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ADEUS, FARRAH
Quinta-feira não foi um bom dia pras pessoas famosas. Além das mortes do Michael Jackson e da Farrah Fawcett, circulou um boato que Jeff Goldblum (A Mosca, Invasores de Corpos, Jurrassic Park) teria caído na sua casa e morrido também. Felizmente, ainda não foi dessa vez. Mas então, não recomendo a ninguém bater as botas no mesmo dia da morte de um dos maiores ídolos pop de todos os tempos. Porque aí a gente nem acaba falando da Farrah, que foi outro ídolo pop, só que muito tempo atrás. Quem não viveu o final dos anos 70 provavelmente nem sabe. Mas lembra como a Jennifer Aniston influenciou o penteado da mulherada durante toda a década de 90? (cientificamente provado: a estrela de Friends moldou a cabeça das mulheres por dez anos. Perguntem no cabeleireiro!). A Farrah fez isso no final dos anos 70 e início dos 80. Todo mundo queria ter a vasta cabeleira loira, em camadas, da Farrah. Infelizmente, todo mundo mesmo: até quem nasce com cabelo negro e crespo num mundo que só reconhece como bonito cabelo fino e amarelo (a Daniela escreveu um ótimo post a respeito do que é ser negra num mundo desses. Está concorrendo ao concurso de blogueiras. Vote, se você ainda não votou, por favor!).O poster da Farrah dividia as paredes dos quartos adolescentes com o de Guerra nas Estrelas. Certo, não o meu quarto, que eu era uma garotinha prafrentex (acho), e sabia que eu e a Farrah não tínhamos o mesmo DNA. Eu nem lembro de ter posters no quarto. Mas havia um de uma moça sorridente, puros dentes brancos mesmo, segurando uma Coca-Cola. O poster todo era vermelho, e só aparecia o queixo pra baixo da modelo, e não sei porquê, aquilo era meu referencial (talvez por isso, anos depois, quando fui ler O Cobrador e sua obsessão por dentes, fiquei tão fascinada). Imagino que eu não era tão prafrentex assim pra entender que refrigerante cheio de açúcar e dentes saudáveis não combinam (se bem que nunca fui fã de refrigerante mesmo). Mas o que eu mais observava na Farrah eram os dentes, o sorriso. Em algumas fotos era o sorriso-referência-perfeita que todos deviam ter. Mas, em outras, eu até ficava um tiquinho traumatizada. Porque parecia um sorriso tão forçado, tão artificial! Era bem o sorriso de quem estava sendo obrigada a sorrir mesmo quando não quisesse. Um grande sorriso amarelo no meio daqueles dentes hiper brancos. Na época, eu gostava das Panteras também. Suponho que ver três jovens e lindas mulheres atirando e lutando fazia bem pro meu feminismo. Eu gostaria de acreditar que já naqueles tempos eu desconfiava que o único motivo d'elas existirem era que elas eram jovens e lindas, e que elas tinham dono: as “anjas do Charlie”, no título original. Tenho quase certeza que eu considerava um tanto ultrajante que elas largassem tudo que estivessem fazendo para atender o patrão. E que ainda tinham que atender um telefone sorrindo, e rir das piadinhas machistas do cara! Eca. No entanto, depois que a Farrah saiu e foi substituída pela Cheryl Ladd, a série caiu muito (se isso fosse possível). Não concorda com a minha interpretação? Veja o piloto!Farrah vai logicamente sempre ser lembrada como uma pantera. Em 77 ela disse numa entrevista, “Quando a série era número 3 no ibope, eu pensei que era por causa da nossa atuação. Quando subiu ao primeiro posto, decidi que era porque nenhuma de nós usava sutiã”. Iuhuu, acabei de descobrir que tem um filme pra TV de 2004 chamado Behind the Camera: The Unauthorized Story of Charlie's Angels, que conta a história mórbida da série, quando Farrah ainda era Farrah Fawcett-Majors (sobrenome do então marido Lee Majors, o Homem de Seis Milhões de Dólares. O que é a inflação, né? Toda vez que eu penso no título tenho que checar pra ver se é milhões ou bilhões, porque milhões parece gorjeta do Bill Gates hoje em dia). Mas eu lembro da Farrah fazendo papeis mais dramáticos e controversos, como em Extremities e The Burning Bed, em meados da década de 80. No primeiro ela interpretava uma vítima que matava seu estuprador. Era teatro filmado, mas ainda assim chocante e interessante. No segundo, ela fazia uma vítima de violência doméstica. Ano passado, eu vi pela primeira (e única) vez a trágica comédia do Michael Sarne, Myra Breckinridge, e fiquei surpresa ao ver a Farrah lá, tão novinha. Pra mim, contou pontos em seu favor que ela tenha aceitado aquele papel de moça acéfala (como é descrita por outros personagens).Na vida real, seu grande amor foi mesmo Ryan O'Neal, que foi um dos grandes astros dos anos 70 (Love Story, Lua de Papel, e o belíssimo Barry Lyndon, do Kubrick). Eles nunca se casaram, mas tiveram um relacionamento (turbulento, por causa do vício em drogas do Ryan) durante 27 anos, de 1982 até... quinta. O pobre Ryan foi forçado a repetir na vida real seu papel de Love Story, em que ele se apaixona por uma bela mulher que morre de câncer. Farrah tinha apenas 62 anos, e combatia seu câncer (retal) desde 2006. Recentemente, ela lançou um documentário, feito com câmera caseira, narrando sua luta. Pois é. Aí eu fico fula quando ouço pessoas dizerem que a Dilma tem que largar o governo, esquecer sua candidatura e, enfim, parar de viver, pra lutar contra o seu câncer. Talvez algumas pessoas achem que o melhor jeito de se combater um câncer é justamente exercendo outras atividades?..O documentário de Farrah, Farrah's Story, foi um enorme sucesso, com 9 milhões de espectadores nos EUA. Mas, claro, tem gente que acha que câncer (e outras doenças) devem ser escondidas, varridas pra debaixo do tapete, como se não atingissem tantas pessoas. Tenho grande admiração por Farrah por ela não ter feito isso. Além do mais, pra uma estrela que foi alçada à fama por sua beleza, deve ser ainda pior ter que conviver com uma doença que mexe tanto com a aparência. Bom, Farrah, se vale alguma coisa: eu sempre gostei de ti.
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