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BEIJING NO OMBRO
Lolinha em frente ao Cubo Aquático em Pequim (clique p/ampliar)
Como vocês sabem, entre os dias 4 e 25 de julho estive na China, numa viagem inesquecível patrocinada pelo Santander Universidades para 24 professores e 76 alunos de universidades brasileiras.
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Eu e alunxs queridos em lanchonete próxima à Muralha da China |
Este é um (outro) email que enviei pro maridão no dia 11 de julho, com esse título mesmo, que ele achou infame. O email é longo, mas vamos ver se eu consigo encontrar várias fotos que me mandaram pra ilustrá-lo.
Oi, minha paixão! Muitas saudades! Ontem não escrevi porque fiquei com preguiça. Nem acessei a internet.
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Júlio (UFRPE), Heverson (Unifor) e eu |
Anteontem tivemos uma excelente aula de um professor brasileiro, o Júlio, da UFRPE, sobre carnaval e manifestações artísticas do nordeste. Foi muito boa mesmo, ele misturou bem teoria e prática, incluiu vários vídeos curtinhos, chamou seus dois alunos (ele teve sorte do casal de alunos saber dançar) pra dançar forró na frente da turma, e esse casal por sua vez conseguiu chamar um casal de alunos chineses pra aprender a dançar, e todo mundo adorou.
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Minha palestra na PKU |
Eu fiquei na dúvida se também deveria incluir alguns vídeos na minha apresentação (que sera amanha), mas acho que não sei fazer isso, então... Ai, amor, e se minha aula for uma droga? [Não foi, foi super elogiada!]
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Um dos campi da PKU |
Anteontem teve a segunda aula de um professor chinês, também excelente. Foi sobre direito na China. Eles parecem ter poucos advogados por aqui, cerca de 300 mil. Prum país tão gigantesco e com 1,4 bi de pessoas, é bem pouquinho.
Também anteontem, depois das aulas, fomos ao show acrobático. Era longe... Mas valeu muitíssimo a pena. É incrível tudo que eles fazem. Coisas realmente perigosas, arriscadas, sem rede de proteção. Fico feliz que ninguém morreu, porque eu não me sentiria bem se alguém morresse pro meu entretenimento. E era uma equipe enorme. Sabe aquilo das motos correndo dentro de um globo? Então, acabaram entrando oito motos. Qualquer errinho e morre todo mundo lá dentro.
As dez moças que se equilibraram em cima de uma bicicleta em movimento também iriam se machucar bastante se caíssem, mas sobreviveriam. O carinha que subia e descia degraus altíssimos com uma só mão não teria a mesma sorte, acho eu.
Só sei que fiquei a apresentação inteira de boca aberta, aplaudindo e gritando, implorando: “Não! Não! Por favor, não façam isso!”.
Depois do show uma turma decidiu ir pra não sei onde. Só sei que ficava muito longe, mais de 4 quilômetros, e o pessoal queria ir andando. Andamos 1,5 km e aí finalmente imperou a voz da razão e pegamos o metrô. Foi minha primeira viagem de metrô na China. É muito bom. Lotado, é claro, mas tudo bem sinalizado e bilíngue. E limpo.
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Eu e alguns professores no jantar num barco |
Ah, foi interessante porque dois chineses, Bella e V. (seus nomes ocidentais) nos acompanharam nesse passeio todo. Todo mundo quer sair com alunos chineses pra não se perder. E porque eles são super amáveis. E porque na hora de se comunicar (pedir comida, por exemplo), eles quebram um galhão. Bom, Bella e V. estiveram com a gente em Shanghai e, como eles constantemente andam juntos, todo mundo pensava que eram um casal de namorados.
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Eu tentando imitar (sem sucesso) o gesto da está- tua num museu |
No começo da nossa longa caminhada Bella não estava junto, então perguntei pro V. porque sua namorada não veio. Ele respondeu que ele não tem namorada e que, na verdade, “he's kind of gay” [ele é meio gay]. Aí eu quis saber, como assim, “kind of”? E ele explicou que nunca tinha ficado com um cara, apesar de se sentir atraído por homens. Falamos um pouco sobre homossexualidade na China. Não existe nenhuma medida punitiva, mas é bastante tabu, segundo ele. Ele disse que muitos gays e lésbicas contam pros seus pais e são aceitos, mas há os que insistem em casamentos de aparência.
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Eu e Pablo no Lama Temple |
Quando a gente estava perto do nosso destino final, senti uma poluição horrorosa. Comecei a tossir forte (estou com muita tosse esses dias, acho que foi a chuva que peguei em Shaghai, aliada à poluição), e coloquei a máscara que uma professora tinha me dado. Não sei se ajuda muito, mas fiquei com a máscara quase o tempo todo por lá. Eu me senti um ET. Ah, apareceu num telão a Dilma se reunindo com um monte de políticos chineses. A gente ficou com a impressão que ela estava na China. Depois falaram que ela estava na Rússia.
E chegamos ao grande mercado. É aquele lugar que turistas vão para experimentar comidas nojentas que eles consideram típicas mas que os chineses não comem de jeito nenhum, tipo espetinho de escorpião. Além de ser caro pra caramba (25 yuans cada espetinho, ou 13 reais), é cruel. Antes de ser grelhado, o espetinho fica exposto, com vários escorpiões vivos, empalados, se mexendo, tentando fugir. Um aluno brasileiro comeu, outros experimentaram uma ou outra patinha, e todos tiraram muitas fotos.
