CASO UNIBAN: TUDO CULPA DOS GAYS E DAS MULHERES
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CASO UNIBAN: TUDO CULPA DOS GAYS E DAS MULHERES


A estudante no dia da confusão, com o vestido que começou tudo.

Embora eu tenha algumas restrições a respeito do post que noticiou todo esse escândalo na Uniban, fico feliz que um blog tenha pautado a grande mídia, porque é muito mais comum o oposto. Demorou (o caso aconteceu no dia 22 de outubro), mas os jornais finalmente foram atrás. A melhor reportagem, a que parece mais detalhada e completa, é esta da Folha, que explica bem o que aconteceu. A moça que foi publicamente humilhada deu várias entrevistas, a mais longa sendo pra este site. E já pipocaram também fotos do vestido da discórdia, que, por favor, é um vestido curto, mas jura que ninguém nunca viu pernas de fora antes? (ontem ela apareceu no Geraldo Brasil, com rosto e nome). Os moralistas continuam argumentando que esses não são trajes para se usar num local de ensino, um templo da sabedoria como é uma universidade (e onde se veem cenas de turba), mas a moça diz que iria se encontrar com o namorado para ir a uma festa após a aula, e já estava vestida a caráter. Mas lógico que, se alguém tivesse se sentido incomodado com o tamanho do vestido da aluna, era só reclamar com a faculdade, que talvez pudesse pedir-lhe para, da próxima vez, usar algo mais longo (e convenhamos, mesmo essa atitude já seria estúpida).
A Uniban parece ter agido da pior forma possível. Não só não conteve o distúrbio, como mandou seguranças à sala onde estava a moça. E a primeira medida dos seguranças foi... reclamar do vestido?! Sério isso? E agora a universidade tenta desesperadamente retirar todos os vídeos do YouTube. Vamos ver o que ela faz com os seguranças e com quem iniciou a bagunça. Não quero que ninguém seja torturado ou mesmo despedido ou expulso, mas seria útil se várias palestras fossem dadas a todos os alunos e funcionários sobre machismo, homofobia, e o perigoso comportamento das turbas. Se a faculdade interrompesse por algumas horas sua grade de “preparar pro mercado de trabalho” e abrisse espaço para discussões em cada turma sobre o que aconteceu. Inclusive, sobre a imagem da universidade. Sabe, usar um ambiente universitário pra se ensinar alguma coisa? É pedir demais?
Assim que a notícia chegou aos grandes jornais, apareceram também os comentaristas dos grandes jornais. Que em muitos sentidos não são diferentes de comentaristas de blogs (não os deste blog, que realmente tem sorte com os comentários que recebe). Não resisto e preciso registrar aqui os comentários de leitores do Estadão, que aproveitam qualquer episódio (acidente de avião, marido que mata mulher etc) pra expressar sua indignação com os rumos deste país—leia-se, o governo Lula. Esse é o fio condutor por trás desses comentários. Mas outra constante é a tentativa de livrar a cara, no melhor estilo “É, o Brasil vai mal e essa é a cara do Brasil, mas o Brasil não somos nós!”. Eu coloco alguns comentários em itálico, tudo sic, e comento em seguida.
- “Ela perdeu a dignidade no momento em que se vestiu de mini-saia”. Ouviram, mulheres? Todas nós que já usamos minissaia em algum momento da vida perdemos a dignidade. Nossa honra se foi e não volta mais. Notem também como isso exclui os homens, já que homem não usa minissaia. Só os travestis, que obviamente não têm dignidade, segundo esse pessoal.
- “Eu acho essa atitude de reprimir esse tipo de vestimentas só pode vim de homossexuais, que não gostam do outro sexo. O certo era apoia essa garota, e as outras também usa esse tipo de roupa, por que elas são mais sensuais e bem vinda para os heterossexais.” Essa é uma forma ideal pra não sentir culpa: homem hétero não faz nada de errado! Todos que xingaram a moça eram ou mulheres ou gays. E que é isso de gay não gostar de mulher? Não querer transar conosco é sinônimo de não gostar da gente? Putz, pra alguns homens héteros, é. E meninas, vamos todas usar roupas curtas porque os homens aprovam, e vivemos em função deles. Quer dizer, pelo jeito nem todos os homens aprovam, né? Assim a gente fica confusa.
- “Só tem bruaca e boiola na Uniban.” Misoginia e homofobia caminhando juntos mais uma vez. As mulheres que abrem a boca para reclamar de qualquer coisa são barangas e mal-amadas. Os homens, todos gays. Os homens héteros são meros observadores desses dois grupos bárbaros! E é bem desse jeito que vamos combater o preconceito: ofendendo todo mundo.
- “É o que dá estudar na UNIBAN. Lá é quase uma escola pública de periferia. E o pessoal (Não todos! Que fique bem claro isso. Mas é a maioria.) se comporta de acordo com o meio em que está acostumado a viver.” Não, este não é um comentário elitista, imagina. Só diz que quem é pobre se comporta como animal. Mas não todos, que fique claro!
- “Vêm pra Brasília loirinha. Aqui tem muita faculdade de turismo. Aqui as gatas andam roupa curta e todo mundo gosta! A água é limpa e o céu é lindo! haha. E vocês, UNIBAMBIS, se não gostam de mulher... manda pra gente! Faculdade de Frouxos! Aqui nós temos respeito pelas mulheres e sabemos como agradá-las!” Dá pra imaginar o respeito que eles têm pelas mulheres... Deve ser o mesmo que têm por outras minorias, como os gays.
- “É fácil observar na vida que ninguém toma pedrada sem merecimento. [...] Uma pessoa de 20 anos que sairia da Faculdade trajada com mini-vestido para ir a uma festa após as 0:00, com certeza não é COITADA. SABEMOS MUITO BEM O QUE ROLA NESSAS FESTAS!” Ahá! Esse sabe tudo! O que será que rola nessas festas?! Sexo, drogas, orgias, música alta, ambiente esfumaçado? Como pode uma menina de 20 anos querer ir a uma festa?! Onde esse mundo vai parar, meu deus?
Leia mais sobre o caso aqui.




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