesse de acordo com as normas (previamente definidas, anunciadas publicamente e acordada entre universidade e alunos), era caso de um representante da universidade notificar a aluna e pedir a sua retirada. Jamais, poderia acontecer o que aconteceu: um grupo de estudantes acéfalos, num ato de histeria coletiva proporcionar o linchamento moral (por pouco não físico) que todos nos assistimos, via internet ou tv. Nada justifica essa atitude. Nem a universidade poderia referendar essa barbaridade, como acabou fazendo, ao anunciar a expulsão da aluna.

O que mais me enoja nessa história toda, e que apenas na internet vi pessoas escrevendo sobre o assunto, (recomendo os post da Jady e Lola) focando no mais importante, que com certeza, não é o vestido que a Geisy usava! Toda a mídia resolveu abordar o assunto, quase como um tom de piada, a Vênus Platinada chegou a ponto de colocar uma comentarista de moda (?) para falar sobre o assunto; na emissora do Bispo, eu ouvi estarrecida, a apresentadora afirmar que a Geisy gostava de provocar os homens!!!! Mesma justificativa, alias, que o advogado da reitoria usou para justificar a expulsão da aluna.

Eu não quero focar no vestido, tampouco no comportamento da Geisy. O que quero saber é como, depois de anos de luta pelos direitos femininos, regredimos a tal ponto, onde o que falamos, vestimos ou fazemos, é propriedade do outro, no caso, o sexo masculino?

Isto é, eu me visto para eles, eu me comporto para eles, eu sou deles e não me pertenço. Sendo assim, cabe a eles (e, pelamordeDeus, quando digo eles, NÂO estou me referindo a todos os seres do sexo oposto, primeiro por que algumas mulheres são tão machistas quanto, segundo por que existem exceções, sou casada com uma exceção, por exemplo), fazerem o que quiserem conosco.

Esse incidente abre um precedente absurdo e fere gravemente os direitos da mulher, principalmente no que abrange a luta contra a violência sofrida por todas nós. A partir do momento onde uma universidade, local de construção do saber, espaço onde se formam opiniões, referenda atitudes agressivas, com a justificativa de que a “aluna provocou” (palavras do advogado da Uniban), nos é dito, em outras palavras, que a roupa que usamos, a forma como nos comportamos, podem justificar atitudes violentas, como por exemplo, o estupro.

E, o pior de tudo, é que acredito, que não foi em defesa da Tradição, Família e Propriedade que a universidade expulsou a aluna. A Uniban utilizou um discurso machista, extremamente retrogrado, para ocultar o verdadeiro motivo da expulsão, que é o financeiro. A reitoria achou que expulsar uma aluna sairia muito mais barato, que enfrentar uma investigação interna, provavelmente, que acarretaria em diversas suspensões, quiçá expulsões ou demissões de dezenas de alunos, funcionários e seguranças.

Na matemática capitalista, um, mesmo que esse um tenha razão, sempre é melhor que muitos prejuízos. Mesmo que para isso, utilizem um discurso retrogrado e extremamente pernicioso, como o que foi utilizado.





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