Tinha também churrasco grego, panquecas, algo parecido com pinhão, e espetinhos que parecem maçãs do amor, mas com frutinhas muito menores que eu não quis provar.
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Eu e turminha amada numa lanchonete na PKU |
E um monte de tendinhas cheias de bugigangas. Acabei comprando mais um monte de coisinha que não preciso, tendo que negociar daquele jeito chinfrim. Os chineses gostam muito do meu dinheiro, amor.
O final da noite foi anticlimático, com um péssimo lanche no KFC [Kentucky Fried Chicken]. É que dois dos alunos brasileiros presentes nunca tinham estado fora do Brasil e portanto nunca tinham comido fast food de frango frito. Tadinho, um deles vai passar um ano estudando no Arizona assim que voltar da China e não sabe que vai se enjoar de KFC e afins por lá.
Comida chinesa é muito melhor!
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No estádio olímpico de Pequim |
Ontem de manhã teve um evento meio lúdico, meio de atividade física, num dos gramados da universidade (que não tem 2,7 hectares, como te falei; li em outro folheto que são 270 hectares, ou 2,7 mil quilômetros quadrados de campus). Foi divertido. Aprendemos noções básicas de Tai chi Chuan e tivemos que escrever alguns símbolos em chinês com uma caneta gigante. Eu fui a única professora que participei.
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Fê, eu e Luã na cerimô- nia de encerramento |
Ontem à tarde, depois de almoçar numa das cantinas da universidade (almôndegas de porco com arroz, muito bom) e trocar mais cem dólares (acho que serão os últimos que trocarei, paixão, ou seja, gastarei uns 400 dólares no total; o consenso por aqui entre os brasileiros é que não compensa comprar eletroeletrônicos, que estão com um preço parecido com o do Brasil; os que estão mais baratos são falsificações), passei a tarde sem fazer nada. Teve um pessoalzinho que me chamou pra ir ao Summer Palace (ex-palácio do imperador), mas eu preferi não ir. Minhas pernas estão cansadas de tanto andar. Ontem meus pés doíam!
Às 17:30 (aqui se almoça e se janta muito cedo, as cantinas da faculdade fecham às 18:30) nós professores nos reunimos em frente ao prédio 1 (estamos no 9, aqui anda-se muito pra ir a qualquer lugar) para sermos conduzidos a um restaurante no campus, longe pra caramba. E lá foi a Lolinha com seus pés exaustos andar mais um montão.
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Professores na embaixada do Brasil na China |
Foi um jantar de confraternização. Havia alguns (poucos) professores chineses (a maioria está de férias agora). Um deles, que atua na linha de Brazilian Studies, fala português muito bem, passou um ano e meio na UnB e trabalha com literatura comparada. Fiz pra ele a sua pergunta -– se os chineses sabem do poder e da importância que têm -– e ele respondeu sorrindo que sim. “É o nosso marketing,” disse ele.
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Pablito e eu na Muralha da China |
Ele também disse que a China continua sendo um país comunista, mas só politicamente. Na economia, como sabemos, é capitalista. No campo político, o Partido Comunista daqui tem 87 milhões de membros filiados. Mais que a população total de vários países.
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Rindo ao ter que posar com estátua na PKU |
Também conversei com uma professora chinesa e comparamos a situação das mulheres em cada um dos BRICS. Chegamos à conclusão que é pior na Índia. A situação da Rússia também é bastante ruim, pelo que li, inclusive com perseguição política a grupos feministas. E a África do Sul detém o recorde mundial de estupros (com atenção especial ao estupro corretivo de lésbicas). E partes mais distantes da China ainda cometem abortos e infanticídios de meninas. Ou seja, EM COMPARAÇÃO, o Brasil parece não estar tão mal. Essa professora se declarou feminista e disse que estará na minha palestra amanhã. (E sabe que vergonha, amor? Eu não trouxe cartão de visita pra entregar! É verdade o que tinha ouvido: eles entregam o cartão com as duas mãos).
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No Museu de Planejamento Urbano, ainda em Shanghai |
Uma executiva do Santander, uma chinesa que mora em Madrid mas visita a China cinco vezes por ano, disse ter a impressão que em países comunistas como a China havia menos desigualdade entre homens e mulheres, pelo menos no mercado de trabalho e no pagamento de salários. Eu disse que várias alunas chinesas contaram ter menos oportunidades de trabalho que seus colegas homens, e ela achou estranho, porque na filial do Santander em Pequim só tem mulheres, segundo ela: “they're all ladies”.
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Com alunxs fofos na saída da Cidade Proibida |
Foi um jantar muito bom, naqueles restaurantes com mesa giratória e cheia de pratos. O pato estava excelente. Pato é gostoso, se a gente abstrair e não pensar no pobre bichinho.
Agora estou aqui, domingo de manhã (acordei às 6), escrevendo este email gigantesco pra você. Vou tirar a manhã pra responder emails, coisa que não faço há dias. |
Melhor não comentar. Pablo me força a fazer essas poses. Foi no Lama Temple, e eu me senti no Caçadores da Arca Perdida |
Talvez fazer um post pro blog pra amanhã. Hoje depois do almoço vamos sair. Mas tenho que revisar minha palestra de amanhã. O chocolate aqui não é bom, minha paixão.
Queria que você estivesse aqui comigo.
Te amo, meu lindo!
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