BONS COMERCIAIS DE CERVEJA, ACREDITE SE QUISER
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BONS COMERCIAIS DE CERVEJA, ACREDITE SE QUISER



Meu feriado da última terça seria dedicado a acabar de escrever a minha tese e começar dois outros artigos, mas não rendeu, infelizmente. A culpa foi de vocês, queridas leitoras(es). A Talita recomendou o comercial da cerveja Carlton Draught (acima). Vender cerveja sem ser machista já é incrível, a julgar pelos exemplares do gênero, e este anúncio é muito fofo, bem-feito e divertido, batendo na tecla do “É um comercial grande e caro / este comercial precisa vender muita cerveja”. Minha única reclamação é quanto à ausência de mulheres e negros. Só tem homem branco no vídeo. Mulheres e negros não bebem cerveja não? Ok, como a marca é australiana, realmente o há muitos negros por lá. Afinal, os homens brancos que lá se instalaram se encarregaram de matar quase todos os aborígenes (e eu nunca tinha parado pra pensar nisso até ver uma palestra na UFSC de um doutorando brasileiro que estudou na Austrália, mas aborígenes são, sim, considerados negros). Mas e mulheres, também não tem na Austrália? Tudo bem, eu até posso entender essa ausência feminina no comercial se me concentrar na repetição da palavra big e huge (grande, enorme) que faz uma associação (que pra mim parece óbvia) com uma obssessão masculina, o tamanho do pênis. Enfim, gosto do comercial: ele vende o produto (dá vontade de beber alguma coisa - no meu caso, água - depois de ver toda aquela gente se mexendo), faz graça da indústria publicitária, e de bônus ainda faz rir. Isso sem desrespeitar nenhuma minoria. Viu como é possível?

Também não vi nenhum problema com este outro comercial da mesma marca, uma paródia à clássica cena de Flashdance. Ele não inova muito (é fácil colocar um cara gordinho de collant imitando os movimentos da Jennifer Beals, ou da dublê da Jen, como ficou provado), mas arranca sorrisos de quem conhece o filme. E não é ofensivo, é? Pra mim só ficou faltando a assoadinha básica do jurado resfriado. É papo de quem foi adolescente nos anos 80, não se preocupe.

Aí, dando uma olhada, encontrei este bom comercial da Guinness. A marca irlandesa costuma produzir anúncios preconceituosos, mas este eu gostei. Ele cutuca a direita cristã americana (que crê no criacionismo) e é bacana, principalmente por causa do slogan no final, “Boas coisas surgem para aqueles que esperam” (tradução horrível, eu sei. É que “Good things come to those who wait” é comum na língua inglesa, e não sei se tem equivalente em português. A Patricia está certa: sugeriu "Quem espera sempre alcança"). Minha queixa refere-se ao fato de comerciais de cerveja raramente incluirem negros. E aí, quando é pra mostrar um que fala de evolução, colocam um negro? Não é um pouco racista? Bom, pelo menos mostra que todos os humanos, independentes da raça, vêm do mesmo vermezinho. Ou pelo menos os homens (desculpe, não resisti).

De todo modo, esses comerciais mais inteligentes e bem bolados são uma brisa de ar fresc
o perto dos clichezões do gênero. Uma outra leitora (não encontrei o comentário dela!) recomendou o comercial da cerveja Cintra como um suprassumo do machismo. Realmente, dá pra discordar? Uma loira de bíquini entra muda e sai calada de um bar à beira da praia, enquanto seu corpo é minuciosamente observado por todos os homens do local (pra que mais uma mulher iria servir, mesmo? É um bom exemplo do male gaze, o olhar masculino). Quando ela se agacha pra pegar uma cerveja (enquanto homem que é homem não se agacha nem pra pegar sabonete, certo?), o garçom conta pra galera qual é a tatuagem da loira: “Tô dentro”. Que parece ser mais um grito de guerra dos carinhas do que da moça, né? Tá dentro do quê, muié? Aquela comunidade do bar te exclui como pessoa e só te aceita como símbolo sexual. Aí a gente passa os olhos pelos comentários do YouTube (tá, sei que esses comentários deveriam ser evitados a todo custo) e vê esta pérola: “toda mulher brasileira tinha que ser igual a essa loira”. Desconfio que o leitor fascistóide não se referia apenas à forma física e à “claridade” da modelo, mas também a subserviência, ao silêncio, ao gosto que ela tem de cumprir sua única função na vida - ser apreciada sem moderação.
E então, os comerciais de cerveja que você anda vendo ultimamente estão mais pro lado criativo e não-discriminatório ou pro lado estúpido, velho e batido do “bunda de loira vende”? Ou esta pergunta em si já é uma ofensa a sua inteligência?




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