As manifestações e a economia - MARCELO MITERHOF
Geral

As manifestações e a economia - MARCELO MITERHOF


FOLHA DE SP - 27/06

O problema é que o Brasil não é rico o bastante para que seja possível prover os serviços públicos desejados


As manifestações que tomaram conta do país partiram de uma reivindicação concreta, a revogação de reajustes nas tarifas de ônibus, para ecoar insatisfações amplas.

Ainda assim, elas podem ser resumidas na exigência de um Estado de bem-estar social mais bem acabado, com educação e saúde de qualidade etc.

Havia também reclamações contra a carga tributária, a inflação e a corrupção. Ao que parece, há um entendimento de que o combate à corrupção liberaria recursos para atender a todas as demandas e ainda reduzir os impostos e a inflação.

A corrupção é perniciosa e piora o atendimento à população. Ela precisa ser cotidianamente combatida. No entanto, não tem o poder de resolver todas as mazelas do país.

Um discurso anticorrupção muito geral é regressivo e paralisante, pois estabelece prejulgamentos e falsas dicotomias, dificultando o enfrentamento dos problemas. Tentei tratar disso na coluna "Corrupção?", de 01/11/2012.

Mas o tema de hoje é outro. Mesmo difusas, as reivindicações mostram que os avanços dos últimos anos estão longe de ser suficientes.

É verdade que tais avanços não se limitaram ao crescimento econômico e ao consumo massivo. Por exemplo, de 2001 a 2011, cresceram os gastos em relação ao PIB com educação (de 4,8% para 6,1%) e saúde (de 3,2% para 3,8%), o que se reflete na melhora de vários indicadores, como o aumento do percentual de adultos com o ensino médio completo e a queda da mortalidade infantil.

O problema é que o Brasil não é rico o bastante para que seja possível prover os serviços públicos desejados. É preciso retomar o crescimento para dobrar a renda per capita em 15 anos ou 20 anos, atingindo o piso dos países avançados.

Isso não quer dizer que os desejos vindos das ruas são insensatos. Pelo contrário, a ampliação do Estado de bem-estar social, além da melhoria direta dos serviços públicos, gera uma demanda autônoma por parte do Estado, que induz crescimento pelo efeito multiplicador da renda.

Essa elevação do gasto público também reduz as despesas familiares com os serviços essenciais, elevando os salários reais e distribuindo a renda. Por exemplo, a redução das tarifas do transporte público alivia o orçamento dos mais pobres.

Esse processo é poderoso porque eleva a propensão ao consumo. Afinal, seria estranho que alguém que ganha pouco --e não tem acesso integral ao padrão básico de consumo moderno-- poupe parte dos aumentos reais que obtém.

Há um círculo virtuoso: acelerar a melhora do Estado de bem-estar social favorece o crescimento, que, por sua vez, cria as condições para que os serviços públicos possam seguir melhorando.

Porém essa estratégia mexe com o equilíbrio de políticas estabelecido pelo atual governo na economia.

A sua grande aposta foi acelerar a redução dos juros rumo ao padrão global. Tal iniciativa é crucial para a normalização das condições de crédito no Brasil. Mas o impacto imediato no crescimento é limitado: o investimento é condicionado principalmente pelas perspectivas da demanda, e não pelo custo do dinheiro.

No campo fiscal, a ação do governo envolveu desonerações tributárias para favorecer a produção nacional em relação à externa.

Essas desonerações atenderam a antigas reivindicações empresariais pela redução do custo de produzir no Brasil. Houve ainda o ganho associado à desvalorização cambial, que torna os preços das mercadorias brasileiras menores em dólar.

Ainda assim, o crescimento não foi retomado. As margens de lucro puderam se recompor, mas isso não gera demanda, que é o vetor do investimento privado.

A questão em jogo é que o fortalecimento do Estado de bem-estar social disputa recursos fiscais com essa "agenda da competitividade", cujo montante previsto de desonerações para 2013 é de R$ 70 bilhões.

A demanda por mais serviços públicos também pressiona a geração de superavit primários, cuja meta para este ano supera R$ 100 bilhões. Com uma dívida pública líquida de apenas 35% do PIB, o fim do superavit primário não é um problema. Entretanto, superá-lo exige romper com a sabedoria econômica ortodoxa, que continua sugerindo mais austeridade.

Esses são dois conflitos políticos que precisarão ser enfrentados para atender ao chamado das ruas.




- Carga Tributária, Centralização E Serviços Públicos - MaÍlson Da NÓbrega
REVISTA VEJA Nos últimos 25 anos, a carga tributária saltou de 22,2% para 36,3% do PIB, e por isso há tempos se demanda uma reforma para reduzi-la. Tem aumentado a sensação de piora dos serviços públicos, o que justifica a demanda cm favor de...

- Política Econômica: Três Escolhas Possíveis - Cristiano Romero
VALOR ECONÔMICO - 19/02 Passados quase três anos da nova matriz macroeconômica , é possível observar os objetivos que nortearam as decisões do governo. Decididamente, o que se buscou foi estimular a economia via consumo, com a ideia de que isso...

- Em Busca Da Felicidade - Luciano Nakabashi
GAZETA DO POVO - PR - 02/10 Nós, economistas, somos obcecados por desvendar os fatores fundamentais na determinação do crescimento e desenvolvimento econômico. A razão para isso é que esse campo de pesquisa analisa o comportamento do ser humano...

- Vocação Para O Crescimento - Marcelo Miterhof
FOLHA DE SP - 15/08 Crescimento, inclusão social e industrialização são faces de uma mesma vocação que o Brasil precisa atender Gosto da palavra "vocação". Em sua acepção mais usual, quer dizer "ser talhado para algo". Mas sua etimologia indica...

- A Oportunidade Do Câmbio - Marcelo Miterhof
FOLHA DE SP - 11/07 A depreciação traz ganhos a longo prazo; efeito deletério, a inflação será mitigada com corte em tarifas de transporte O dólar tem sido cotado acima de R$ 2,20, valor que parece se consolidar como o novo nível referencial....



Geral








.