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CRÍTICA: AS PANTERAS / O ronronar dos dólares
Eu me lembro pouco da série de TV dos anos 70 As Panteras. Lembro do ícone Farrah Fawcett e de seu poster, do logotipo do programa e de como, em todo episódio, as destemidas detetives tiravam um capacete, um chapéu, uma máscara, qualquer coisa que cobrisse aqueles frágeis neurônios, e jogavam os cabelos de um lado pro outro, em câmera lenta. Talvez eu tenha mudado, ficado menos ingênua, ou talvez os tempos tenham se tornado mais cínicos. A verdade é que, na época, a história de um milionário que convoca três moças para defendê-lo à distância não me causou o mal-estar do filme recém-lançado. As Panteras é uma bomba de efeito retardado. Por baixo do barulho do ronronar dos dólares, vamos analisar os aspectos mercadológicos. Uma produção lucrativa atualmente tem de atrair, antes de tudo, meninos cuja média de idade é 9 anos. Então deve haver muita ação, explosões, rachas, luta livre, pancada, mais porrada, e diálogos que não disturbem o transe. Mas é bom se o filme convoca também as garotas. As Panteras coloca nas telas as moças que aparecem em toda santa capa de revista que elas compram. É um chamariz. As meninas sentem-se obrigadas a ir pra aprender o que elas têm de ser quando crescer: no mínimo 20 kg abaixo do peso normal, altas, bronzeadas, vaidosas, maquiadas, arrumadas e sempre prontas pros seus homens. Os produtores não são tolos, e pra abreviar a identificação, unem corpo de mulher a comportamento de criança. As panteras dão risadinhas sem motivo, são saltitantes como pré-adolescentes. Umas gracinhas. Dizem ser necessário usar mais músculos faciais pra fazer uma careta do que pra abrir um sorriso. Neste sentido, pude notar que a interpretação da Drew Barrymore exigiu mais do que a da Cameron Diaz. Mas, nos releases, a gente tem que ler as heroínas falando que sofreram para aprender os truques de caratê, que foram cinco meses de treinamento militar. Ó vida dura! Fiquei comovida. Quero sugerir aqui o início da campanha "Adote uma Estrela Estressada". Nas entrevistas à imprensa (que não sei se são mais detestáveis que o filme – a competição é árdua), o diretor-sigla McG diz que considerou inúmeras atrizes pros papéis. Entre elas, a Gisele Bündchen. Aí eu pensei: ué, a Gisele é atriz? Bastou ver o filme para que minhas dúvidas se dissipassem. Não saber atuar não é empecilho. Interpretar pra quê, se a edição é tão picotada que o rosto das moças mal aparece? Só de vez em quando surge um close de milésimos de segundo. O resto é dublê.
Para que as panteras finjam ser inteligentes, critérios comparativos são utilizados. Todos os homens do filme possuem QI negativo de ostra, sem querer ofender as ostras. Outro ponto mastigado nas declarações é que as estrelas juntaram-se ao projeto por seu caráter feminista (?). E que elas fincaram o pé para não usarem armas. Claro, como a gente sabe, sem metralhadora não há violência, imagina. Sem falar na violência hollywoodiana típica: vê-se um belo castelo no alto da praia. Neste exato momento, sabemos que é só uma questão de tempo pra tudo voar pelos ares. São os americanos e seu desejo de conhecer novas culturas – e destruí-las. O treinador das lutas marciais é o mesmo mestre fu-manchu de Matrix. Logo, minha sugestão é: reveja Matrix, que ao menos continha uma convicção subversiva de que tudo isso (incluindo esses filminhos acéfalos) é uma fantasia que nos impede de ver a realidade. E a realidade é que somos escravos de um sistema. Não sou eu que estou falando, é Matrix. Porém, As Panteras também tem uma mensagem pra passar, e não é só aquela de cunho machista. Há o código capachista. As heroínas sonham em olhar pro patrão. Elas se matam de trabalhar, não têm vida pessoal, nunca recebem salário, jamais reclamam, greve nem pensar, e amam um chefe que não mexe uma palha por elas e que nem pra lhes dar ordens se dispõe a encará-las. Entendo que o lema "labutar pro patrão enricar" seja a tônica do capitalismo, mas acho que podiam trocar o título do filme para "As Pamonhas", sem detrimento do conteúdo.
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