Geral
Minha casa é como coração de mãe. De mãe Joana.
Quando perguntam com quantas pessoas eu moro, eu sempre fico em duvida. Eu deveria responder que são nove (semana passada, eramos dez), mas existem os squatteurs. Originalmente, squatteur é aquele sem-teto que se apropria de um imovel vago. O termo foi ganhando outro significado e hoje é usado pra definir aquela pessoa que passa um tempo na sua casa na condição de "visita permanente". Ou pelo menos essa é a definição que melhor cabe à situação de mi casa. E adivinha quem é o mais novo squateur da casa? Pepe. Sim, aquele mesmo Pepe que vomitou meu quarto, gastou meu perfume e ensebou o meu chão de oleo. Ele vai morar o proximo mês com a gente. Semana passada, finalmente, ele veio aqui em casa pra visitar Diana. Eu tava ansiosa pra saber o que ele tinha pra dizer, mas tive que me contentar com um "não lembro de nada". Massa. Ja escondi todo o estoque de oleo da casa.
Como se não bastasse os squatteurs, ainda temos as visitas-curtas (que são chatas, mas nem tanto). Chegou em nossa casa, essa semana, uma doida, irmã do amigo de uma das meninas da casa (Sonia), que eu tou batizando de Rainha do Desconforto. A menina viu Camilo cozinhando pra oito pessoas e perguntou "você não acha que colocou tomate demais não?" Camilo disse que ia perguntar, "e você quer comer hoje?". Antes disso, eu tava imitando pra Sonia o meu andar torto depois de uma caminhada pesada nesse fim de semana. Aih a doida observa meu andar e pergunta: "você tah GRA-VI-DA?"
(...)
- Gravida do teu pai, porra.
Ok, eu não disse isso. Mas tive vontade de xingar. Sobretudo quando ela perguntou se no Brasil faz tanto calor quanto estava fazendo na França. Senhoras e senhores, essa frase pode parecer inocente pra vocês, mas por tras de toda carinha meiga e curiosa que me faz essa pergunta, se esconde um francês que acha que o sol daqui queima mais que o sol do meu pais. Não, minha senhora! Meu sol é mais bonito! Ele brilha mais! E da mais câncer de pele! Mas enfim, quando perguntam se o sol é mais forte aqui, eu respondo: "Pessoa, você ja foi à Palmas? Não? Então: dizem que o Diabo se inspirou naquilo pra criar o Inferno". Eu também não digo isso. Fica mais pro "lah eu suo tomando banho".
Depois do jantar atomatado, Camilo preparou as coisas dele pra viajar. Comentamos esses e outros atos bizarros da menina quando confessei: "assim que tu sair, eu vou fechar a porta pra doida não me alugar". Nem preciso dizer o que aconteceu, né? A menina apareceu à porta aberta com um "toc toc" rapido e ja foi entrando. Dai ficou parada no meio do quarto, olhando pra minha cara, sentou na minha cama e nem falou a que veio! Vou sair um pouco do assunto do post e explicar porque uma atitude dessas, que pra vocês pode ser muito comum/aceitavel, é mal vista aqui.
Quando dizem que francês é chato, eu entendo, mas prefiro descrever o francês como um ser discreto e reservado. Alias, muito discreto e reservado. Aqui, dificilmente (pra não dizer "nunca"), você vai ver um francês puxando assunto na fila do banco, fazendo perguntas pessoais (mesmo que ele conheça você), te tocando enquanto fala. Eles também não curtem abraços. No começo, estranhei tudo isso, mas agora ja aprendi que a forma de saudar alguém aqui não é abrindo os braços, é dando dois beijinhos.
- No aniversario de Camilo, somente eu e a mexicana o abraçamos. O melhor amigo dele apertou a mão do menino;
- Ha um mês, eu tava conversando com a namorada de um cara que mora com a gente e perguntei qual foi a ocasião em que eles se conheceram. Ela olhou pra mim espantada e disse "mas isso é uma pergunta muito pessoal!" e não-res-pon-deu. Pessoa doida, eu não perguntei como foi a primeira noite de amor de vocês. A menos que ela tivesse conhecido o cara numa orgia, eu entenderia tanto pudor (bom, uma pessoa que participa de orgias não iria se espantar com uma pergunta dessas);
- Toda vez que Sonia vem falar comigo, ela fica na porta do quarto, pergunta se esta me incomodando e soh depois entra. Não entendo tanta formalidade. Mas é assim mesmo nas conversas cotidianas: perguntas pessoais são geralmente evitadas. Por isso que eu gostei logo de cara de Diana: a primeira conversa que tivemos foi sobre nosso ciclo menstrual.
Então, entendam que quando essa menina critica a forma de Camilo cozinhar, quando ela entra no meu quarto sem permissão, isso me choca. Mas graças ao céus, existem franceses e franceses. Assunto do proximo post!
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