Abra sua mente, francês também é gente
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Abra sua mente, francês também é gente


Ha umas semanas, uma amiga de João Pessoa me escreveu dizendo que uma amiga sua viria estudar em Lyon em 2011 e que, portanto, ela passaria meu contato pra que eu pudesse tirar eventuais duvidas que sua amiga pudesse ter sobre Lyon. Uma das preocupações vistas nos emails da moça, foi em relação à ma fama do humor do francês. Entre outras coisas, ela disse que não vem com expectativas de fazer amizade com franceses e que vai tentar se controlar pois é uma pessoa que gosta muito de abraço. Diante de um desabafo desses, achei que eu poderia escrever diretamente no blog sobre o assunto afim de (tentar) apagar algumas lendas sobre o povo dessa terra.

(Meio que repetindo o que eu ja disse aqui).

Quando falam que o francês é frio, eu entendo, mas não concordo. Porque frieza pra mim tem algo a ver com "indiferença", com "falta de entusiasmo", com "desinteresse". E essas são palavras que eu não consigo relacionar às pessoas que conheci aqui. Palavras que pra mim são mais apropriadas pra descrever o francpes são reserva e discrição.

Eu tava conversando com Camilo sobre esse assunto na quinta-feira passada, porque acho que ele é a pessoa mais apropriada pra se falar sobre o assunto: morou no Brasil e na França. Eu comentei com ele que, quando você chega num bar num Brasil, você conversa com o desconhecido da sua mesa como se fosse seu melhor amigo. Pergunta sem travamentos sobre coisas pessoais da vida da criatura e essa pessoa te responde sem maior desconforto. Eu sinto que, no Brasil, a amiga da escola vai virar amiga de infância na primeira semana de amizade. E aqui, meus amigos, não é assim. Dai, chega o brasileiro, com sua referência cultural, esperando que as pessoas sejam tão festeiras quanto ele. Caso não caiba na formula, sentenciam logo: francês é frio.

Lembro de um professor que eu tive na universidade dizer que, quando ele chegou na Paraiba, vindo do Sul, ficou chocado quando um homem que ele não conhecia, se meteu na conversa que ele estava tendo com um amigo dentro do ônibus. Pra mim, isso era a coisa mais normal do mundo, até eu chegar na França e observar que as pessoas não fazem esse tipo de coisa. "O brasileiro é metido", Camilo disse. Pra mim, o brasileiro é tão metido quanto o francês é frio: é uma questão de ponto de vista. Cada um com sua referência.

Ano passado morei com uma figura da qual Camilo gostava muito, Pierre. Comemoramos o aniversario de Camilo uma noite e, no dia seguinte, la estava eu, ressacada, varrendo as tampinhas de garrafa que estavam pela casa. De repente, noto a presença de uma pessoa se balançando na minha frente. Quando levanto a vista do chão, vejo Pierre dançando. Detalhe: completamente nu. Comecei a gargalhar e dai ele correu em direção à cozinha e foi abraçar Camilo. Isso parece ser atitude de uma pessoa fria pra você?

Quando voltei de uma viagem ao Brasil, em março, uma das meninas que moram comigo me perguntou se eu havia gostado, se sentia ainda muita saudade. Eu disse que sentia, pelo contrario, que minha vida fazia mais sentido na França, que era aqui que eu me sentia mais confortavel. Ela disse que ficou muito feliz de ouvir isso, largou o que tava fazendo e veio me dar um abraço. Não sei, mas atitudes como essas não me fazem ter uma ma idéia do francês.

Outra: semana passada fomos a um restaurante que adoramos. Nas ultimas quatro vezes, fomos atendidos por uma garçonete que tinha acabado de ser contratada. Ela sempre foi muito simpatica. Quando viu que eu era estrangeira, explicou com detalhes como os pratos eram feitos. E ela vem sempre a nossa mesa perguntar como a comida estah. Na penultima vez, sentou na nossa mesa e começou a papear (velho, não lembro disse ter acontecido no Brasil, jamais). E, na ultima vez, ela me chamou pelo nome. Como ela sabe meu nome? Eu não sei, mas ela sabe. Depois comentei que tinha ido à Prefeitura pela manhã e ela, "desculpa, eu não quero ser indiscreta, mas o que você foi fazer la?". Simpatica e educada: me ganha.

Mas vamos la. Leitor, pense por um minuto:

- No Brasil, você ja foi mal entendido numa loja?
- Você conhece alguém mal humorado?
- Você tem uma vizinha prestativa?
- Seu medico é legal?

Tenho certeza que, pra todas essas perguntas, houve um "sim" e um "não". Aqui, acredite, o francês faz festa, da gargalhadas, tem mal humor, tem amigos proximos, chora quando estah triste, é educado, é ignorante e... Opa, tah notando alguma semelhança com o brasileiro? Pois é, francês não é bicho papão. Se fosse, eu não estaria casada com um.




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