Brasil: estagnação pacífica? - VINICIUS TORRES FREIRE
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Brasil: estagnação pacífica? - VINICIUS TORRES FREIRE


FOLHA DE SP - 20/11

Como a rã da lenda, país pode relaxar no caldo que esquenta até que seja tarde para pular fora


É TEMERÁRIO dizer que a situação social e política do Brasil é pacífica, dadas as manifestações de junho e as pipocas e marolas de protestos que se seguiram. É muito menos arriscado dizer que a economia cozinha num banho-maria de mediocridade.

Nos quatro anos de Dilma Rousseff, dificilmente a renda (PIB) per capita terá crescido algo mais de 1% ao ano. Atire pedras quem não quiser chamar tal desempenho de estagnação.

No entanto, o mau humor protestante deste ano não parece devido ao sentimento de piora da situação econômica individual, nem havia reivindicações de melhorias especificamente econômicas. O povo mais pobre e os manifestantes parecem em paz com a quase-estagnação.

Afinal, mesmo sob Dilma a renda média cresce mais do que a economia (embora ainda pareça esquisito. A gente pode dizer pelo menos que a renda do trabalho cresce mais). O desemprego é o mais baixo da história conhecida, assim como as transferências de renda para os mais pobres são as maiores. Etc.

Sim, a vida dos pobres ainda é em si mesma um horror. Mas trata-se aqui de melhoras e pioras, de variação do nível de satisfação com as condições econômicas individuais. Dados os votos do governo entre a massa pobre, majoritária, o nível de tolerância parece alto.

Isto posto, ainda assim, a economia cresce muito pouco. Até quando seria possível viver nesse estado de mediocridade regular, de estagnação pacífica?

Posto de outro modo: 1) Por quanto tempo a economia pode viver em quase-estagnação, sem degringolar em crise? 2) Até quando a quase-estagnação pode sustentar as condições que, por ora, fazem com que a economia não suscite ira social?

A gente está cansada de ouvir que o "modelo" petista se esgotou, seja lá qual for, se é que havia um. Mas o que se esgotou? Os meios de promover crescimento econômico (bem provável) ou os de distribuir analgésicos socioeconômicos?

Quanto ao crescimento da economia, parece que estamos encalacrados se não houver alguma mudança, a qual surtiria efeito lá por 2015-2016. Isso para remediar a situação. A alternativa melhor, mudar o patamar de crescimento, dependeria de mexidas política e eleitoralmente arriscadas.

Mas o "modelo" é social e politicamente durável? Isto é, tal como a rã da lenda científica, poderemos cozinhar sem perceber num caldo que esquenta devagar e sempre, até que seja tarde demais para pular fora? Num caldo de inflação manipulada em torno de 6%, com a situação do emprego piorando muito devagarinho (como agora), remendando a situação social com transferências para os mais pobres (que ainda custam pouco) etc.?

Talvez esse "modelo" ainda não se tenha esgotado. Melhoramos tanto (dado o horror habitual) que talvez nos inclinemos a relaxar no caldo quente. De onde viria mudança, no petismo ou com a oposição, que, aliás, se pela de mexer no "modelo" dos últimos dez anos?

Pode ser que os humores esquentem entre os 20% mais ricos. Pode ser apenas que o grosso da população, de fato irado com alguma coisa outra que não bem a economia, tenha represando seu mudancismo secreto por falta de opções (nomes e ideias). Sabe-se lá. Talvez saibamos na eleição.




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